
Muitas fam�lias em isolamento social, os pais em home office, as crian�as em casa e o fim da pandemia parece escorregar para um futuro anunciado que se estende para n�o se sabe quando. Crian�as de variadas idades confinadas. As maiores – em sala de aula on-line, estudando, privadas de recrea��o e espa�o livre para gastar sua energia – est�o restritas aos contatos virtuais, mas encontram-se em jogos e atividades poss�veis no momento. As menores, sem atividades e passeios, contam apenas com a disponibilidade dos pais que se alternam para atend�-las, cuidar da casa e trabalhar. Uma situa��o dif�cil.
As fam�lias t�m de se virar neste novo modo de conviv�ncia em tempo integral. Disseram-me recentemente que muitos casais est�o se separando. N�o sei se � verdade, n�o h� nenhuma estat�stica que eu conhe�a sobre o assunto, mas n�o duvido. As rela��es amorosas n�o s�o simples, nenhum casal � um par prefeito. Somos �mpares e n�o fazemos um com o outro, embora seja isto que muitos esperam encontrar, algu�m com os mesmos desejos, pensando da mesma forma e em plena harmonia.
Ao contr�rio, no amor temos muito trabalho. O outro nos incomoda, tem seu tempo, seu m�todo, n�o concorda sempre, a divis�o de trabalho nem sempre � justa e v�o surgindo inc�modos. A vida a dois sempre cobra um pre�o alto e n�o h� como fugir da conta a pagar. � matem�tica. Aquele que acredita que o outro ser� sempre um complacente companheiro, que suportar� tudo sem desanimar, est� se enganado e pode levar um belo susto.
Assim � a rela��o entre o homem e a mulher ou entre dois homens ou duas mulheres, seja homo ou heteroafetiva, � sempre inst�vel. Ela gira em torno da conting�ncia, nunca da certeza. E para fazer la�o � preciso suportar este amor imperfeito. Portanto, para viver a dois � preciso muito investimento, respeito � diferen�a e sorte. Muita sorte.
Ainda preciso falar dos momentos necess�rios ao casal para sua rela��o conjugal. Ficar a s�s, namorar, fazer amor. Precisam se organizar para preservar seu espa�o, al�m das fun��es de pai e m�e e lembrar que s�o tamb�m um homem e uma mulher ou um casal.
Os pequenos precisam de aten��o, mas tamb�m de aprender a brincar e se ocupar de suas pr�prias coisas, ter uma rotina e hor�rios para permitir liberdade para si e para os adultos. O brincar desenvolve a criatividade e a fantasia com a qual dever� se ocupar. Pelo menos por um tempinho.
Mas para isto precisam ser educados. Tarefa imposs�vel, dizia Freud. Ainda mais agora com os pais presentes todo o tempo. Para estes pais, eu lembraria Silvia Grebler, em seu programa Entre la�os e n�s, �s quintas-feiras, na r�dio CBN. Especialmente, em 26 de junho, quando ela fala sobre a educa��o. Sobre princ�pios que regem a vida de cada um e da import�ncia da transmiss�o de princ�pios �ticos e valores que n�o se realiza de qualquer jeito. Uma lista de regras a serem cumpridas e repetidas s�o insuficientes e cansativas tanto para os pais quanto para as crian�as, e afinal n�o colam. S�o apenas sinalizadores do certo e errado. O que cola mesmo, lembra muito bem Grebler, � o combinado que envolve a crian�a e a responsabiliza no resultado.
Os pais devem ser firmes e n�o ter medo de frustrar as crian�as, pois n�o � poss�vel viver sem se frustrar, ent�o � bom aprender desde cedo. Muitos pais t�m medo de frustrar sem saber que surpreendentemente as crian�as respondem muito bem ao “meu pai (ou minha m�e) n�o deixa”, ficando felizes por serem cuidadas. Transmitem-se valores de v�rias maneiras: atrav�s de leituras, hist�rias, jogos e conversas, que, principalmente, promovem um bom encontro. Nada se transmite sem cuidado ou de qualquer jeito. � no bom encontro que se imprimem � alma da crian�a valores que ela levar� consigo para toda a vida.