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Estado de Minas

Liberdade, mesmo que tardia, para filhos dependentes de pais

Gera��o do tudo pode criou filhos fracos e mimados, que permanecem na infantilidade sem desejar sair debaixo das asas de um protetor-provedor


09/08/2020 04:00

A coisa se estende mais do que se pode suportar. As pessoas inquietam-se com o parado do tempo, com o pouco trabalho, com os poucos encontros, compras limitadas (agora intermitentes), viagens por fazer, enfim, uma vida para viver e o limite a� batendo � porta, melhor, trancando a porta.

Pouca coisa acontece na estagna��o do momento com os limites externos, mas dentro de cada um surge a evid�ncia de que outros limites s�o necess�rios. E quem n�o consegue acat�-los, vive como se nada temesse. Sem quarentena, sem reclus�o e, embora discretos, seguem seus desejos colocados acima do recomendado. Pequenos jantares, anivers�rios, encontros para jantares e almo�os discretos e, de vez em quando, um belo susto.

O susto de quem descobre que ontem esteve com algu�m que agora apresenta sintomas. O suspense de esperar por sintomas sem saber e se ser�o brandos ou n�o. � um risco desnecess�rio, por�m, h� quem os prefira � reclus�o.

A gente sabe que as pessoas nem sempre fazem o melhor e, por isso, tantos problemas contra�dos apesar do saber. Nem sempre os diab�ticos fazem dietas, nem sempre os que t�m enfisema deixam de fumar, nem sempre se transa de camisinha... e por a� vai.

A puls�o de morte tem a cara de prazer e tapeia os incautos e distra�dos que preferem a satisfa��o imediata, sempre o inocente lado bom, ignorando o lado real, o da verdade. Outros limites nos cercam no momento. Por exemplo, o financeiro. O trabalho diminuiu, as lojas abrem e fecham, os ganhos diminu�ram para a grande maioria, por�m, as responsabilidades continuam.

As contas continuam chegando e, quando n�o se pode mais suportar, ainda h� quem conte com ajuda dos pais e parentes mais pr�ximos. Mas para estes tamb�m a impossibilidade chega, � preciso manter a defesa de si, e dizer um basta pode ser dif�cil.

H� os que preferem adiar o temido n�o. Ele pode trazer sofrimento, m�goas e raivas, nem sempre se aceitam fatos numa boa.  Muitos se fazem v�timas, apelam mordendo a m�o que lhe � estendida.

Assim � o ser humano, vende harmonia na vitrine enquanto vive na disc�rdia. Sabe aconselhar e benzer, mas n�o se compreende. Ensina ao outro o que n�o � capaz de dar. Palavras vazias jogadas ao vento. Afinal, ser� o homem sempre um farsante, apresenta a si mesmo como ideal enquanto sua vida submerge em �guas turvas?

O ser humano quando esbarra em limites � caixinha de surpresa. Grandes negadores prontos ao lit�gio quando a corda aperta. Penso que a gera��o do tudo pode criou filhos fracos e mimados, que preferem permanecer na infantilidade e adolesc�ncia sem desejar sair debaixo das asas de um protetor-provedor.

E tal gera��o de pais temeu infinitamente dizer n�o, evitou de todas as formas frustrar, permitiu demais. Esta � a receita para dar tudo errado. J� dizia Freud: os pais n�o devem amar demais e nem mimar os filhos, pois crescer�o se achando no direito a tratamento especial, sem ter nada de especial, afinal.

Ningu�m ser� amadinho de seu chefe, nem protegido pelo mundo ou poupado daquilo que deve viver. A frustra��o � o melhor presente para educar as pessoas, torn�-las humanas, ensinar o respeito pelo outro e prepar�-las para enfrentar o mundo. E se alguma ainda n�o foi introduzida nas rela��es que seja agora. Antes tarde do que nunca.

E para os pais dos filhos em atraso de serem independentes, liberdade, mesmo que tardia. � preciso entender que criamos os filhos para o mundo e n�o podemos carreg�-los nos ombros para sempre. Entregar os filhos para o mundo pode parecer doloroso, por�m � uma liberta��o necess�ria, tanto para os pais quanto para os filhos. � justo e saud�vel que, principalmente em tempos de COVID-19, tempos dif�ceis, continuemos aprendendo a li��o da vida: sobreviver mesmo que a duras penas.






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