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Estado de Minas OPINI�O SEM MEDO

As bolhas nos emburrecem, nos segregam, nos isolam e propagam viol�ncia

'Abra sua mente. Gay tamb�m � gente. Baiano fala oxente. E come vatap�. Voc� pode ser g�tico. Ser punk ou skinhead. Tem gay que � Muhamed. Tentando camuflar'


14/05/2022 19:42 - atualizado 14/05/2022 19:49

bolhas de sabão
(foto: Pixabay)

Conversando com amigos queridos ontem, reparei nossa dificuldade em discutir assuntos que n�o nos interessam. Algu�m disse: 'o Cruzeiro se classificou (Copa do Brasil), voc�s viram?'. Eu: 'foda-se'. O outro: 'contra quem?'. O quarto: 'nem quero saber'.


Sou da gera��o da imprensa tradicional (com erros e acertos; m�ritos e dem�ritos): jornal, r�dio, TV. Crescemos n�o tendo escolha. Ou l�amos, ouv�amos e assist�amos a tudo - mesmo o que n�o gost�vamos ou n�o nos interessava -, ou ser�amos ignorantes gerais.

Portanto, ao ler o Di�rio da Tarde de segunda-feira e o caderno de esportes do Estado de Minas, no resto da semana, o atleticano conhecia de cor e salteado os resultados, a tabela e a escala��o de todos os times do Pa�s, e assim entendia melhor o futebol brasileiro.

POL�TICA

Na pol�tica se dava a mesma coisa. Quem, hoje em dia, conhece mais do que dois ou tr�s pol�ticos (um que gosta, um que odeia e outro que ouviu falar por a�)? Sim, ningu�m se aprofunda nos bons e maus valores da pol�tica, por isso votamos t�o mal.

Na primeira elei��o ap�s a ditadura militar, em 1989, havia dezenas de candidatos e conhec�amos quase todos. Atualmente, s� queremos saber do nosso escolhido e de um ou outro rival, deixando de prestar aten��o em outras propostas e pessoas.

Como n�o havia variedade de informa��o, todos acabavam conhecendo um pouco de tudo e de todos. Hoje, h� nicho ou segmento para qualquer coisa, o que foca a procura e o interesse, mas desprestigia os demais conte�dos e limita o conhecimento geral.

PICANHA

Por exemplo: algu�m digita 'receita de picanha' no Google e... bingo! Ter� imediatamente ao seu dispor, por ordem de patroc�nio, claro, e n�o de qualidade, mil e uma formas de assar, fritar, cozinhar, fatiar, temperar, misturar, enfim, comer sua picanha.

A pessoa acima (com muita grana, n�, porque picanha n�o � mais para qualquer um), sem d�vida, com alguma habilidade e paci�ncia, ir� fazer a melhor refei��o poss�vel mesmo sem ser uma 'chef', mas resumiu suas possibilidades �quele conte�do.

Com um pouco menos de foco, poderia ter aprendido sobre chorizo, fil� mignon, alcatra e at� mesmo lasanha, feijoada e strogonoff. O que estou tentando mostrar � a nossa ligeireza e aten��o exclusivas apenas ao que nos interessa, sem observar ao redor.

VISEIRA

As pessoas n�o leem mais not�cias, mas seguem aqueles jornalistas que confiam, e ent�o deixam de conhecer outros fatos e vers�es, t�o necess�rios para a forma��o de um correto e mais preciso ju�zo de valor. Conhecer o sabor das massas e das ma��s, entendem?

S� nos informamos sobre o que interessa, com quem interessa e discutimos entre iguais - brigamos com diferentes! Claro, afinal, como discutir civilizadamente sobre algo que n�o fazemos a menor ideia e n�o temos o menor interesse em conhecer; apenas combater?

E quanto mais nos afundamos nesse processo, mais bolhas constru�mos. E quanto mais bolhas constru�mos, mais nos isolamos do mundo real, da vida que existe l� fora e dessa experi�ncia monumental (e ligeira!) que � passar por este 'maravilhoso mundo de merda'.

As bolhas - sejam quais forem - n�o nos agregam; nos segregam! E nos isolam! E nos tornam reativos e violentos com o estranho, com o diferente, tornando o dia a dia mais pobre, resumido, estupidamente limitado e palco de puras ignor�ncia e selvageria.  

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