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Estado de Minas OPINI�O SEM MEDO

BH Shopping: ricos do Belvedere vivem a realidade das periferias e favelas

Momentos de terror mostraram aos mais favorecidos que, cada vez mais, bolhas ser�o estouradas se nada mudar


08/05/2022 07:51

Vitrine da joalheria Manoel Bernardes, em BH com policiais fortemente armados na frente
Vitrines externas de joalheria assaltada foram cobertas (foto: Mariana Costa/EM/D.A Press)
H� d�cadas a viol�ncia urbana no Pa�s ultrapassou todos os limites do aceit�vel. A cada novo evento tr�gico ou impactante, nossas autoridades correm para as TVs, as r�dios e os jornais e, em tom severo, anunciam o fim da ‘farra’ dos bandidos e extremo rigor dali em diante. Por�m, poucas semanas depois, tudo volta ao normal.

Algu�m disse, certa vez, que ‘no Brasil o pobre morre de fome e o rico morre de medo’. Pois �. Quando o garoto Jo�o H�lio, de apenas seis anos, em 2007, foi arrastado pelas ruas e morto durante o roubo do carro em que estava, no Rio de Janeiro, ouviu-se o tal ‘basta’ que descrevi acima. Pergunto: quinze anos depois, estamos melhores ou piores?

Antes disso, em 2003, um estupro seguido de morte, em Embu, na grande S�o Paulo, vitimou uma jovem de dezesseis anos e seu namorado de dezenove. A como��o parecia prometer dias melhores � sociedade e piores aos Champinhas da vida; ledo engano. Dias atr�s, um rapaz foi executado com um tiro na cabe�a por causa de um celular.


DNA BRASUCA


No Brasil, cerca de sessenta mil assassinatos ocorrem todos os anos. Apenas 3% dos criminosos s�o descobertos, processados e condenados. Por aqui, mata-se por tudo: por briga de tr�nsito, por torcida de futebol, por ci�mes, por tr�fico, por roubo, por pol�tica. A viol�ncia faz parte do DNA do brasileiro e � aceita pela sociedade resignada.

A popula��o elege parlamentares indispostos a endurecer as penas. Elege chefes de executivos indispostos a nomear ju�zes e ministros rigorosos. Conta com igrejas, ONGs e partidos pol�ticos sempre preocupados com os tais direitos humanos (dos bandidos). N�s, cidad�os, escolhemos n�o permitir que o Estado nos puna com o devido e m�ximo rigor.

Sim, aqui e acol�, reacion�rios e extremistas pedem, n�o justi�a e severidade com o crime, mas justi�amento e pena de morte. Quando decapitam cabe�as em Pedrinhas, no Maranh�o, dentro de um pres�dio sob a guarda do Estado, comemora-se como um t�tulo de Copa do Mundo, sem se lembrar que, dessa forma, investe-se em um Estado de Exce��o.


TOLER�NCIA ZERO

Particularmente, sou a favor de penas severas para pequenos crimes; penas muito severas para crimes leves; penas extremamente severas para crimes graves; penas de pris�o perp�tua e de morte para crimes contra a vida e hediondos. E crimes do ‘colarinho branco’ e contra o patrim�nio p�blico devem entrar na roda; chega de impunidade no andar de cima.

Por�m, sei que meu desejo jamais ser� realizado. Jair Bolsonaro, o verdugo do Planalto, que prometeu combater a corrup��o, dizimou a Lava Jato e enterrou as propostas de combate ao crime organizado; inclusive a pris�o ap�s condena��o em segunda inst�ncia. Lula da Silva, o meliante de S�o Bernardo, acredita ser, digamos, justo o roubo de celular.

Ali�s, nossa Suprema Corte, justamente de onde partem os piores sinais para a sociedade, proibiu pris�o para furtos de smartphones e crimes de menor poder ofensivo e impacto econ�mico - pensando bem, at� que � justo, j� que a Casa praticamente pro�be pris�o para furtos bilion�rios de dinheiro p�blico, principalmente a partir de pol�ticos poderosos.


VALE TUDO

Por aqui, a liberdade para delinquir � ampla, geral e irrestrita. Dirigiu b�bado e matou? Tudo bem. A picanha t� cara? Roube uma; se for pego, nada de mais. T� meio tarad�o e sem namorada? Ora, tem deputado apalpando os seios de uma colega, dentro da Assembleia Legislativa de S�o Paulo e… segue o jogo! Ah, assalte a Petrobras e eleja-se presidente.

A garotada, coitada, sofre � be�a. Se s�o ricos, perdem rel�gios, celulares, t�nis, mochilas. Se s�o pobres, bem, a� perdem a vida. Os jovens, idem. S�o assaltados nos carros, nos �nibus e metr�s. Os adultos e idosos… estes j� nem ousam mais sair tanto assim de casa, e apenas rezam a Deus, esperando a volta dos filhos ap�s a faculdade e as festas.

Por falar em pobres, sobretudo aqueles que moram nas favelas e periferias das grandes cidades, imagine o que � viver, dia e noite, � merc� do anjo da morte, que pode chegar atrav�s de um assalto no ponto do �nibus; de um tiroteio no bar; de uma bala perdida na testa; de um policial descontrolado; de um miliciano ou justiceiro encomendado.


BELZONTE NA MIRA

Imaginou? N�o? Bem, centenas de belo horizontinos ricos - ou de classe m�dia - puderam experimentar um pouco do cotidiano dessa gente pobre que citei acima. Neste s�bado (7/5), v�spera do dia das m�es, o BH Shopping, tradicional centro de compras da cidade, situado no Belvedere, bairro de ricos e milion�rios da cidade, assistiu a uma cena digna de cinema. 

Bandidos fortemente armados invadiram o ‘mall’ e limparam uma luxuosa joalheria, disparando tiros para o alto, incendiando carros nas ruas ao redor, enfim, protagonizando uma esp�cie de canga�o urbano moderno. Durante o assalto, as pessoas se atiravam no ch�o, se escondiam sob as mesas, corriam para os banheiros, rezavam e choravam.

Durante o ‘evento’, eu estava no est�dio Independ�ncia, passando raiva com o Galo, presenciando uma ‘v�tima da sociedade’ destruir um bebedouro. Minha filha adloescente estava no Mineir�o, em um show, ao lado do amigo que teve o celular roubado por um ‘jovem carente’. Reparem: � o cotidiano da terceira maior regi�o metropolitana do Brasil.


FAVELAS E PERIFERIA

Repito: imagine este mesmo ‘cotidiano’ nas favelas e nos bairros pobres das periferias das grandes cidades. Deitar no ch�o, com as m�os na cabe�a; se esconder sob a mesa ou a cama; correr para uma loja ou um bar; entregar a bolsa em um ponto de �nibus; ser chantageado, extorquido e apanhar de traficantes - e de maus policiais. Pura rotina!

Onde o Estado se ausenta ou se omite, o crime impera. E quando impera, �s vezes, ultrapassa fronteiras. E quando ultrapassa, choca quem n�o conhece, ou finge n�o conhecer - pois mais c�modo - a vida real do Brasil real, algo muito diferente e distante dos condom�nios horizontais e verticais de luxo, arborizados, com suas guaritas de seguran�a.

Quem se encontrava no BH Shopping durante o assalto p�de, infelizmente, viver de perto as agruras dos pobres do Pa�s. P�de sentir um pouquinho do que sentem os nossos funcion�rios, nossos seguran�as, nossos gar�ons. Espero que, a despeito do infort�nio e do trauma, ao menos tenha sido - um pouquinho! - elucidativo, e os motive a ser melhores.

ENCERRO

N�o. Eu n�o acho que � preciso adoecer, passar por maus momentos, experimentar a quase-morte para que algu�m cres�a, evolua espiritualmente, comece a olhar o outro de forma mais gentil, emp�tica. Mas � ineg�vel a transforma��o que momentos assim podem trazer a quem est� atento, sens�vel ao outro e ao redor. � a isso que me refiro acima.

A elite brasileira - da qual fa�o parte - precisa despertar! N�o d� para morar numa cobertura no Carmo-Sion e fechar os olhos para o Morro do Papagaio. N�o d� para morar em casa de condom�nio em Nova Lima e fechar os olhos para a ‘verdadeira’ Nova Lima, Sobretudo, n�o d� para morar em Bras�lia e fechar os olhos para o Brasil. Simplesmente n�o d� mais.

O assunto do Shopping vai pautar programas na imprensa, debates pol�ticos, conversas de boteco e, como sempre, ir� sumir sem deixar vest�gios ou li��es. Mais uma vez n�o iremos aprender nada nem esquecer nada. Seguiremos com medo de morrer, enquanto os pobres seguir�o morrendo de fome. Simples assim. Triste assim. Eternamente assim.

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