Nasci em Bras�lia, mas resido em BH desde 1977, entre algumas idas e vindas. Uma pergunta me acompanha desde a inf�ncia: por que n�o temos metr�? Note, leitor amigo, que a pergunta n�o � minha. � do povo!
Belo Horizonte � uma cidade espalhada e seu subsolo n�o merece o pr�mio de o mais indicado para obras subterr�neas. Al�m disso, rios e riachos canalizados e outros cursos d’�gua abundam em nossas “profundezas”.
N�o sou t�cnico nem entendo patavinas de engenharia civil de alta complexidade. Muito menos me aventuro a predizer quais os motivos para nossa orfandade metrovi�ria. Mas se fosse f�cil e barato, provavelmente j� teria sido feito.
Recentemente, assistimos a uma queda de bra�o surreal entre a CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos), uma destas estatais imprest�veis, que administra aquilo que chamam de metr�, em BH, e o Poder Judici�rio.
De um lado, um ente intromissor, perdul�rio e oportunista quando lhe conv�m. De outro, um escangalho improdutivo, corporativista e corrupto. Dif�cil saber quem � quem, n�? No meio do tiroteio, os trouxas que pagam a conta e n�o recebem os servi�os contratados. Esse � mais f�cil identificar.
A estatal queria aumentar os pre�os, congelados desde ‘mil novecentos e Kafunga’. Alegavam preju�zos. J� os doutores, em nome do povo, impediam o aumento, considerado por eles abusivo. S� n�o consideram abusivos os pr�prios sal�rios e benef�cios.
Numa solu��o ‘nem-nem’ (n�o agradou nem � CBTU nem aos usu�rios), a Justi�a permitiu um aumento menor e escalonado. Resultado: desabou o n�mero de usu�rios do metr�. A popula��o, ou sem emprego ou sem renda, n�o deu conta de pagar o butim.
Ora, sem receita para cobrir custos - altos, por incompet�ncia, corrup��o etc - n�o h� como continuar operando. Imaginem, ent�o, como expandir as linhas. Eis a quest�o: no Brasil, queremos tudo de gra�a. Imaginamos ter direito a tudo sem ter de pagar por isso. E quando fala-se em privatiza��o, � o Deus-nos-acuda de sempre.
Metr� n�o � para qualquer um. N�o basta querer. Tem de poder e merecer. E Belo Horizonte n�o me parece - como qualquer capital brasileira, exceto S�o Paulo, e, v� l�, Rio - ou capaz ou com as condi��es necess�rias para contar com um. Metr�, meus caros, � coisa de rico. Pobre, me perdoem a sinceridade, n�o consegue custear nada melhor que �nibus. � assim no mundo inteiro.
O investimento em metr� � alt�ssimo, pois os custos s�o gigantescos. Em contrapartida, no caso de BH, n�o h� mercado suficiente, leia-se popula��o, que atenda ao bin�mio ‘investimento x taxa de retorno’. Seria necess�rio uma gigantesca dose de subs�dio. Como o munic�pio, estado e Uni�o n�o possuem dinheiro nem para hospitais; como os usu�rios t�m extrema dificuldade em arcar com tarifas necess�rias; e como ainda nasceu investidor que rasgue dinheiro, eu continuo ouvindo a mesma pergunta de 40 anos atr�s: e o metr� de Belo Horizonte?”
Pelo visto, morrerei ouvindo.