(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas EM DIA COM A PSICAN�LISE

Por que tanto �dio entre bolsonaristas e petistas?

Sintoma manifesto no coletivo revela faceta de quem n�o tem pudor de se exibir e expor inten��es esp�rias, verbalizando viol�ncias. Ao analista, cabe deter o real, curar pelo amor


postado em 25/08/2019 04:00 / atualizado em 24/08/2019 23:24



H� mais num sintoma do que nos julgamos capazes de compreender a princ�pio. Toda essa odiosidade atual entre bolsonaristas e petistas me parece um sintoma manifesto no coletivo. O conflito entre lados opostos, acompanhado do sofrimento (ou podemos dizer do gozo da puls�o de morte) pelos rompimentos entre irm�os, amigos, pessoas que pensam diferente. Pela jact�ncia verbal agressiva jogada ao vento e no rosto.

Estou colocando no coletivo porque � um fen�meno social atual. No plano individual, todos somos sintom�ticos, porque sintoma ps�quico � o modo como nos ajeitamos com a realidade. Desde o ber�o, precisamos satisfazer necessidades b�sicas ainda incapazes de qualquer autonomia. Fome, sono, frio, medo, dor e outros inc�modos nos obrigam a esperar que venha algu�m em nosso socorro.

Algumas m�es ficam ansiosas quando o beb� chora; assim ele a chama, e elas precisam traduzir a necessidade sem linguagem pelo choro: a intensidade, o volume, o tom. Dizem que um choro � sono, outro � fome, sempre traduzindo o que o beb� est� sentindo. Colocam nomes que acreditam adequados. Nomes que colam. As prospec��es de uma m�e sobre um filho podem ser de grande influ�ncia no futuro.

A quest�o � que a ansiedade da m�e impede ao beb� esperar um pouco. Um pouco de espera n�o � ruim. Demorar demais �, mas este pequeno tempo entre necessidade e satisfa��o d� in�cio � atividade imaginativa do beb�, o prot�tipo da subjetividade.

A lembran�a da �ltima experi�ncia de satisfa��o adia a urg�ncia. Chamamos isso de alucina��o satisfat�ria, a capacidade de fantasiar que para sempre nos acompanhar�. Quando descobrimos a exist�ncia do outro, que n�o � o pr�prio eu, a primeira rea��o � a agressividade. O estranho n�o � bem-vindo. O diferente � ruim. O eu � bom.

O modo como aprendemos a lidar com esta rea��o primordial estar� ligado ao modo particular de tradu��o do mundo. A educa��o vai nos humanizar e orientar sobre o certo e o errado, segundo a moral vigente em cada sociedade. Vai nos impor toler�ncia com o outro.

E este processo nos obriga a mandar para o esquecimento aquilo que vai contra a socializa��o. Mesmo que seja uma coisa que nos d� grande prazer, tipo odiar o outro e descontar nele nossa raiva. Comer as m�os era prazeroso e depois fica “nojento”. Incontin�ncia urin�ria e fecal era prazer e torna-se repulsiva. O toque curioso nas partes �ntimas, vergonha.

As puls�es antissociais antes da censura prazerosa se reverter�o em seu oposto tornando-se desprazerosas. Por isso, ficam represadas sob vigia da censura e s�o esquecidas, mas pulsam para libertar-se do ju�zo cr�tico que as condenou para convivermos.

�s vezes, escapole algum prazerzinho proibido que foge � censura e logo vem o castigo, seja em modo de culpa, boicote, ang�stia, ansiedade, inibi��o etc. Sempre que pulamos a cerca, em caso de sermos pessoas normais, isto �, neur�ticas, teremos estes sintomas e outros mais, tipo compuls�es, obsess�es, fobias, p�nicos, manias, rumina��es, rituais. Como dizem popularmente: de louco, todo mundo tem um pouco. N�s e nossas loucurinhas...

Ent�o, o sintoma � como um acordo entre o desejo censurado (�dio e desejo de matar) e o ju�zo cr�tico (lei: amar o pr�ximo como a si mesmo). Nossos dias trouxeram � tona nosso selvagem, o homem in natura. Sem pudor de se exibir. Selfies mostram tudo, o belo, o almo�o, o jantar, a viagem, a roupa, a festa, a casa do outro, mostra o fake via fotoshop. Fala-se tudo sem pensar no preju�zo, difama-se irresponsavelmente. Mentem sem compromisso de responder, falam coisas est�pidas sem inibi��o. O exemplo vem de cima. De onde deveria vir a educa��o. Tudo se inverteu...

Sofremos, n�s que ainda temos alguma no��o e discernimento, porque n�o suportamos a falta de recalque e de recato. Sofremos e odiamos ao ver tudo que aprendemos a reprimir em n�s sendo satisfeito (gozado) pelo outro. N�o suportar�amos realizar certos atos, mesmo que desejados. Somos impedidos pela encarna��o da lei.

Mas h� sim os que escapam a esta encarna��o e, mesmo sabendo dela, praticam o que t�m vontade. Exp�em inten��es esp�rias, verbalizam viol�ncias, aprovam torturas, homenageiam ditadores, cortam verbas para educa��o. � dif�cil saber onde vai dar esta briga. Mas ela vale a pena. Cabe ao analista deter o real, deslocar sintomas, curar pelo amor. � nossa luta.

Por isso, nos cabe questionar os sintomas. Sintomas que s�o nos mant�m no sofrimento, encobrindo a verdade. Os que prescindem da polidez, da educa��o e soltam as r�deas galopando para o pior.  Brasil, bons tempos para pensar nisso. Por que tanto �dio?

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)