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Mar�lia Mendon�a deu voz � falta que h� no feminino

A capacidade da cantora e compositora em captar o sil�ncio e escutar a alma das mulheres tocou cora��es e arregimentou multid�es


14/11/2021 04:00 - atualizado 13/11/2021 04:53

Marília Mendonça sorri durante entrevista à Rádio Clube, em Brasília, em 2016
(foto: Luis Nova/Esp.CB/D.A Press/2/11/16)

A perda foi enorme. E doeu. O Brasil parou por ela e agora vive o luto do falecimento precoce da jovem e talentosa cantora que inaugurou um estilo de m�sica dirigido �s mulheres. Cantando o que vivem e sofrem as mulheres, Mar�lia Mendon�a se tornou um fen�meno produzido pela circula��o de novos significantes: sofr�ncia e o feminejo.

Ela deu voz � falta que h� no feminino. Sua capacidade de captar o sil�ncio e escutar as vozes femininas tocou cora��es e arregimentou multid�es. Valente, enfrentou o mercado masculino do sertanejo. Uma mulher que enfrentou o mundo e viveu de sua m�sica. Apostou alto e ganhou.

Aos 26 anos e com um filho de 1 ano e 11 meses, sua morte s�bita causou como��o nacional e internacional. Seu estilo criativo e inovador, a partir da identifica��o com o sentimento comum, promoveu um la�o entre as mulheres. Prop�e solidariedade em lugar da rivalidade, express�o de verdades como a dor por amor, a devasta��o pelo abandono e a for�a e capacidade de supera��o.

O lamento geral – n�o apenas do expressivo p�blico feminino que ela encantou e para quem cantou – conquistou uma das maiores audi�ncias nas redes sociais no mundo. N�o por acaso, suas letras causam efeito de verdade, as pessoas se identificam. Mar�lia fala do que todos sofrem.

No estilo sofr�ncia, ela dan�ou com o sofrimento e abra�ou a car�ncia representando tantos cora��es. Foi sens�vel �s hist�rias de vida das mulheres tra�das, abandonadas, prostitutas e as mais modernas e liberadas.

Solid�ria aos sentimentos e sofrimentos causados pelas dificuldades dos amantes, ela cantou dores de mulher, agora sujeitos da pr�pria vida, n�o carecendo se submeter. Apesar de tra�das e devastadas, elas continuam amando. Das prostitutas apaixonadas, das que v�o afogar a tristeza.

Ela deu voz � dif�cil rela��o com a falta no feminino. Tocou o que disse Lacan da imposs�vel rela��o sexual plena, isto �, fazemos amor, mas ele n�o faz um par perfeito. Falou do amor, do amuro entre um homem e uma mulher causado pela pequena diferen�a que faz de cada um absolutamente �nico a gozar de seu corpo ao seu modo.

No amor, h� impossibilidade de fazer de dois um. Encontrar a metade da laranja. O amor � droga pesada, e perd�-lo provoca crises de abstin�ncia. Falta que d�i no corpo. Embora seja grande a demanda por ser a �nica, totalmente amada, a rela��o entre dois inclui a falha humana. Amores s�o imperfeitos. Sempre. Nenhuma vida a dois pode ser compartilhada sem respeito � extrema e sutil diferen�a de cada um.

Espinho na carne dos apaixonados. O desejo granjeia livre pela vizinhan�a quando saciado. O amor n�o � capaz de manter todo o desejo fixado num s� objeto, mas faz poss�vel sustentar uma escolha e mant�-la por lealdade, parceria.

Mar�lia cantou a mulher da vida, a mulher casada, a mulher amante, a ex-mulher que superou a perda, o desprezo, a trai��o, a devasta��o, a vit�ria. A mulher livre para amar, beber, fazer por desaforo e viver com liberdade. Empoderou, como dizem hoje.

Ela se tornou imortal ao transmitir sua letra. Como os Mamonas Assassinas, que, com semelhante fim, deixaram a sua marca. De alma generosa e grata, ela promoveu shows em pra�as p�blicas para alegria da galera que a elegeu rainha, retribuindo, compartilhando a sofr�ncia.

Grande figura que em sua breve passagem pela vida fez e aconteceu, deixando sua marca original. Vai, Mar�lia, brilhar entre as estrelas do firmamento, para onde ecoar�o suas m�sicas, cantando agora a saudade de seu breve tempo entre n�s.

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