(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas hist�ria de BH

Passeando pela avenida Afonso Pena

Nos anos 50, a Avenida Afonso Pena era uma vers�o mineira da Avenida Champs Elys�es, de Paris. L� estavam todas as butiques e lojas importantes da cidade


20/12/2020 04:00 - atualizado 18/12/2020 17:05

Hamilton Gangana
 
Edificio Sulacap(foto: Arquivo /em)
Edificio Sulacap (foto: Arquivo /em)
 

At� o in�cio dos anos 70, era um charme caminhar ao longo da Avenida Afonso Pena, que exibia aquele belo cart�o-postal de uma jovem e exuberante cidade-jardim, a nossa Belo Horizonte. O tr�nsito ainda era bem controlado e viv�amos um n�vel avan�ado de progresso: pr�dios arrojados, com�rcio diversificado, lojas atraentes, com amplas e bem cuidadas vitrines, v�rios cinemas, caf�s e leiterias, hot�is, empresas de ponta, os bancos, consult�rios e, tamb�m, muita gente bonita e elegante transitando pra l� e pra c�. Infelizmente, hoje, a nossa elogiada Afonso Pena n�o representa nem uma sombra do que foi. Ela ficou simplesmente triste e �rida, polu�da, suja e malcuidada. Uma feiura de dar d�. 
 
Casa Sibéria(foto: Arquivo /em)
Casa Sib�ria (foto: Arquivo /em)
 
 
Agora, a nossa avenida de refer�ncia, no Centro, � um corredor de carros particulares e coletivos, todos apressados e barulhentos, tentando alcan�ar os sinais de tr�nsito da “onda verde”. Nas cal�adas, que cham�vamos de passeios, uns gatos pingados circulam se misturando com as andan�as de pessoas desocupadas e vendedores de quinquilharias por todo lado, �s vezes mal-encarados.
 
Edifício Acaiaca(foto: Arquivo /em)
Edif�cio Acaiaca (foto: Arquivo /em)
 
 
Lembro-me de que, ainda nos bons tempos, estacionei o meu fusquinha 66, azul calcinha, placa 2-9682, na maior tranquilidade, em frente � Secretaria de Agricultura, na Pra�a Rio Branco, numa tarde de brisa suave e sa� caminhando.

Plant�o Noturno O r�dio tocava uma intrigante novidade: o Samba de uma nota s�, de Tom Jobim, com voz e viol�o de um tal Jo�o Gilberto. Olhei ao redor e vi a torre da PRI 3 – R�dio Inconfid�ncia, na ent�o Feira de Amostras, a matriz da longeva – desde 1906 – Drogaria Araujo (a que inventou o corajoso Plant�o Noturno 24 horas) e o delivery de medicamentos, em 1963, primeiro fazendo as entregas com bicicletas, trocadas por fuscas no lan�amento do Drogatel, depois substitu�dos por motos, mais r�pidas; a loja A Brochado & Cia, o Armaz�m do Grilo (conhecido camel� que virou empres�rio), e aquela placa luminosa no alto do pr�dio-sede da Minas- Brasil Seguros. Continuei andando por debaixo de �rvores generosas, entre vistosos e grandes carros de aluguel, tentando fugir das inevit�veis “amintinhas”, que invadiram e tomaram conta das �rvores frondosas e as condenaram � morte. 
 
Cine Brasil(foto: Arquivo /em)
Cine Brasil (foto: Arquivo /em)
 
 
Em compensa��o, caminhava e ouvia a algazarra dos pardais, dos camel�s e as vozes repetitivas de cambistas gritando ao mesmo tempo – “Olha o macaco”; “Olha a cobra” ; “Vaca, galo e porco”; “Olha o viado” –, sem esquecer o boneco, tipo perna de pau, com roupas largas de chita barata e megafone � m�o, a servi�o promocional de A Cristaleira e Casa Isnard. E quem n�o passou pelo Centro de BH daquela �poca e foi cercado por uma cigana bonita, cabelos lisos, saias rodadas e longas, supercoloridas, unhas enormes, cheia de an�is e argolas, que se oferecia para ler a nossa m�o e tirar a sorte?
 
Enquanto dou vaz�o � minha mem�ria, v�o surgindo alguns apelos publicit�rios e frases conhecidas dos “reclames” divulgados pelo r�dio: “ De dia e de noite, siga direto, Drogaria Araujo”. “Quem bate?- � o friiiio. N�o adianta bater/Nas Casas Pernambucanas”... “Guanabara – Com um cart�o de cr�dito, veste-se toda a fam�lia”; “Sortes grandes? Campe�o da Avenida”; “Se bem n�o escreveu, n�o foi Abreu quem vendeu”; “O Abdala � fogo na roupa...”; “Duas gotas/Dois minutos/Dois olhos claros e bonitos!”.“Casa do R�dio – A que mais vende televis�o”; ”Sobrado dos Cal�ados – Mais economia em cada degrau”; “Banco Financial da Produ��o – Paga mais juros e oferece mais garantias”... “Voc� ainda era crian�a e Gi�como j� vendia e pagava sortes grandes”. “Vidros para sua casa, com perfei��o e arte? Vidrarte!”; “Quem bebe Grapete/ repete Grapete”... ; “Regulador Xavier, um, dois...”; “Use e abuse dos Caramelos Buse”. “Tosse, bronquite, rouquid�o? Xarope S�o Jo�o”. “Se a crian�a acordou/ Dorme, dorme, menina/Tudo calmo ficou/Mam�e tem Auriscedina...”; “TV Itacolomi, sempre na lideran�a/Canal 4, Belo Horizonte/ Minas Gerais...”
 
Banco da Lavoura(foto: Arquivo/em)
Banco da Lavoura (foto: Arquivo/em)
 

 o vaiv�m  E passa, tamb�m, pela mem�ria, a imagem do �nibus Avenida, azul�o, que s� transportava passageiros naquela �nica via, indo da Pra�a da Rodovi�ria at� as grimpas da Pra�a Milton Campos, comecinho do bairro da Serra, onde o nosso arcebispo, dom Antonio dos Santos Cabral, tinha reservado uma grande �rea para construir a sonhada catedral metropolitana, um Pal�cio de Cristal. Verdade � que, naqueles tempos, o vaiv�m constante era prova de que tudo acontecia na Afonso Pena, que “era o principal lugar pr� gente ir”, como sugere um dos versos do inspirado samba Bela Bel�, homenagem do compositor mineiro Gerv�sio Horta.
 
Mas, n�o parei a�; continuei caminhando, nostalgicamente, e  passei pela grande loja da Mesbla, pelas Pernambucanas, Cal�ados Leila, Casa Ga�cha, Sobrado dos Cal�ados, Cine Arte-Avenida, Camisaria Avenida, O Rei do Sandu�che, Associa��o Comercial, Drogaria S�o Felix, Casa do R�dio, Sal�o Cadillac  (saiu do ramo e virou Camisaria Cadillac),  Sapataria Americana, no t�rreo do edif�cio residencial Theodoro, esquina com Rua Tupinamb�s – onde faziam ponto gar�ons e m�sicos, para receber e negociar indica��es de trabalho. N�o por acaso, esse endere�o era bem pertinho de uma dose da “pura” e do inigual�vel Caol, apelido do famoso PF formado com as iniciais de cacha�a, arroz, ovo e lingui�a, ideia do Caf� Palhares e batizado pelo conhecido compositor R�mulo Paes. 
 
Tv Itacolomi(foto: Arquivo/em)
Tv Itacolomi (foto: Arquivo/em)
 

edif�cio discreto  Na esquina com Rua S�o Paulo, de frente para a Avenida Afonso Pena, o revolucion�rio pr�dio de 10 andares, erguido em 1935, o edif�cio Ibat� (em tupi-guarani, o ponto mais alto), de consult�rios m�dicos – o m�dico JK foi um dos pioneiros, advogados, psic�logos e dentistas. Revi a Hudersfield, �rea depois ocupada pelo edif�cio Ign�cio Ballesteros, com escrit�rios e a matriz da Elmo Cal�ados; a Adri�tica, Camisaria Epson, Casa Para Todos, A Nacional Magazin, no discreto edif�cio Mariana (na sobreloja, uma curiosidade: o restaurante Girat�rio, cujo balc�o girava suavemente); Casa Falci, de Antonio Falci & Cia., desde o in�cinho da cidade – um verdadeiro supermercado de material de constru��o; sapataria A Balalaica, �tica e Relojoaria Luiz De Marco, Casa Titan, Lanches Odeon, Bar Polo Norte e Bar Sim�es, quase emparedados, e a Casa Mexicana, expondo � entrada esporas, arreios, selas, botas, chicotes para animais e ferramentas para fazendeiros. 

grandes espet�culos E junto, as atraentes portas do hotel e banco Financial, duas propriedades do multimilion�rio e controvertido m�dico e empres�rio Ant�nio Luciano, personagem de muitas hist�rias inacredit�veis; o zum-zum do Cin�dia – caf�, bar e leiteria frequentado por torcedores entendidos de futebol, cujo espa�o acabou cedido para a Tape�aria Marcelo; Copacabana Tecidos, Casa Abreu, a pioneira das canetas, transformada em Centro �tico. Camisaria As Tr�s Am�ricas, Banco do Progresso, Campe�o da Avenida, Caf� Rochinha, Pra�a Sete Cal�ados, no mesmo ponto da antiga Joalheria Theodomiro Cruz; edif�cio-sede do Banco da Lavoura, mais tarde, Banco Real; Caf� P�rola, o famoso pr�dio cinza, em curva, do enorme Cine Theatro Brasil (com amplas rampas laterais de entrada e sa�da, para facilitar o movimento de espectadores em grandes espet�culos nacionais e internacionais, na tela e no palco).
 
 Ap�s longo tempo inoperante, o cinema recebeu minuciosa reforma interna e foi reaberto sob patroc�nio da empresa multinacional Valourec ; no antigo subsolo, botecos e o restaurante popular Bandej�o, de saudosa mem�ria. Como vizinhos, o Brasil Palace Hotel, Banco Mineiro da Produ��o, que virou Bemge, o estiloso pr�dio do Banco Hipotec�rio e Agr�cola, a Livraria e Papelaria Rex, irm� da Sapataria Bristol.
 
No meio disso tudo e diante de uma multid�o de pedestres, indo e vindo, minha lembran�a se fixou nos dois abrigos de bondes, que circulavam em rotat�ria no pirulito da Pra�a Sete, palco de grandes manifesta��es populares, shows, desfiles, com�cios, passeatas e protestos de grevistas e tamb�m de muitos carnavais. 

Manchetes O ru�do estridente das rodas de a�o dos bondes, que estampavam a mensagem que ficou famosa: “Veja ilustre passageiro/O belo tipo faceiro/Que o senhor tem a seu lado”... Um homem carrancudo, de terno, sobe numa escada port�til e escreve, alternando giz branco e colorido, as manchetes principais do jornal Estado de Minas sobre o vidro de um quadro, preso no alto do poste. Muitas pessoas, atentas, acompanhavam esse trabalho para saber das novidades do momento em primeira m�o. Outras, ouvem “a palavra de Deus” por um pregador solit�rio da B�blia sagrada.
 
Um cambista grita sua frase de efeito: “Quem quer perder, t� na hora!”. O velho vendedor ambulante anuncia um rem�dio: “Pomada Balena, para calo e cravo!”... E os meninos engraxates, com suas cadeiras de trabalho postadas debaixo das �rvores, ao redor da pra�a, chamam os fregueses:  “Vai uma graxa a�, doutor?”. De repente, um corre-corre: estudantes provocam conhecida personagem de rua, que reage com um peda�o de pau ao ouvir seu apelido: “Lambreta! Lambreta!”... Miro, logo � frente, o Cine Gl�ria, e junto, em pequena vitrine, o sempre alegre vendedor de jaqueta e cabecinha branca, que fala alto e propositalmente arrastado: “Rrrequeij�o e doooccce de leiiite!”. Ali pertinho estava a Livraria Oscar Nicolai, o Campe�o da Avenida (que exibia, na vitrine, uma est�tua viva de olhos fixos e movimentos programados, tipo ponteiro de rel�gio, apontando para o alvo: um bilhete de loteria); a Casa Guri e aquele aroma forte vindo do Caf� Nice – onde os pol�ticos apareciam, nas campanhas eleitorais, para tomar caf� �s v�speras de elei��o. 
 
Na porta, a turma do Caf� Nice se encontrava para discutir futebol, fazer apostas e jogar purrinha; ao lado, a loja de eletro, m�veis e utilidades Bemoreira (no 3º andar do pr�dio havia um grande sal�o de sinuca e a sede do Diret�rio Central dos Estudantes – DCE/UFMG), o Banco Moreira Salles, que virou Instituto, A Hamilton, de roupas masculinas, e a imponente Casa Guanabara, o maior magazin de BH, que ocupava um pr�dio pr�prio, de 9 pavimentos – uma loja em cada andar. Suas espa�osas vitrines chamavam a aten��o e se estendiam pela Avenida Afonso Pena at� dobrar a esquina de Rua Esp�rito Santo, onde estava o tradicional Emp�rio, Restaurante e Bar Tip Top, da tcheca dona Paula Huven, desde 1929. Vinhos e bebidas finas, produtos importados, card�pio alem�o, chope de primeir�ssima e o refrescante Hidrolitol. 
 
A pedida inevit�vel: salada de batatas com salsich�o, servida por gar�ons, em mesas forradas. Na sobreloja, o discreto e bom restaurante Calif�rnia. Bem perto do majestoso, mais alto (25 andares, que gerou o tratamento do pr�dio como “arranha-c�u”) e moderno edif�cio Acaiaca, inaugurado em 1947, no cinquenten�rio de Belo Horizonte. Ali se instalaram v�rias empresas de servi�os, consult�rios m�dicos, escrit�rios de advogados e de contabilidade, com seis elevadores autom�ticos de �ltima gera��o, uma espa�osa �rea de circula��o e o cl�ssico cine Acaiaca ao fundo. Do lado de fora, a Real Aerovias, A Sib�ria, fina casa de moda feminina, que provocava, anu- almente, filas imensas com sua tradicional liquida��o.
 
E na �rea do entretenimento, estavam ali a boate Acaiaca, na sobreloja do edif�cio, a s�bria bomboni�re Kopenhagen, na esquina com a Rua Tamoios, onde se destacava a placa da Foto ZATS, e, no alto do Acaiaca os est�dios da pioneira TV Itacolomi, que ocupavam o 23º e o 24º andares e ostentavam suas curiosas antenas, bem em frente da igreja matriz de S�o Jos�. 
 
A TV Alterosa tamb�m foi instalada no Acaiaca. Caminhando um pouco mais pela Afonso Pena, ali estava, no velho pr�dio na esquina com a Rua Esp�rito Santo, o chamado Castelinho, a Chap�us Prada, depois Delano e a Ramenzoni; lojas de rua do edif�cio Guimar�es – as sapatarias Scatamachia e Cal�ados Clark, Joalheria Kiva, Ao Pre�o Fixo, �tica Rochester, Relojoaria Tompa; a elegante e atrativa casa de artigos femininos Sloper, em cujos passeios jovens estudantes e galanteadores faziam o footing desde a tardinha. Sem pedir licen�a, fot�grafos registravam os flagrantes das pessoas caminhando e entregavam o cart�o de compra. Caf� Galo, A Porcelana, �tica Odair e loja A Infantil.
 
society mineiro Na esquina com a Rua da Bahia, ficava o acanhado edif�cio Arthur Haas, e logo adiante a Loja Gomes, negociando r�dios, radiolas, discos 78 e LPs, Restaurante Giovani, Copiadora Brasileira, Loja do Dia, os pr�dios da Cia. For�a e Luz (antecessora da Cemig), Cia.Telef�nica de MG (que virou Museu do Telefone), a Prefeitura Municipal, Correios e Tel�grafos e da Secretaria Federal de Fazenda. Mas era na esquina com a Av. �lvares Cabral que v�amos o tradicional e requintado Autom�vel Clube, que reunia a chamada classe alta, o “society” mineiro, vizinho da bela sede do Tribunal de Justi�a; o pr�dio do Lavour�o (Banco da Lavoura), e o do Conservat�rio Mineiro (Escola de M�sica), marcante edifica��o de 1926 tombada pelo Patrim�nio Hist�rico de MG e pela Secretaria Municipal de Cultura, reformado e reinaugurado, em 2000, como Conservat�rio UFMG, mantendo as suas caracter�sticas originais. Exatamente em frente, espa�o de uma futura institui��o respeit�vel: o Pal�cio das Artes, da Funda��o Clovis Salgado, centro de m�ltiplos e selecionados espet�culos, cujo projeto original era para o Teatro Municipal, com assinatura do mestre Oscar Niemeyer, mas foi muito alterado e seu nome exclu�do a pedido do pr�prio autor.
 
No quarteir�o de cima, esquina de Afonso Pena com Rua Timbiras, ponto do antigo largo da hist�rica igreja matriz da Boa Viagem, a primeira concession�ria de autom�veis Chevrolet, a Casa Arthur Haas, nome de um not�vel empreendedor estrangeiro, que come�ou ali mesmo com a loja “A Constructora”, em 1894, acreditem, tr�s anos antes da inaugura��o oficial da nova capital, Belo Horizonte, comercializando o que importava naquela �poca: ferragens e material de constru��o.
 
Escondido por galhos de frondosas �rvores do Parque Municipal Am�rico Renn� Giannetti, estava l�, e continua at� hoje, o Teatro Francisco Nunes, batizado, originalmente, Teatro de Emerg�ncia, enquanto BH aguardava, com paci�ncia, a abertura do Pal�cio das Artes. Nos jardins do parque, a placa “vencida”: “Proibido Pisar na Grama – Multa CR$ 0,50”. Ah, faltou ressaltar que passamos pela esquina da Rua da Bahia, onde est� o belo parque, sem registrar uma “invas�o” de sua �rea pelo abrigo de bondes Santa Tereza, com floricultura, loja de frutas, boteco de caf�, balas e biscoitos e um japon�s que fritava cheirosos past�is de carne e de queijo, verdadeira tenta��o. Na banca de frutas, um aviso mais que inusitado: “N�o me aperte enquanto eu n�o for sua”. Para compensar, na parte de baixo, havia um local para “desapertar”: um banheiro p�blico, unissex. Desativado, o abrigo foi transformado em centro de apoio tur�stico da Belotour, empresa de turismo municipal. Foi ali, no passeio do parque, que come�ou a funcionar uma feirinha semanal, a Feira Hippie, depois transferida para a Pra�a da Liberdade. Consagrada, foi levada de volta para a Avenida Afonso Pena com o apelido de Feira de Artesanato, aberta aos domingos e que se tornou uma grande atra��o tur�stica, atraindo milhares de pessoas para as compras.

Novidades Por algum tempo, fiquei matutando em frente �s torres g�meas SulAm�rica e SulAcap – comercial e residencial – erguidas naquele espa�o nobre da avenida. Ali existiu um belo pr�dio ocupado pelos Correios e Tel�grafos, constru�do no in�cio do s�culo passado, com quase tudo importado, e que foi destru�do em nome da modernidade. Um crime sem tamanho. Na nova edifica��o, um discreto jardim � entrada, a passagem de ventila��o, com escadaria e vista para o viaduto Santa Tereza, pequenas lojas de servi�o, a Alfaiataria Diniz & Verona e, na esquina com a Rua dos Tamoios, a Casa Levy; na outra ponta, esquina com a Rua da Bahia, o Bazar Americano, que oferecia novidades, como seis liquidificadores nos balc�es, todos em movimento, produzindo sucos e vitaminas de frutas. 
 
O sandu�che americano, com p�o de forma, na chapa quente, era disputado junto com o cop�o espumante de milk-shake, uma gl�ria! Mais � frente, o fervilhante cruzamento com a Rua da Bahia, a esquina famosa do falado Bar do Ponto, depois Hotel Othon Palace, e muitas op��es para fregueses de fino trato. No Edif�cio Arthur Haas, a Sapataria Avenida; Balas Suissa, o jornal Folha de Minas, Casa Gi�como, com vitrines repletas de poss�veis “sortes grandes”, bilhetes da Federal e da Mineira – e as cadeiras altas dos engraxates, alguns j� bem idosos .
 
 A Charutaria Flor de Minas, Batidas do Pisca, Papelaria Oliveira & Costa, Casa da Lente, Livraria Itatiaia e os bem recomendados bares Estrela, Elite e Trianon – este, reduto masculino da refinada torcida do Am�rica, decacampe�o, e tamb�m de escritores, jornalistas, pol�ticos, artistas, poetas e intelectuais. Uma �rea de consumo e conversas de bom n�vel. Em certa �poca, um fato bastante comentado aconteceu naquele valorizado ponto. Foi aberta ali a Drogaria Cartea Prado, com algumas “modernidades”: o atendimento, no balc�o, era feito por um time de vendedoras bonitas e uniformizadas. Elas tinham que subir em escadas para apanhar os produtos, armazenados no alto das prateleiras. Garotos espertos “descobriram” um motivo para se distrair “observando a paisagem”. 

R�mulo Paes As meninas se “protegeram”, trocaram as saias por cal�as compridas. A� o assunto virou manchete de jornal, com um protesto da “fam�lia mineira”,que estranhou: “As belas garotas da nova drogaria usam uniforme masculino”. Deu o que falar... E nessa nost�lgica e surpreendente caminhada, olha quem eu “encontro” por ali, assim de supet�o: os compositores Celso Garcia, Gerv�sio Horta e R�mulo Paes, os tr�s juntos, uma alegria s�, comemorando. Garcia emplacou o samba “Foi pra Santa Tereza/ que aquela beleza/o bonde pegou”... Gerv�sio, falante, sem portar bonezinho ( ainda tinha cabelos), e o compadre R�mulo,  como sempre, “enternado – terno, camisa branca e gravata escura, amendoins no bolso, gestos finos e um sorriso preso entre os dentes – todos bastante felizes. 
 
O compadre R�mulo fala que “ficou uma beleza” a grava��o da marchinha feita com Gerv�sio, que promete estourar no pr�ximo carnaval. E cantam: “��� Maria/T� na hora de ir pra rua da Bahia/ As �guas j� rolaram/ na rua da Bahia/ Mais do que em Tr�s Marias/ �,�,�”... Fraseamos bastante, falamos de mulheres, do carnaval, futebol, rimos com causos e piadinhas, enquanto algumas geladas eram sorvidas: tr�s por��es de fil� a palito, azeitonas, duas de queijo parmes�o cortadinho, com or�gano e azeite, e todos de p�, palet� e gravata, no balc�o de madeira com tampo de m�rmore do Trianon. No final, vem a conta: muitas doses, tra�ados, meia d�zia de Antarctica casco-escuro, e a saideira, pra fechar a comanda. Um papo muito descontra�do.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)