
A empres�ria Ana Gutierrez tinha tudo para curtir a vida na tranquilidade, mas ao contr�rio do que todos esperavam, abriu m�o da estabilidade na empresa da fam�lia e foi atr�s do seu sonho de abrir um neg�cio seu, e conseguir sucesso com muito trabalho e dedica��o. Quebrou paradigmas no que diz respeito a academias de gin�stica, mudando o conceito de malhar para ter um corpo sarado para exercitar o f�sico em busca de sa�de e qualidade de vida. A abertura da academia virou case de sucesso. Hoje, al�m de possuir quatro unidades no estado, se tornou s�cia e acionista da holding BodyTech no Brasil. N�o abre m�o de tempo de qualidade com a fam�lia e tem como hobby o prazer em viajar, seja apenas com o marido, Dhiego, e a filha Maria, ou com o grande grupo de amigos que tem.
Em que voc� se formou e como foi o in�cio da sua vida profissional?
Formei-me em administra��o, na PUC Minas. Comecei como estagi�ria e depois fui contratada na Andrade Gutierrez. Passei por todas as �reas da empresa, fui para obra, participei da constru��o da ponte Rio-Niter�i, atuei na �rea de concess�es e depois fui para Novos Neg�cios.
O que a levou a sair da empresa da fam�lia e partir para carreira solo?
Em uma empresa familiar, temos que provar o tempo todo que temos compet�ncia. Se trabalhamos bem, n�o fazemos mais que nossa obriga��o; se somos reconhecidos, ningu�m d� valor porque acham que � por ser da fam�lia. Queria al�ar um voo solo, fazer a minha vida profissional, independente.
Voc� n�o precisava trabalhar, � herdeira pelos dois lados. Quando decidiu abrir a empresa tinha apenas 24 anos. Por que come�ar um neg�cio t�o nova?
Essa fala � o que mais escutei em toda a minha vida. Como disse, queria trilhar o meu caminho, independentemente de tudo. Era um sonho, e queria realiz�-lo. N�o conseguiria levar a vida sem produzir alguma coisa. O exemplo dos meus pais sempre foi o de muito trabalho.
Por que escolheu abrir uma academia?
Sempre fui uma apaixonada por atividade f�sica. Fiz bal� quase a vida toda. A Vit�ria Faria, segunda mulher do meu pai, tinha uma escola de bal� e t�nhamos um grupo de dan�a que era quase profissional. Eu amava. Participei tamb�m de um grupo de apresenta��o de aer�bica. Certo dia, um grande amigo, dono de uma academia menor, me chamou para ser s�cia dele, mas n�o era aquele formato que eu queria. Disse que se ele topasse, poder�amos abrir um grande academia. Ele aceitou e fizemos sociedade. Infelizmente, por raz�es pessoais, logo no in�cio do projeto ele saiu.
E voc� decidiu tocar o projeto sozinha?
Realmente, eu era muito nova, 24 anos, mas j� tinha fechado contrato de aluguel com o im�vel da Savassi, onde era a Irm�os Nasser. O pr�dio � muito grande, o contrato muito caro. Ou eu continuava, ou abandonava, mas j� tinha muita coisa em andamento. Decidi dar continuidade. Fui para S�o Paulo fazer contato com bancos e com a F�rmula, uma academia muito grande que tinha l�. Foi uma luta, mas consegui o financiamento. Minha m�e deu todo o suporte de que eu precisava, n�o o financeiro, mas de apoio e ajuda em outras �reas.
Ela nunca achou que voc� estava louca de encarar sozinha tudo isso?
Claro, me chamou de doida e louca muitas vezes. Por sinal, era o que eu mais escutava de todo mundo. Meus amigos diziam que eu estava arrumando sarna pra co�ar. Mas eu estava t�o apaixonada com o projeto, t�o envolvida que queria fazer acontecer. Foi muita luta, uma guerra, mas consegui. O projeto ficou lindo, fiz um Bussines Plan t�o completo que tinha at� o pre�o das plantas ornamentais. Era rec�m-formada e conseguiu fazer uma planilha t�o completa e bem-estruturada que o pessoal do banco ficou impressionado.
Quanto tempo de estudo, planejamento, obra e implanta��o?
Foram tr�s anos. Quando inauguramos eu estava com 27 anos.
Quando inaugurou voc� suspirou aliviada por ter conseguido?
N�o, esse suspiro s� aconteceu depois de uns quatro meses. Era franqueada da F�rmula, a academia era muito grande, estava linda, mas enquanto n�o vi tudo funcionando certinho, n�o consegui relaxar. O suspiro virou choro.
Por qu�?
Tivemos uma procura imensa, na primeira semana j� estava com 1,5 mil alunos, chegamos a 1,8 mil em 10 dias. Tivemos que fechar as matr�culas porque estava uma loucura. Acabava xampu, condicionador, a luz ca�a. O estacionamento n�o cabia o volume de carros. Tive um grande problema com a BHTrans por causa do engarrafamento que dava na porta. Disseram que eu tinha que ter avisado com anteced�ncia para fazerem mudan�a do tr�nsito na regi�o. Mas como eu poderia imaginar que fosse ter esse boom de pessoas? Era uma responsabilidade imensa. Recebia muitos elogios e muitas cr�ticas. Passei noites ajoelhada com a minha santinha.
Quando reabriu as matr�culas?
Foi uma loucura. Tinha uma caderneta de lista de espera, lotada de nomes. A abertura da academia virou case nacional, nunca havia tido algo parecido em nenhuma outra unidade no pa�s.
O que voc� acha que levou a ter toda essa demanda?
Acredito que foi um conjunto de fatores. Al�m de eu ter um c�rculo de relacionamentos muito grande, quebrei tabus na �rea fitness, porque n�o queria vender corpo, abri um centro de sa�de e qualidade de vida. O conceito n�o era o fitness, mas o wellness. E abri uma academia linda, impec�vel, mas n�o vendia uma estrutura, mas uma equipe, que tinha sido escolhida a dedo, com alta qualidade de entrega.
Voc� n�o teve concorr�ncia
Tinha a Rio Sport Center, no Ponteio Lar Shopping, mas ela n�o era concorr�ncia. Talvez as pequenas academias. A locadora Blockbuster foi engolida pelas pequenas locadoras de bairro, as academias pequenas poderiam fazer o mesmo comigo. Mas a grande concorr�ncia eram as boates, os restaurantes, fui atr�s de um p�blico que consumia tudo isso diariamente, gastava o dinheiro nesse lazer. Muita gente me disse que eu tinha esvaziado as academias. Sempre respondi dizendo que n�o esvazei nenhuma academia, eu enchi a minha.
Quantas reformas voc� fez desde que abriu?
Duas grandes reformas. Uma quando ainda era F�rmula e outra quando mudamos para Bodytech.
Quando e por que a mudan�a?
Foi em 2008, porque a Bodytech comprou a F�rmula.
Hoje voc� � s�cia do grupo. Como foi isso?
Em 2011, fui chamada para ser s�cia local e acionista da holding no Brasil, e aceitei. Na �poca da mudan�a do nome eu estava construindo a F�rmula no Belvedere. Foram tr�s anos de obras. Inauguramos em julho de 2013 e em dezembro do mesmo ano inaugurei a unidade de Nova Lima, no Serena Mall. As tr�s unidades estavam bombando quando, em mar�o de 2019, abrimos a do Ponteio.
Como enfrentaram a pandemia?
Foi um per�odo dific�limo, ficamos quase um ano fechados, porque quando autorizavam abrir, rapidamente fechavam de novo. As academias estavam no �ltimo n�vel de exig�ncia m�xima para abrir, junto com os bares e restaurantes. Chorei muitas vezes no per�odo em que est�vamos de portas fechadas, mas conseguimos, com muito respeito e responsabilidade, segurar as pontas. Devolvemos em dia todos os planos que t�nhamos vendido, sem preju�zo para os alunos, n�o rescindimos nenhum contrato com nossos profissionais e conseguimos um apoio dos alunos, porque est�vamos revertendo em cr�dito de dias para quando reabrisse. Conseguimos segurar a onda com muito respeito e ganhamos credibilidade. Aceitamos correr o risco financeiro, fizemos acordos com nossos lojistas e parceiros.
Como foi o retorno dos alunos, depois que puderam abrir?
Como eram muitas exig�ncias e cumprimos todas elas, nos destacamos e os alunos se sentiram seguros em voltar. O percentual de aus�ncias foi muito pequeno.
O que representou para voc� o fechamento da Cia Athl�tica em BH?
Foi uma not�cia muito triste para o mercado. Tinha na Cia Athl�tica um player, era um grande parceiro. Eram corretos, profissionais. Al�m de perder esse parceiro, perdi um grande amigo no setor, porque sou muito amiga do Eduardo Guarani. Belo Horizonte perdeu uma grande empresa. Era uma concorr�ncia saud�vel, sadia.
Muitos alunos de l� migraram para a BT?
Vieram muitos alunos pela qualidade da nossa academia, e absorvemos tamb�m muitos profissionais de l�, de alto n�vel e compet�ncia. Trabalhamos para que tanto os alunos quanto os profissionais se sentissem acolhidos.
Como voc� concilia trabalho em quatro unidades e fam�lia?
Quando transformamos em BT, tive um grande al�vio na opera��o, minha gest�o passou a ser mais estrat�gica e com isso consigo me dedicar mais � fam�lia. At� antes de a Maria nascer, 90% do meu tempo era para o trabalho. Hoje, est� 50%-50%. Com a maturidade adquirimos mais equil�brio, e com o novo sistema operacional, isso ficou poss�vel. Hoje delego mais coisas para a minha equipe, que � muito boa. Al�m das quatro unidades, somos respons�veis pela opera��o da academia do The Falls. S� l� s�o mil alunos.
Quantos alunos voc�s t�m hoje?
S�o 7 mil em Minas Gerais, incluindo a turma do The Falls. Falo no estado porque uma das unidades � em Nova Lima. No Brasil, s�o 120 mil alunos, espalhados nas 106 unidades.
Personal trainner � fundamental para conseguir um bom resultado?
Personal � um luxo e traz benef�cios, mas uma boa academia, com uma ficha bem-feita e uma equipe que faz um acompanhamento tamb�m alcan�a um resultado muito bom.