(none) || (none)

Continue lendo os seus conte�dos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e seguran�a do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/m�s. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas COLUNA

A �ltima folhinha verde

Que o frio do inverno que vem com a hist�ria de longe nos convide a olhar para dentro


14/02/2021 04:00 - atualizado 26/02/2021 11:27

 
Certa vez, recebi de uma contadora de hist�rias de Belo Horizonte uma folhinha verde. Antes, ela havia contado uma historinha singela, que era mais ou menos assim: o pr�ncipe Danilo estava de cama, muito doente, com pneumonia. Por�m, mais forte do que a doen�a que lhe consumia os pulm�es era o profundo des�nimo que lhe afetava a alma.

O pr�ncipe Danilo havia desistido de viver. Sua filha vinha v�-lo todos os dias e tentava anim�-lo.
 
Relembrando-lhe suas viagens, suas casas no campo e seus atos de bravura durante as v�rias guerras em que combateu. Mas ele n�o reagia, havia perdido o el� vital. Passava os dias inteiros na cama, olhando para a janela � sua frente e observando uma grande �rvore que ia lentamente perdendo suas folhas, porque o outono havia chegado. Uma manh�, quando sua filha tentava anim�-lo, o pr�ncipe Danilo disse:

– Sabe, filha, quando aquela �rvore perder a �ltima de sua folha, ter� chegado a minha hora de morrer.

A mo�a imediatamente reagiu:

– Que � isso, pai. Que tolice! Por que amarrar o seu destino ao destino de uma �rvore? Por que ficar inventando coisas que o fazem sofrer?

Mas o pai n�o a ouviu, t�o absorvido em sua melancolia. A filha ent�o compreendeu que existem momentos em que as palavras ficam muito pobres e n�o d�o mais conta de acender uma luzinha no cora��o das pessoas. Resolveu agir. Assim que seu pai adormeceu a mo�a entrou no quarto com um pincel e um potinho de tinta verde. Subiu em um banquinho e pintou no vidro da janela, bem no rumo da �rvore que seu pai olhava, uma folhinha verde.

� medida que o outono ia avan�ando e o inverno tomava o seu lugar, as folhas da �rvore desprenderam-se todas e sa�ram dan�ando ao vento. O pr�ncipe observava cuidadosamente todos os movimentos. Observava, especialmente, uma certa folhinha verde muito persistente e tenaz, que n�o se movia do lugar e ficava agarrada � �rvore. N�o importando qu�o forte fosse o vento, qu�o inclemente fosse a chuva. At� que a neve chegou e cobriu a �rvore com um manto branco.

Mas, de sua cama, o pr�ncipe Danilo havia atado o fio da sua vida �quela folhinha verde e continuava olhando-a fixamente. Foi assim que, agarrado � folhinha verde, o pr�ncipe conseguiu atravessar o inverno de sua doen�a e o inverno de sua alma. Quando a primavera chegou, muitas folhas cobriram a �rvore e a folhinha t�o observada se perdeu entre elas. O pr�ncipe reencontrou o seu �nimo, ficou de p�, voltou a ter sonhos e saiu do quarto para a frente do pal�cio. Enquanto limpava com �gua a folhinha pintada na janela, a filha do pr�ncipe refletiu:

– Espero que, algum dia, se o des�nimo tomar conta do meu ser, algu�m consiga me oferecer uma folhinha verde, para que eu possa receber, atrav�s dela, a seiva da vida.

Pois foi assim que veio do hemisf�rio norte a mensagem da contadora de hist�ria de Belo Horizonte. Uma li��o que mistura doen�a do pulm�o com a tentativa de filhos que fazem os pais se curarem, mistura o outono com a transforma��o de luares em colheitas e auroras, afasta as trevas e os espinhos dos dias e espalha uma doce fragr�ncia nos quartos.

Que o frio do inverno que vem com a hist�ria de longe nos convide a olhar para dentro nesta �poca de pandemia e nos ajude a encontrar estrelas em nossos pr�prios c�us. Que vivamos o tempo que vai sem pressa nas horas e nos deixe ir contando os pecados no sil�ncio das noites, aproveitando o recolhimento. Ap�s as noites de solid�o e dor na alma, chega entre n�s a primavera. Acredite. Vai passar e as cores h�o de nos animar. Com f�, os tempos trazem novos milagres. Que a folhinha verde esteja sempre ao nosso alcance para que no dia em que percebermos algu�m com des�nimo no cora��o, sem a alegria de viver, possamos oferecer-lhe por meio da singela folhinha verde a alegria da seiva da vida.

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)