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Estado de Minas

Foi-se o tempo do simples prazer, do respeito ao outro, do limite, do acato

Cerim�nia eg�pcia de transposi��o das 22 m�mias - fara�s e quatro rainhas - foi deslumbrante, mas o �ltimo desejo dos moribundos foi violado


02/05/2021 04:00 - atualizado 30/04/2021 16:46


Assisti � cerim�nia eg�pcia de transposi��o das 22 m�mias – 18 fara�s e quatro rainhas – para o Museu Nacional da Civiliza��o Eg�pcia no Cairo num desfile dourado, iluminado, deslumbrante, com apresenta��o de orquestra e cantoras l�ricas maravilhosas, coreografias dan�adas ao ar livre com as pir�mides no fundo. Foi uma beleza!

Tudo lindo e grandioso e n�o era para menos, pois ali estavam os corpos de 18 representantes dos deuses na Terra. Levados com pompa e circunst�ncia em caminh�es com o design das tumbas, num espetacular ritual. Um s� por�m: estavam sendo retirados da morada escolhida para a vida eterna. Seu �ltimo desejo foi contrariado.

De fato, a mumifica��o deu a eles um corpo perp�tuo, at� hoje entre n�s, embora seus pertences, tesouro, valores, com os quais contavam para a vida eterna, a maioria foi roubada por ladr�es e doutores e escondidas em tesouros privados ocultos dos olhos do mundo para o desfrute de poucos. Por onde andar�o os frutos desta viola��o?

Apenas Tutanc�mon, o fara� de mais curto reinado (nove anos porque faleceu aos 18), teve sua pir�mide intocada, assim como seu corpo mumificado, descansando em paz em quatro caixas, uma dentro da outra, tal como a Matryoshka russa.

Assistindo �quele espet�culo, fiquei pensando se ter�amos o direito de violar o sepulcro de um soberano que o escolheu, fez uma obra monumental e � retirado dali por vontade e interesse de terceiros. Mesmo que seja para sua prote��o, houve uma transgress�o. Eles n�o s�o mais soberanos do seu desejo expresso em palavras e atos e de seu corpo neste mundo.

A civiliza��o sempre respeitou os desejos dos moribundos, cumprindo aquilo que foi por eles determinado antes do fim. Por exemplo, a vontade p�stuma de uma senhora de ter suas cinzas atiradas metade no Rio Ganges, na �ndia, e outra metade no Egito. Lugares que visitou, encontrando ali vontade de ficar. A fam�lia se reuniu para realizar este desejo. No caso, uma “vaquinha” resolveria.

Voltando aos fara�s, ser� que tremeram em seus trapos de m�mia, irados com tal viola��o? E as maldi��es? O mundo p�s-moderno deixou de temer a f�ria dos deuses?

S�o m�mias celebridades, ricas, geradoras de milh�es ao Cairo e � ind�stria de turismo em tempos de guerra e paz. Em tempo de capitalismo, valem ouro! Muito mais como valores da humanidade, e tamb�m de arrecada��o, deixando de contabilizar nesta economia o desejo do sujeito. Uma festa mais suntuosa poderia ser o p�o para quem tem fome. Mas n�o em nossos tempos...

O que podemos dizer sobre o discurso capitalista? Que a m�xima “tempo � dinheiro” nos colocou a trabalho como prolet�rios para que poucos fiquem ricos. Que uns gozam do sofrimento do trabalho mal remunerado e outros gozam da acumula��o. Que gastamos para adquirir coisas que n�o precisamos, mercadorias despejadas no mundo incessantemente. O “lixo � um luxo” j� foi slogan da moda, lembram?

Est� fora da l�gica capitalista a castra��o. Est� fora a lei do pai e do desejo e resta disto vontade de gozo do excesso. Que o que mais se teme � a falta-a-ter em detrimento do ser. Que o desejo fica foraclu�do. Foi-se o tempo do simples prazer, do respeito ao outro, dos limites, do acato. Nada de saudosismo � l�gica: o mundo pode tornar-se des�rtico.

Quando falta a educa��o e as vontades do perverso polimorfo infantil (a crian�a goza de tudo sem limites porque n�o os conhece ainda) n�o s�o podadas em nome da entrada na cultura, obrigando o sacrif�cio das agressividades, do ego�smo extremo que exclui o outro, do narcisismo sem barreiras, teremos ent�o como resultado um sujeito incapaz de fazer la�o social. E que o mundo se dane.

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