
Por aqui, morre-se de tudo um pouco: morre-se de dengue e de chikungunya; em brigas de tr�nsito e de torcida; em palafitas e em encostas; em favelas e nas ruas; por latroc�nio e por tr�fico. Morre-se at� por ser gay ou mulher, vejam s� que pecado capital. Mas morre-se, sobretudo, pela ina��o do Estado. Pelo descaso sucessivo dos tr�s Poderes, em todas as esferas (municipal, estadual e federal), por aqueles servis e dispens�veis brasileiros.
O novo coronav�rus chegou para expor, de forma ainda mais nua e crua, a realidade do desprezo que governantes t�m por todos os idiotas que lhes sustentam a vida maravilhosa que levam, regada a sal�rios exorbitantes, benef�cios inimagin�veis, estabilidade profissional e econ�mica eternas, sa�de e seguran�a de primeira - e gratuitas -, e at� certos mimos ainda mais infames, como bab�s e escolas para os filhos, ou melhor, heredit�rios.
Enquanto milhares de pobres padecem por falta de atendimento hospitalar - e repito: a COVID-19 est� apenas escancarando essa realidade - , os poderosos s�o prontamente atendidos (e reembolsados, por n�s, de todos custos) em hospitais de classe mundial. Em Manaus, �pice da nossa trag�dia como na��o, os eternos abandonados agora morrem sufocados, como se estivessem se afogando, por falta de cilindros de oxig�nio.
Em Bras�lia, citada aqui apenas como o exemplo m�ximo da podrid�o, n�o faltam carros blindados, com motoristas e seguran�a para os figur�es do Congresso. N�o faltam espumantes importados nem lagostas para os togados do STF. N�o faltam pal�cios, avi�es, helic�pteros, lanchas e jet skis para o presidente se divertir e abusar da sua psicopatia-negacionista-populista-ignorante-e-indecorosa em rela��o � gripezinha.
Tal quadro se repete em cada um dos estados e em grande parte dos 5570 munic�pios Brasil afora. S� as cidadezinhas bem miser�veis n�o conhecem a lux�ria do poder �s custas dos miser�veis. Toda vida importa para algu�m. Toda morte � lamentada por algu�m. Pouco importam as circunst�ncias, das mais cru�is e repentinas �s mais esperadas e naturais. Mas morrer por falta de um m�sero cilindro de oxig�nio em um hospital p�blico, ultrapassa as raias da realidade.
Sorria, Bolsonaro! Sorriam, todos voc�s que apoiam o negacionismo e a pol�tica genocida deste man�aco da cloroquina. Sorriam, senhores governadores e prefeitos; deputados e senadores; desembargadores e ministros. Sorriam, empres�rios corruptos e lobistas oportunistas. Sorriam, eleitores idiotas, que tratam pol�ticos - qualquer pol�tico - com idolatria e servid�o. Enquanto voc�s sorriem, felizes, mais de 200 mil fam�lias choram seus mortos.