
Faz parte do humano ser dotado de puls�es que substituem o instinto dos animais. Os animais est�o na natureza e para sobreviver seguem seus instintos, sabendo de antem�o o que comer, de que precisam para viver, como gerar e parir sua prole. Os humanos n�o.
Nascemos sem saber nada sobre n�s e sem condi��es de sobreviv�ncia sen�o pelas m�os de um outro, e para entrarmos na cultura devemos adquirir a linguagem, aprender a chorar para pedir que satisfa�am nossas necessidades. O afeto, a voz, o calor do outro nos humanizam, mas sua aus�ncia e demora nos lan�am no desamparo fundamental.
As puls�es de vida e morte enla�adas uma na outra nos conduzem e nos motivam. Por�m, caso a puls�o de morte prevale�a, o resultado � desastroso.
E a puls�o de morte nos conduz muitas vezes ao desejo de gozo obsceno e destrutivo. Desde sempre, o homem usou da agressividade para realizar suas vontades e alcan�ar o que deseja. Um quantum de agressividade � necess�rio para que lutemos pela vida. Temos de acordar todo dia ir � luta, como sempre falamos nos referindo � vida cotidiana e, �s vezes, falamos tamb�m que para isso matamos le�es todo dia. Mas este � o bom uso dela.
A imagem do homem das cavernas puxando a mulher pelos cabelos quando a desejava, mostra o quanto a puls�o de vida e a de morte est�o amalgamadas. Vida e agressividade de m�os dadas para a prolifera��o da esp�cie.
Devemos levar em conta muitos estudos sobre comportamento em cada cultura. N�o pretendo ser cient�fica. Mas acho interessante pensar como na Roma antiga os cidad�os se divertiam em arenas, onde gladiadores lutavam em num certo momento, a palavra de ordem gritada era: “Jugula, jugula”, e o dedo polegar para baixo do imperador, a ordem para matar, o que levava ao del�rio coletivo.
Tamb�m os crist�os crucificados e jogados aos le�es davam extremo ibope, a plebe rude ficava hist�rica. Era um espet�culo org�stico, a viol�ncia trazia o pleno gozo e satisfa��o da puls�o de morte. A agressividade e viol�ncia legalizada ou n�o permanece constante no cen�rio da humanidade. Foram guerras, exterm�nios, persegui��es, queimaram bruxas e santas, crucifica��es, empalhamentos, nazismo, guerras mundiais e milhares de situa��es.
O que assistimos em nossa sociedade t�o civilizada n�o � menos cruel. A puls�o de morte se encontra disseminada e continua se manifestando no cotidiano e sendo banalizada da mesma forma que entre os b�rbaros. Apesar de tantos discursos pela civilidade, respeito e democracia, nos deparamos com barb�ries a cada vez que ligamos as TVs e jornais e n�s consumimos viol�ncia nas horas de lazer e descanso.
Assistimos a viol�ncia dos refugiados repelidos em muitos pa�ses e sem lugar para viver serem recha�ados, morrendo afogados e de fome. Crian�as desnutridas. �ndios atacados por garimpeiros no Norte do pa�s, sendo exterminados sem nenhum socorro do governo federal. Mas tudo isso ainda distantes de n�s. Aqui, bem perto, cresce o n�mero de moradores de rua em situa��o de risco para as quais n�o dever�amos ser indiferentes.
Em nossas ruas andamos com medo. A viol�ncia est� nas esquinas, pelas ruas, bate � nossa porta. � o resultado de uma sociedade que tem s�rios problemas e precisa se debru�ar sobre eles para corrigir a discrep�ncia que gera viol�ncia.
Uma dessas situa��es foi a viol�ncia sofrida durante o carnaval. O engenheiro civil Daniel Machado Rodrigues, de 33 anos, estava com a namorada no ponto de �nibus, quando viu uma situa��o de trucul�ncia da PM com um morador de rua. Tentando interceder pelo morador de rua, atraiu para si a trucul�ncia. Foi levado na viatura como um marginal, espancado pelos policiais que jogaram spray de pimenta em seus olhos e ele acabou no Hospital Jo�o 23. A namorada levou uma pancada de cassetete na orelha e teve de levar v�rios pontos.
A PM deveria respeitar e defender os cidad�os porque esta � sua fun��o, trabalha para n�s, recebe dos nossos impostos. Trabalham para a sociedade e embora recebam treinamento se permitem satisfazer a viol�ncia de modo inadequado, frequentemente atendendo � puls�o de morte mais do que � educa��o e treinamento igualmente bancados por n�s. � que a puls�o de morte escapa ao controle, principalmente num pa�s em que � incentivada pelo de cima.
� inaceit�vel que situa��es como esta fiquem impunes. Se estes homens, treinados para situa��es-limite, agem assim, imaginem os cidad�os comuns armados, com �dio no tr�nsito, ou em situa��es tensas. At� onde poder�o chegar?