
Nos anos 1980, minha fam�lia sofria com uma grave crise financeira e meus pais iniciavam um processo de separa��o que se consumaria dois ou tr�s anos depois. Na escola, me segurava como era poss�vel entre recupera��es, bombas e depend�ncias.
O Atl�tico j� era a minha v�lvula de escape, ao lado do futebol e de horas e horas andando de bicicleta pela cidade, que aliviavam todo o peso do mundo que eu carregava nas costas - peso este que, confesso, s� consegui largar de uma vez, algumas d�cadas depois.
TETRA
Em 25 de novembro de 1981, numa quarta-feira � noite, o Atl�tico venceu o Uberaba por 2x0 e sagrou-se tetracampe�o mineiro antecipadamente (gols de Toninho Cerezo e Tita - jogador horroroso). Dois anos mais tarde, em 1983, o Galo chegaria ao hexacampeonato.
N�o pude ir ao jogo, pois minha m�e, sempre mais rigorosa que meu pai, me proibiu por causa dos estudos. Era fim de ano e eu caminhava a passos largos para mais uma temporada de “quatro recupera��es” no Col�gio Santo Ant�nio. Eita, CSA querido!!
� �poca, como os mais antigos sabem, n�o havia transmiss�o “ao vivo”, pela TV, de jogos do campeonato mineiro no meio de semana. Muito menos havia internet ou pay per view. Era colar o ouvido no radinho de pilha e escutar a partida pela R�dio Itatiaia (AM).
BI-TETRA
Ironicamente, quatro d�cadas depois, tamb�m n�o fui ao Mineir�o assistir ao tetra. Estava em pleno voo, e vejam s�: TV a bordo! Nada de radinho. O menino de 14 anos cresceu e agora tem uma filha, de 17. Mas n�o s�: � comentarista da R�dio Itatiaia - louco demais, n�?
No caminho de Confins para casa, n�o conseguia parar de pensar nessas coisas. Os fantasmas que me afligiam em 1981 n�o passam nem perto em 2023. Sou casado, profissionalmente est�vel e pai de uma adolescente sem grandes ang�stias.
Por outro lado, em comum com os anos 1980, o “p�nico” durante um jogo do Atl�tico. Sim, ap�s a expuls�o do Ot�vio, eu vi, senti e sofri a virada do Coelho, imaginando, como sempre, aquelas cat�strofes que s� acontecem com o Galo. Ou aconteciam.
RUMO AO HEXA
�s v�speras de completar 56 anos, tenho pouco a pedir e muito a agradecer. Principalmente a meus pais, que n�o est�o mais aqui, e ontem n�o tiveram que se preocupar com o “filhinho” que s� piorou em rela��o ao Atl�tico (entendam piorar como quase colapsar durante o jogo).
Imagino que, daqui a dois anos, estarei comemorando mais um hexa, como em 1983. E assim como h� quatro d�cadas, estarei l�. N�o fui nos tetras, como j� disse, mas nos pentas e hexas que vir�o, pretendo estar. Se Deus quiser e o Galo permitir. Eis um dos poucos pedidos a fazer.