
Tenho ouvido com frequ�ncia sons de crian�as perto de minha casa e sei reconhecer quem os produz. Uma amiga tem uma afilhada que imagino ter hoje uns 9 anos de idade. Ainda bem pequena se mudou para outro estado, para a terra natal da m�e, pois os pais se separaram. Como a separa��o n�o foi amig�vel, todos sa�ram achando que estavam perdendo muito, o que de fato acaba acontecendo.
Entrar em acordo sobre com quem fica a guarda dos filhos � sempre muito traum�tico, principalmente quando tanto m�e quanto pai fazem quest�o de tomar a frente da educa��o e do conv�vio di�rio com eles. Nesse tipo de caso, onde mais de mil quil�metros separam a casa do pai da casa da m�e, a guarda compartilhada de forma igual tanto para um quanto para outro fica bem mais dif�cil.
Depois de muita disputa, decidiu-se que o melhor era a crian�a ficar com a m�e, mas o pai a recebe aqui durante fins de semana e feriados prolongados, se n�o estou enganada, num intervalo de tr�s em tr�s semanas. A m�e a coloca no avi�o l� e o pai a recebe c�.
At� que, no in�cio de mar�o, o que para uns foi coincid�ncia para outros obra do destino, a menina estava em BH numa de suas costumeiras e esperadas visitas ao pai. Estourou a pandemia, junto com a ela a necessidade de isolamento, e por aqui a menina acabou ficando. Pegar um avi�o era arriscado, �nibus nem pensar, e o tempo necess�rio para o deslocamento de carro se mostrou invi�vel tanto para a m�e quanto para o pai.
At� hoje, a m�e, de longe, acompanha os passos da filha, que tamb�m faz quest�o de mant�-la atualizada sobre tudo o que lhe acontece, assim como a quantas andam suas fantasias. A m�e chegou a dizer que viria busc�-la, o pai chegou a prometer que logo que pudesse iria lev�-la, e por in�meras raz�es, que lhes s�o pessoais, desde que aprendera a andar a menina nunca passou tanto tempo na companhia paterna.
� interessante como o tempo trata de ajeitar as coisas. O pai gastou muito contratando um escrit�rio especializado em direito de fam�lia, mas n�o houve juiz que encontrasse sentido em deixar a filha a cargo dele. Passaram-se alguns anos e a pr�pria vida fez com que a decis�o judicial fosse ultrapassada, mesmo que por apenas uns meses.
Durante a pandemia, muitas pessoas se separaram e outras tantas se reuniram por for�a da conting�ncia. Eu mesma n�o vejo meus dois filhos desde 5 de janeiro deste ano. Mas, como consolo, ouvimos hist�rias felizes de outras pessoas, como a de um guarda florestal que me contou que a quarentena ajudou a reintegrar sua fam�lia.
Ele n�o sabe ao certo se por medo da morte ou se por terem ca�do na real sobre o quanto temos a perder remoendo m�goas, seus tios decidiram se encontrar em territ�rio neutro para uma conversa que era para ter acontecido h� mais de 20 anos. Chorou-se muito, muito foi falado e remexido. Ao fim e ao cabo, concluiu-se o �bvio, mas dif�cil de encarar, que todos tinham raz�o ao mesmo tempo em que todos tinham culpa. J� que todos somos iguais, por que ent�o n�o esquecermos os maus ditos e viver em paz?
