Meses atr�s, eu descobri o canal Flow, no Youtube, de dois rapazes muito legais, o Monark e o Igor, por causa de uma treta sobre racismo, que levou um grande patrocinador, o Ifood, a romper seu contrato com os meninos.
Na ocasi�o, enxerguei uma tremenda injusti�a no comunicado da empresa, que deu a entender que um dos rapazes seria racista. Que se note: a declara��o que ele deu foi est�pida e muito mal verbalizada, como � de praxe, ali�s.
A maioria absoluta dos jovens, infelizmente, n�o sabe se expressar. N�o possui vocabul�rio extenso e adequado, e abusa de g�rias e palavr�es. Por isso, quando o assunto necessita de profundidade, costuma, com frequ�ncia, sair porcaria.
Monark, � �poca, deu, sim, a entender, que era racista, mas um observador mais atento - como eu fui - chegaria � conclus�o de que o rapaz havia sido imprudente e, por que n�o?, ing�nuo, ao imaginar-se um pensador moderno.
A partir de ent�o, assisti a um monte de 'entrevistas' dos meninos com personalidades diversas. A maioria, para meu gosto, n�o presta e n�o perdi mais do que alguns minutos, pulando de trecho em trecho.
Outras, contudo, achei bem legais. Sobretudo aquelas em que Monark fala muito pouco ou quase nada. Seu parceiro, o Igor, costuma ser bem mais discreto. Calad�o, limita-se a fazer algumas (boas, �s vezes) perguntas, e s�.
O modelo do programa foi assumidamente copiado de outros, campe�es de audi�ncia nos EUA, e pelo que entendi, foi o precursor no Brasil, dando in�cio ou servindo de inspira��o a dezenas de canais semelhantes.
Podcasts t�m se tornado importantes fontes de opini�o - jamais confundir com informa��o. Infelizmente, alguns canais de grande sucesso acabam influenciando (negativamente) milh�es de pessoas ao redor do mundo.
Agora mesmo, o gigante Spotify encontra-se �s voltas com o mais influente 'podcaster' do momento e alguns dos mais importantes nomes da m�sica mundial, num imbr�glio que terminou com uma derrota coletiva.
O apresentador em quest�o � um anti-vacina e divulga informa��es falsas. Os m�sicos exigiram a exclus�o do programa. O Spotify disse 'n�o' e os artistas cancelaram seus contratos com o 'streamer' de m�sica.
No final do dia, todos perderam: os artistas ficaram sem uma fonte de receita. O anti-vacina foi exposto negativamente, al�m de sua bolha. A empresa perdeu clientes. E a civiliza��o continua sendo alvo de idiotas.
Voltando ao caso do Flow, quem assiste aos programas, se acostumou com as besteiras pensadas e ditas pelo Monark. Grande parte inofensiva e at� engra�ada, se n�o fossem tr�gicas. Mas ele � o que �, e o programa, tamb�m.
Ainda que n�o seja o ideal, ou minimamente adequado, os achismos dos garotos s�o reais e leg�timos. Muitos deles, inclusive, frutos da idade e inexperi�ncia (de vida e profissional). Mas nunca maldosos, posso garantir.
Quando Monark, do alto de suas limitad�ssimas intelig�ncia, orat�ria e cultura geral, defende o direito de n�o gostar de pretos e judeus, n�o est� sendo racista, antissemita. Est� apenas sendo um garoto, b�bado ou drogado, batendo papo com amigos no boteco.
Falta a Monark a capacidade de compreender quest�es mais profundas, como o nazismo, e por isso fala tanta bobagem. Mas claramente n�o h� maldade em suas palavras toscas. Ali�s, claramente - ele e Igor - s�o do bem. S�o bem-intencionados.
Sou judeu e, �bvio!, indigna-me a idiotice dita pelo rapaz, ontem � noite, em seu programa com os deputados Kim Kataguiri e Tabata Amaral. O nazismo jamais pode ser confundido com pol�tica, muito menos tolerado e oficializado.
Monark, coitado, tamb�m n�o faz a menor ideia das diferen�as entre religi�o e etnia. Ele confunde costumes e cultura com ideias e ideais. Mas, novamente, n�o o faz por mal. � simplesmente limitado intelectualmente e ilimitado verbalmente.
A imprensa, a coletividade judaica e todos que t�m manifestado indigna��o e rep�dio �s palavras do rapaz est�o corretos e cobertos de raz�o. Lugar de nazista � na cadeia, e n�o em um parlamento qualquer, mundo afora. Simples assim.
Caso eu fosse patrocinador do programa, abandonaria o barco hoje mesmo. � muito arriscado manter a imagem de uma empresa atrelada a garotos que falam pelos cotovelos, para milh�es de pessoas. Mas jamais os acusaria de antissemitismo.
Acho que, dessa vez, infelizmente, para os garotos, o erro n�o ter� perd�o e o caminho para o fim n�o ter� volta - ainda que eu tor�a para estar errado. Ser� dif�cil encontrar quem patrocine o programa ou personalidade que arrisque a bater papo com eles.
Dias atr�s, Monark profetizou o ocorrido. Disse n�o ter tranquilidade com o sucesso, e que uma besteira sua poderia acabar com tudo. Pois �. Talvez tenha pressentido a pr�pria incapacidade e o risco que ela representa. Uma pena! Gosto muito dos garotos.