Sauda��o vinda dos s�culos

Em 1744, o compositor alem�o protestante Johann Sebastian Bach n�o podia imaginar que mais de um s�culo depois seu prel�dio nº 1 em D� Maior do Livro 1 de “O Cravo Bem-Temperado” (cole��o de m�sica para cravo solo) serviria de base para o Ave-Maria, do franc�s Charles Gounod.

Pois Gounod apenas adicionou um compasso de modo a suavizar a mudan�a r�pida da harmonia de Bach e um ano depois a vers�o instrumental se transformava em can��o com as palavras do poeta Alphonse de Lamartine. Mais um tempo e viria a letra em latim. Do centro comercial e cultural de Leipzig, na Alemanha, para a fervilhante Paris – assim veio vindo a Ave-Maria.

Nenhum dos compositores podia imaginar que um dia a m�sica seria a atra��o de um casamento mineiro, improvisado por causa da pandemia, ao p� da serra, com uma porteira enfeitada de flores para receber os poucos convidados, na pequena capela da fazenda, ao lado de um lago com peixes dourados e bicos de papagaios vermelhos o ano inteiro. Quando a prima da noiva entoou o Ave-Maria, no entardecer do in�cio de julho, os convidados se encantaram: era o ponto alto da festa.

 
Hoje, existem diferentes arranjos instrumentais para a m�sica, entre eles, para violino e viol�o, quarteto de cordas, piano solo, violoncelo, cavaquinho e at� trombone. Grandes cantores j� a interpretaram, como Maria Callas, Jos� Carreras, Andrea Bocelli e Luciano Pavarotti.

Sem falar na outra Ave-Maria, composta pelo austr�aco Franz Schubert como parte de sete can��es tiradas de um poema �pico. As palavras de abertura e o refr�o podem ter levado � ideia de adaptar a melodia de Schubert como cen�rio para o texto completo da ora��o em latim.

Bach, Gounod e Schubert podiam n�o saber, mas entre o d�, o r� e o mi, entre os sustenidos e os bem�is que colocavam em suas pautas musicais, l� j� estavam louvores � m�e de Jesus. “Ave Maria, Ave! Maria. Gratia Plena. Maria Gratia Plena. Ave, ave dominus tecum.” Nos palcos do mundo – em uma fazendinha de Minas ou no La Scala de Mil�o – quando se canta o Ave-Maria, o artista se emociona e o local se enche de gra�a.

A sauda��o do anjo Gabriel ecoa atrav�s dos s�culos, tiradas das Sagradas Escrituras e, portanto, composta por Deus: “Ave, cheia de gra�a, o Senhor � contigo”.

Nesse domingo da Assun��o de Nossa Senhora, quando “foi completado o curso de sua vida terrena”, como saudar Maria? S�o Pedro Dami�o disse que � justo sempre cantar Maria. “Mas como poder� a palavra mortal, passageira e transit�ria, exaltar aquela que deu a luz � Palavra que fica?” Como poderemos, � n�s, mostrar nosso amor com palavras que passam e o tempo leva?

O m�s de agosto est� cheio das gra�as que v�m do c�u. Desde que a doce menina nasceu na simplicidade de Nazar�, sempre foi ligada �s flores, seja nas manifesta��es de fi�is mundo afora, como nas artes, pintura, literatura, arquitetura e nas representa��es de Madona com guirlandas de flores.

Temos outras formas de homenagear Maria que s�o tradicionais em muitos pa�ses. Acredita-se que as ervas colhidas em agosto s�o as mais potentes, por isso muitas igrejas tradicionalmente realizam uma “b�n��o das ervas” neste dia. Na Pol�nia, o dia era conhecido historicamente como a Festa de Nossa Senhora das Ervas, e os poloneses na Am�rica do Norte deram continuidade � tradi��o de uma nova maneira, homenageando Nossa Senhora das Flores.

Na It�lia, os fi�is costumam seguir uma imagem de Nossa Senhora em prociss�o pelas ruas at� a igreja. Siena � conhecida por seu “Palio di Siena”, uma corrida de cavalos na pra�a p�blica da cidade. Os participantes e muitos frequentadores vestem trajes medievais.

Da Ave-Maria, dos compositores, das tradicionais formas de homenagear a m�e de Jesus, hoje � dia de servir. Ir ao po�o de Jac� para de l� trazer a �gua fresca que vai aliviar o calor do meio-dia. Amassar alguns p�es para lhe oferecer com ch� de alecrim ap�s as ora��es da tarde. Ir � sua frente abrindo o caminho para passar com Jesus e Jos� na fuga para o Egito. Hoje � dia de acender a luz interior de cada um que tem f�.