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Estado de Minas OPINI�O SEM MEDO

Menina Benigna contra meninos malignos: x�!, feminic�dio no Brasil

O lugar das mulheres � o mesmo que o de qualquer homem, ou g�nero que seja. � o lugar reservado para a dignidade e o respeito humanos


25/10/2022 17:57 - atualizado 25/10/2022 17:57

Beatificação da menina Benigna
A solenidade deveria ter acontecido em outubro de 2020, mas devido � pandemia de COVID-19, o Vaticano adiou a data (foto: Divulga��o/Di�rio do Nordeste )
N�o sou uma pessoa religiosa nem tenho muitas cren�as ou o exerc�cio valioso da f�. Sou judeu, fui educado em escolas crist�s, filho de uma esp�rita, casado e genro de cat�licas, portanto, um aut�ntico multifacetado e pluralista em termos espirituais. Ser atleticano talvez signifique minha verdadeira religi�o, hehe. Eis a cruz que carrego.

Contudo, acompanhar de perto a religiosidade dos fi�is me toca muito. O Santu�rio de F�tima, em Portugal, � o local sagrado que mais me impressionou at� hoje, ao lado, claro, do Muro das Lamenta��es e o Santo Sepulcro em Jerusal�m (Israel). A energia e a emo��o estampada no rosto das pessoas � simplesmente impressionante.

Tamb�m sou uma pessoa intimamente ligada �s mulheres. Sempre fui rodeado por elas. Minha av� paterna, minha m�e, minha sogra, minha esposa, minha filha, minha sobrinha que mora conosco… Todas sempre foram personagens muito marcantes na minha hist�ria e sempre serviram como pilares nas minhas horas mais dif�ceis.

H� quatro meses, fa�o, com muito orgulho e alegria, parte do time de comentaristas da R�dio Itatiaia, de Belo Horizonte, a maior de Minas Gerais e uma das maiores do Brasil. Desde ent�o, por estar todos os dias na reda��o, me deparei com um mundo que n�o conhecia, pois sempre enclausurado - e protegido - na minha bolha social.

Passei a ouvir e a comentar, quase diariamente, not�cias terr�veis sobre a viol�ncia contra as mulheres, que ocorre cotidianamente, h� anos, no Brasil. A palavra "feminic�dio" deixou de ser not�cia de TV para se tornar uma triste realidade nos meus dias. O servi�o social que a R�dio presta, ao estar atenta e denunciar a barb�rie, � simplesmente espetacular.

Hoje, durante o programa Conversa de Reda��o, que vai ao ar de 8:40h �s 9:00h, de segunda-feira a sexta-feira, pude falar um pouquinho a respeito. Um dos temas da pauta foi a beatifica��o da menina morta aos 13 anos de idade, em 1941, ap�s ter sido v�tima de viol�ncia sexual, Benigna Cardoso da Silva, em Santana do Cariri, no Cear�.

O nome dessa crian�a parece ter prenunciado seu destino, 80 anos depois. Em tempos t�o malignos e sombrios, o nome Benigna soa como um sopro de esperan�a. Soa como uma lufada de bondade frente � uma sociedade terrivelmente violenta, como a brasileira, e, sim, indubitavelmente machista, sexista e mis�gina, onde homens sentem-se impunes.

A menina foi morta a golpes de fac�o ap�s recusar o sexo com seu algoz. A partir de ent�o, se tornou m�rtir e simbolo, na regi�o do Cariri, do combate � viol�ncia contra as mulheres. Ontem (segunda-feira, 24), o Vaticano finalmente reconheceu o legado de Benigna, ratificando a beatifica��o aprovada pelo Papa Francisco em 2019. Am�m!

Todos os anos, romarias de mulheres, v�timas de viol�ncia dom�stica, ocorrem em busca da prote��o de Benigna.  Entre janeiro e setembro deste ano, quase 14 mil mulheres sofreram algum tipo de viol�ncia no Cear� e 22 foram assassinadas, segundo a Secretaria de Seguran�a P�blica. Ano passado, foram 320 crimes de feminic�dio, fora as subnotifica��es.

O n�mero de mulheres assassinadas no estado � quase o dobro do brasileiro. De acordo com o F�rum Brasileiro de Seguran�a P�blica, 7 a cada 100 mil mulheres foram mortas no Cear� em 2020 (no Brasil, a m�dia � de 3.6 a cada 100 mil). Por isso, Benigna � t�o importante para a regi�o como s�mbolo da resist�ncia � viol�ncia contra as mulheres.

Ainda hoje, h� pessoas - inclusive mulheres! - que culpam as v�timas pela viol�ncia. H� quem credite culpa a uma jovem, por usar roupas provocantes, seu estupro. H� quem credite culpa a uma esposa, por escolher mal o marido, seu espancamento. H� quem diga, e ouvimos isso recentemente, durante a campanha eleitoral, que mulher � “ajudadora”.

Sim. A esposa do presidente Bolsonaro, a primeira-dama Michelle, disse que seu lugar - e o das mulheres - � ajudando o marido. N�o! O lugar das mulheres � o mesmo que o de qualquer homem, ou g�nero que seja. � o lugar reservado para a dignidade e o respeito humanos. � o lugar que quiserem! Para mim, o lugar delas � no Olimpo da minha mais alta prateleira. Eu simplesmente n�o me reconhe�o sem minhas mulheres ao meu redor.

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