
Conseguiu as tr�s coisas e ainda desconversou com algum talento sobre as quest�es mais constrangedoras — golpe, pandemia e ambiente —, cortou os entrevistadores quando foi preciso de forma a n�o mostrar subservi�ncia � emissora que seus fi�is atacam e ainda conseguiu fazer um balancinho do seu governo.
Tudo somado e subtra�do, saiu tamb�m sem nenhum preju�zo. E numa vers�o bem melhor da que � conhecido no notici�rio. Passou por sereno, calmo, respeitoso.
Poderia ter lucrado um pouco se tivesse tido espa�o para delimitar suas diferen�as com Lula, falar contra ele e o petismo tudo o que vem falando desde a campanha eleitoral de 2018. Em parte na cola que levou escrita na m�o, como revelou o Estado de Minas.
O que todo o seu entorno e toda a sua milit�ncia possivelmente esperavam. Mas n�o houve como enfiar na pauta restrita e ao mesmo tempo cheia do modo JN de entrevista em que os entrevistadores s�o de fato os protagonistas.
� muito dif�cil se dar bem nesse modelo, em que os apresentadores jogam pesado como promotores de justi�a, cobram juramentos como ju�zes, falam muito, esclarecem pouco, interrompem quando o assunto come�a a render e n�o deixam espa�o para o entrevistado divagar para fora do tema.
Como em toda entrevista na Globo, sobretudo no hor�rio nobre, o tempo curto para n�o complicar a cabe�a da dona de casa que espera o in�cio da novela � mais importante que qualquer quest�o que diga respeito aos destinos do pa�s.
� bem poss�vel que todos os candidatos desta semana saiam chamuscados e os dois apresentadores continuem belos e sorridentes. Renata � de longe minha candidata a qualquer coisa.
Se pegarem pesado com Lula como pegaram com Bolsonaro, na quinta-feira, ele tamb�m mal ter� tempo para ir al�m das derrapadas de seus governos e das den�ncias que enfrentou na Lava Jato. A ordem no jornal parece ser a de lavar roupa suja e consertar o mundo.
Tamb�m sair� no lucro se conseguir escorregar de temas espinhosos velhos e recentes — corrup��o, aborto e religi�o, entre outros — e falar sobre uma ou duas propostas de seu discurso recorrente de retomada da bonan�a de seus governos, sobretudo a paternidade do Bolsa Fam�lia.
Aux�lio Brasil ou Bolsa Fam�lia renovado para valer a partir de dezembro �, enfim, o grande objetivo dos dois ao embarcar nessa nave que chega de forma impactante nos grot�es — norte, nordeste e periferias do pa�s afora — menos plugados em internet e mais dependentes de sua programa��o.
Foi a grande oportunidade de Bolsonaro, mais forte na internet que na m�dia tradicional, de falar com os eleitores do advers�rio nos confins que a internet ainda n�o devastou, que lhe atribui o Bolsa Fam�lia e seu suced�neo, o Aux�lio Brasil.
Ser� a de Lula, mais forte na mem�ria que na internet, de cristalizar essa ideia na cabe�a deles. N�o � nada surpreendente que o petista domine e seja de longe a primeira op��o onde o poder avassalador das m�dias sociais, que o bolsonarismo domina, ainda n�o chegou.
Os dois devem sair do mesmo tamanho, a depender s� dessa audi�ncia e de seu modelo castrador. V�o depender da edi��o que suas milit�ncias digitais dar�o a trechos das entrevistas nas suas redes sociais, de um e outro lado, promovendo ou denegrindo uns aos outros. J� estavam a postos e em guerra desde o fim de semana.
Ciro Gomes e Simone Tebet, nesta ter�a e sexta, devem ser os mais beneficiados. N�o s� porque pouca roupa t�m para ser lavada. E do ponto baixo em que est�o nas pesquisas, s� t�m como crescer na medida em que passarem a ficar conhecidos fora da internet.
T�m alguma chance de furar a polariza��o que os sufoca nas redes sociais e colocar a cabe�a pra fora na plateia anal�gica do JN. Azar para Lula, porque conseguir�o mais alguns pontinhos para abater de vez suas pretens�es de liquidar a fatura no primeiro turno.
� insond�vel o impacto, a depender s� delas, como tem dependido. Bolsonaro leva vantagem em tese, porque tem mais articula��o, capilaridade, intera��o e tempo de estrada nas plataformas de m�dias sociais, de que usa e abusa bem desde antes da campanha de 2018.
Mas n�o se sabe a for�a que possam ter para mudar onde n�o chegam. Nos grot�es onde a Globo, como Lula, ainda de fato manda. E a entrevista dessa segunda-feira pode n�o ter sido suficiente para modificar a predisposi��o a respeito dos dois l�deres das pesquisas.
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