
H� o juda�smo como religi�o, e h� o juda�smo como etnia, povo, cultura e identidade, que transcende a f� e obedi�ncia � pr�tica religiosa. Eu, como descendente de av�s e pais judeus, me identifico muito mais com a segunda, digamos, defini��o.
Meus pais n�o eram judeus praticantes, e se mudaram para Bras�lia - bem no in�cio da capital - assim que se casaram. Eu nasci e por l� vivi at� os 10 anos de idade, e s� fui ter contato com o juda�smo em Belo Horizonte, para onde mudamos em 1977.
Em Bras�lia eu estudei no Col�gio Marista, de freis arquidiocesanos. J� em BH, no Col�gio Santo Ant�nio, de freis franciscanos. Assim, minha educa��o foi muito mais crist� do que judaica. At� porque, como disse, meus pais n�o eram religiosos.
J� estive em alguns campos de concentra��o e museus que retratam os horrores do Holocausto. Neste domingo, contudo, ao visitar mais um - que n�o conhecia - dessa vez ao lado de minha esposa e minha filha, pude viver uma experi�ncia diferente.
Ao olhar para um lado e encontrar uma crist� (minha mulher), e para o outro, e ver a minha continuidade (minha filha), realizei a certeza de que Hitler perdeu. Contudo, n�o pude deixar de perceber que tamb�m ele deixou descendentes.
BOLSONARO
N�o, n�o considero Jair Bolsonaro, o verdugo do Planalto, um nazista. At� porque � t�o mentalmente danificado que qualquer ideologia se perderia dentro daquela
oca e obscura mente doentia
. Mas o bolsonarismo tem, sim, tra�os do nazismo.
Ao assistir a alguns filmes publicit�rios de Goebbels, exaltando a Alemanha grande e a superioridade da ra�a ariana, pregando o exterm�nio dos demais mortais da face da Terra, encontrei assustadoras semelhan�as com o discurso bolsonarista.
A idolatria cega a um l�der psicopata; a perda quase completa da soberania pessoal; o �dio aos ‘diferentes’, seja no contexto pol�tico-ideol�gico ou humano; e as mentiras como m�todo, n�o deixam margem para d�vidas quanto � similaridade das seitas.
BRASIL
Nunca concordei com a tese de que h� racismo no Brasil, mas sempre afirmei que somos um pa�s altamente preconceituoso. Para mim, h� enorme diferen�a - ainda que ambas repulsivas - em espancar um gay e discrimin�-lo por sua orienta��o.
E penso o mesmo em rela��o aos negros ou aos judeus. Sei que h� gente que n�o gosta de mim e que pensa: “judeu FDP’, como se minha ‘filha da putice’ tivesse sua origem na minha religi�o, e n�o no meu comportamento que o desagrada.
Mas nessa ‘era Bolsonaro’, come�o a rever meus conceitos. Quando pessoas dizem querer espancar um casal de homens se beijando, ou desejarem mandar para Cuba ou Venezuela milh�es de brasileiros de esquerda, n�o d� para fechar os olhos.
SA�RAM DO ARM�RIO
Ao que parece, estavam certos os que diziam que o Brasil era um pa�s racista, e eu estava errado. A homofobia � cada vez mais agressiva e expl�cita; a intoler�ncia � diverg�ncia pol�tica beira o fascismo mais ferrenho, e j� n�o h� mais vergonha disso.
Para piorar, nas
hordas bolsonaristas
nas redes sociais, percebe-se que o �dio n�o se restringe a grupos (novos, velhos, pobres, ricos) ou ‘nichos de mercado’, pois ele � visivelmente abrangente e pulverizado. E extremamente feroz!
Odeia-se com todas as for�as os comunistas - para a
cachorrada ac�fala
, todos que n�o gostam do psicopata homicida s�o comunistas. Como odeia-se abjetamente os homossexuais (Bolsonaro prefere um filho morto a um filho gay).
MAS N�O � S�
Crian�as com necessidades especiais s�o discriminadas por essa gente imunda (o
ministro da educa��o n�o as quer
estudando ao lado das crian�as ‘normais’); e os
negros s�o constantemente atacados
pelo presidente da Funda��o Palmares.
O ministro da economia, Paulo Guedes, acredita que empregadas dom�sticas n�o podem viajar de f�rias para o exterior, e que filhos de porteiros n�o devem estudar em universidades. Ali�s, o ministro da educa��o compartilha de tal pensamento.
Tamb�m para Guedes,
velhos n�o deveriam querer viver tanto
, pois causam o rombo na previd�ncia, assim como os pobres poderiam perfeitamente se alimentar com as sobras de comida dos ricos. Se � pouco, tenho certeza de que me esqueci de algo.
COMO QUER�AMOS DEMONSTRAR
Nazistas n�o odiavam e matavam apenas os judeus, n�o. Faziam o mesmo com as crian�as ‘deficientes’. E com os ciganos (os pobres da Europa), os velhos (que n�o podiam mais trabalhar), os homossexuais, os negros, os comunistas.
Hitler imaginou, planejou e prop�s a ‘solu��o final’, aceita por grande parte do seu povo e por diversos outros povos de pa�ses igualmente doentes. Bolsonaro, poucos dias atr�s, declarou que sabe ‘
onde est� o c�ncer do Brasil
’ e como elimin�-lo.
Encerro com a pergunta: o c�ncer se elimina de duas formas; extirpando-o do nosso organismo ou ‘matando-o’ com quimioterapia e radioterapia. O que far� o amig�o do Queiroz com aqueles que considera um c�ncer, ap�s receber a ‘ tal autoriza��o’ dos seus nazifascistas?