A import�ncia da agressividade na economia ps�quica do homem � significativa. Mais do que isso, � constitutiva. E nos ajuda a compreender muitos acontecimentos na hist�ria da humanidade. Mas n�o desejo falar sobre epopeias hist�ricas. Prefiro tratar dos efeitos de sua presen�a constante na hist�ria afetiva de cada sujeito e nas consequ�ncias da agressividade nas nossas rela��es.
A experi�ncia subjetiva da agressividade se manifesta desde nossa constitui��o e � sinalizada na presen�a de um terceiro. Ela � percebida como inten��o de agress�o e como imagem de desmembramento corporal e estas percep��es s�o eficientes.
N�o s� no n�vel da fantasia, como tamb�m em enfrentamentos e brigas de amor e �dio, o desejo de destruir o outro se apresenta de modo evidente e assustador. Podemos tamb�m perceber sua presen�a constante nas reivindica��es que permeiam todo discurso, nos atrasos, aus�ncias premeditadas, censuras, fantasias de medo, rea��es emocionais de c�lera, nas tatuagens, nos abusos de �lcool e drogas, demonstra��es com finalidades intimidat�rias.
At� mesmo nas brincadeiras infantis n�o � incomum o arrancar a cabe�a ou furar a barriga da boneca, destro�ar um carrinho, demonstrando assim a presen�a da agressividade vivenciada sem censura na natureza humana. As viol�ncias t�o frequentes levaram o homem de bom senso a tentar sua transforma��o e estabelecer a conven��o do di�logo como poss�vel recurso para administrar a agressividade nas rela��es sociais.
O di�logo parece constituir uma ren�ncia � agressividade. A filosofia desde S�crates, nos lembra Lacan, sempre depositou no di�logo a esperan�a de fazer triunfar a via racional. Nem sempre, por�m, este recurso � un�nime, pois h� quem pense: “� justo que o mais forte domine o mais fraco subjugando-o inteiramente conforme a natureza.” (Tras�maco da Calced�nia, sec. 5 a.C.). � na media��o da lei e da aplica��o da Justi�a que podemos nos proteger contendo esta for�a bruta, mas nunca completamente. Resta ainda grande contingente livre em cada um de n�s para ferir, competir, rivalizar, acusar e julgar as pessoas com quem convivemos, e que nem sempre podem se defender do que supomos sobre ela.
Freud inaugura a compreens�o da subjetividade com a descoberta do inconsciente e a constru��o de conceitos, como as puls�es de vida e morte, que nos indicam as tend�ncias mort�feras e destrutivas que se expressam frequentemente sendo amenizadas uma pela outra para preserva��o da vida.
As pessoas trazem consigo esta agressividade represada, dissimulada, recalcada, e assim � porque a educa��o tem a miss�o de reprimir qualquer manifesta��o antissocial. Desde nossos primeiros passos, somos ensinados a abandonar a agressividade natural e sermos bonzinhos, comportados, amig�veis. Por�m, ela sempre escapa nas brechas e falhas do autocontrole.
Somos educados a amar ao pr�ximo como a n�s mesmos. E tal mandamento refor�a o que precisa ser domesticado na natureza humana, que � a rivalidade e a odiosidade contra o outro. Afinal, o que vemos nas rela��es familiares quase sempre complicadas n�o s�o harmonia e a plenitude. S�o disputas, intoler�ncias e narcisismos das pequenas diferen�as.
Nada pode anular totalmente a agressividade. Ela permanece nas rela��es e, mesmo desconhecida, negada, influencia o comportamento. Seria menos nociva se cada um tivesse consci�ncia ou admitisse intimamente pelo menos suas reais motiva��es. Aqueles que assumem seu lado sombrio t�m maiores chances de dignificar seus impulsos agressivos, substituindo-os pela raz�o.
Ser humano � dif�cil. Mais ainda quando n�o queremos saber por que agimos como agimos. Nestes casos, muitas vezes acusamos no outro o que rejeitamos e tememos em n�s, culpando-o pelo que sentimos. � o que chamamos recalcado: o que incomoda � ignorado, esquecido, tornando-se inconsciente. Mas, mesmo estando neste estado, o esquecido n�o se esquece de surgir toda vez que � ati�ado por algo atual.
l Convite aos leitores: terei a honra de proferir a palestra “J�lio Verne me salvou”, em 19 de junho, �s 19h30, na Academia Mineira de Letras (Rua da Bahia, 1.466, Lourdes). Entrada franca.
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