
O Ministro Marco Aur�lio Mello, do STF, adora usar uma express�o - de forma ir�nica, claro -, sobre assuntos, digamos extravagantes, do dia a dia nacional: “tempos estranhos em que vivemos”.
Ainda mais estranho � o caso de um r�u confesso, que matou a namorada, se entregou, foi processado, condenado em primeira e segunda inst�ncias, e agora solto “presumidamente inocente”, at� que um dia qualquer, l� pelos idos de 2614, o STF decida o contr�rio. Catzo! At� o direito de nos declarar culpados o STF cassou.
Mas estranho, estranho mesmo, estranho de verdade foi o faniquito que o pr�prio Marc�o (agora ele surta de vez, hehe) deu com uma advogada, no plen�rio da corte, porque ela atreveu-se, imaginem!, a dirigir-se aos ministros como “voc�s”. Tadinha da mo�a. Levou um pito daqueles.
Para os supremos togados, advogado frequentar o STF trajando bermuda � ok. Ministro ofender ministro, ao vivo e em cores, � ok. Ministro chamar membros do Minist�rio P�blico e ju�zes de cretinos, canalhas, quadrilha etc � ok. Mas um desavisado pronome pessoal de tratamento � quebra de liturgia na certa.
Gostaria de ter - ah, as antigas express�es da inculta e bela - com o ministro mais uma vez. Explico: meses atr�s, me encontrei com Marco Aur�lio num aeroporto e conversamos animadamente por quase uma hora, na fila da imigra��o. A esposa dele � desembargadora criminal no Rio de Janeiro. Um encanto de senhora. “Linha dur�ssima! Ela prende, eu mando soltarrrrr”, disse o ministro sorrindo, com aquele sotaque peculiar. “Sou um guardi�o das leis. Se elas n�o s�o boas, que o Congresso as mude”.
Pois �. Se um dia eu reencontrar Marco Aur�lio %u2015 na ocasi�o, quando lhe chamei de senhor, ele me repreendeu: “aqui fora n�o precisa me chamar de senhor” %u2015 lhe darei um caloroso aperto de m�os, e de feitio mui prazenteiro boquejarei (eita, que hoje eu t� lit�rgico):
%u2015 Marquito, quando do nosso derradeiro col�quio, voc� me disse que se as leis n�o fossem boas, que o Congresso as mudasse. Agora que os nobres deputados finalmente est�o dispostos a tentar deixar clara a possibilidade de pris�o ap�s condena��o em segunda inst�ncia, me vem voc� e seu (como � mesmo que se referiu a ele? Ah, lembrei!) desafeto que n�o pode tomar um simples cafezinho nas ruas de Lisboa sem ser ofendido, e dizem que n�o pode?
Ser� que, definitivamente, ap�s legislar sobre uni�o civil homoafetiva, aborto e homofobia, dentre outros, o STF assumiu de uma vez seu t�o sonhado papel de legislador sem voto ou mandato popular?
Tempos estranhos, ministro. Muito estranhos... Estranh�ssimos!!
Um beijo na Dona Sandra.