
Se voc� leitor me acha pessimista, discordo, sou realista. E os �ltimos acontecimentos demonstram que tenho os p�s no ch�o. Os recentes ocorridos no Minist�rio da Sa�de em plena pandemia me fizeram concluir que nenhum m�dico respons�vel aceitaria participar do negacionismo do presidente diante de um problema de magnitude mundial, e sua indiferen�a por tantas das mortes... Empatia passa longe daquele ali...
Sinceramente n�o sei quase nada sobre o reverendo Milton Ribeiro sen�o o que foi anunciado. Se � tudo verdade, ele formou-se em direito, tem mestrado na �rea, fez teologia, doutorado em educa��o e � especialista no Antigo Testamento. Entrou avisando ser defensor da educa��o com a vara. B�blico. Por�m, a educa��o moderna discorda do m�todo, tendo encontrado no refor�o positivo, na frustra��o com amor, alternativas igualmente eficientes.
Empossado para a pasta da Educa��o, enfrentar� situa��es melindrosas, uma vez que a luta do esp�rito cient�fico contra a vis�o de mundo religiosa � t�o antiga quanto o nascimento da ci�ncia. Entre a ci�ncia e a religi�o, h� um hiato.
A primeira adotou uma postura cr�tica em rela��o ao que prega a religi�o, baseando-se sempre no cognosc�vel, no intelecto, na pesquisa, no conhecimento emp�rico, em evid�ncias encontradas, no provado e experimentado, no racional, dispensando revela��es, intui��es, adivinha��es e imagin�rios em geral.
Apoia-se em fatos comprovados como, por exemplo, as ossadas pr�-hist�ricas que apontam para a teoria da evolu��o darwiniana. Explica��o para o universo vem acompanhada da faculdade cr�tica e apresenta��o de obje��es e rejei��es daquilo que biblicamente se apoiaria num ato de f� no criacionismo.
A religi�o, por sua vez, tem um poder imenso a seu servi�o e abriga fortes emo��es humanas. Oferece um Pai todo-poderoso e protetor que serve como luva, na medida para o desamparo do homem frente ao futuro, a morte, as intemp�ries da natureza, enfim, � de grande amparo e acalma os medos do homem das vicissitudes da vida e lhe confere conforto nas desventuras.
Assim sendo, entre ci�ncia e religi�o, esta �ltima sempre conforta mais do que a primeira, que de fato tem mais questionamentos que solu��es e nunca desiste de encontrar ind�cios, investigar verdades estabelecidas e discordar da f�, que considera imagin�ria necessidade do homem em sua orfandade fundamental.
A promessa de um Pai todo-poderoso criador dos c�us e da Terra, a cren�a no sobrenatural, na vida ap�s a morte e na vontade de Deus � reconfortante. O mito de Ad�o e Eva n�o � uma met�fora, � fato. Apesar das provas em contr�rio, escolhe a f�.
A vis�o de mundo que rege um ensino religioso � completamente divergente da ci�ncia. � uma quest�o da �tica implicada em cada campo do saber. A �tica que rege cada um desses campos, o cient�fico e o religioso, encontra poucas afinidades. O ponto comum � a busca do homem para compreender sua exist�ncia em ambos os casos, sendo que um tem todas as respostas e o outro muitas investiga��es.
Portanto, ser� delicada a situa��o do ministro e reverendo no comando da Educa��o, principalmente universit�ria, que tem base fincada na ci�ncia e pesquisa, como sabemos, com tantos cientistas, doutores e mestres.
Tor�o para que a vis�o de mundo divergente n�o sirva para operar cortes nas atividades de pesquisa em andamento e nas que vir�o, na distribui��o de bolsas para extens�o, na perda de investimento para toda atividade e desenvolvimento de pesquisa, o que significaria grande retrocesso.
Afinal, esperemos que o futuro pr�ximo nos esclare�a. Que o ministro acerte, que incentive o progresso da ci�ncia e o conhecimento. N�o seja Deus no cora��o motivo de retrocesso. Que n�o lhe falte sabedoria ou sobeje a vaidade, pois, como disse o poeta Haroldo de Campos em sua tradu��o do Eclesiastes, tudo � n�voa-nada.