
Muitos comentaristas, artistas e escritores t�m compartilhado suas ideias sobre o mundo antes, durante e depois da pandemia do coronav�rus. S�o tantos v�deos, lives e mensagens que precisamos priorizar ou ficar�amos o dia todo ocupados. E, �s vezes, nem quero ver mais telejornais ou
escutar opini�es, a n�o ser aquelas de pessoas que realmente t�m conte�do e sabedoria ou estudo para saber do que est�o falando.
N�o � preconceito, mas hoje a chuva de declara��es, opini�es e exibicionistas na internet nos obriga a fazer sele��o de quem nos alcan�a ou n�o. Ali�s, nem � por causa da �poca. Acredito que, desde que a comunica��o virtual surgiu, mudou o mundo, dando espa�o para todos democraticamente. Isto � bom e ruim.
Nos obriga ao exerc�cio do discernimento: � preciso duvidar, confirmar, para saber se determinadas not�cias e declara��es s�o realmente verdadeiras, porque hoje se declara publicamente o que der na cabe�a, sem medir consequ�ncias ou a relev�ncia. Ou mesmo se mede muito bem como enganar os ing�nuos e desavisados e contar mentiras para favorecer ou degradar algu�m ou algum neg�cio.
Sou habituada com a associa��o livre no div� e, por uma quest�o cl�nica, ela � preciosa. Mas n�o me agrada este tanto de gente querendo declarar coisa nenhuma e se mostrar sem atributos ou saber que acrescente algo; � besteirol ou fake news, sabe-se l� com que inten��es.
Ent�o, conv�m saber de onde vem a opini�o antes de sair disseminando e passando para frente, seja compartilhando, seja em grupos. Recentemente, li muitas opini�es interessantes, mas algumas me chamaram aten��o por se tratarem de escritores que aprecio e acompanho, e suas declara��es t�m peso pelo que s�o.
Um deles, Leonardo Padura, escritor cubano, em mat�ria neste mesmo caderno Cultura do Estado de Minas. O t�tulo: “Somos o coronav�rus do mundo”. Segundo ele, o ser humano foi vencedor na luta biol�gica, hist�rica e natural do planeta e um bichinho microsc�pico � capaz de nos derrotar e, por isso, precisamos de um pouquinho mais de mod�stia.
O homem foi injusto com o planeta, com desmatamentos, queimadas, polui��o e com outras esp�cies agimos da mesma forma que o coronav�rus age conosco. Chegamos dominando e exterminando como o v�rus, e hoje � como se estiv�ssemos nos cobrando o que fizemos contra o mundo. Seu novo livro vai falar sobre um detetive protagonista de seus romances policiais na pandemia e o fato de que �ramos felizes e n�o sab�amos; pod�amos abra�ar, beijar, falando de afetividade.
Outra opini�o interessante, tamb�m publicada tamb�m neste jornal, difere do otimismo dos que apregoam um mundo melhor. � a do escritor franc�s Michel Houellebecq. Para ele, o mundo p�s-coronav�rus n�o ser� melhor. Ao contr�rio, ser� um pouco pior. Segundo o escritor, esta coisa de nada ser� como antes, n�o cola. Poder� haver uma acelera��o de algumas mudan�as em curso, em particular, a diminui��o do contato humano.
E ainda a crise oferece uma magn�fica raz�o de ser para esta tend�ncia acentuada: uma certa obsolesc�ncia que parece afetar as rela��es humanas. Hoje, mortes s�o n�meros e a idade � um risco, pois se questiona se deveriam ocupar leitos. Nunca hav�amos expressado uma indec�ncia t�o serena de que a vida n�o tem valor.
Ainda o mo�ambicano, escritor e bi�logo Mia Couto, para quem a literatura tem for�a para ajudar as pessoas a continuarem sonhando, por�m neste momento em que acompanha como bi�logo o que se passa com v�rus pelo mundo, gostaria de acreditar que despertaremos nossa consci�ncia e os governos sobre a import�ncia da sa�de p�blica e da educa��o, um ideal da coopera��o solid�ria em vez da competi��o e exclus�o. Gostaria que a fal�ncia neoliberal ficasse clara e que a solidariedade que agora se v� deveria ser uma constante na hist�ria da humanidade.
S�o opini�es que nos fazem pensar. Isto � bom, porque o nosso mundo s� poder� piorar, melhorar ou mudar se a humanidade que nele habita tiver for�a para outra guerra... forte, por�m uma guerra pac�fica. Quem sabe tudo isso agora vai nos ensinar mais sobre nossa pr�pria falta de mod�stia?