
N�o sabemos com certeza porque alguns pa�ses prosperam enquanto outros n�o conseguem superar a pobreza, ou se desenvolvem at� um certo ponto e n�o conseguem seguir adiante. Quando olhamos para tr�s na hist�ria para compreender os diferentes casos de sucesso ou de fracasso, a multiplicidade de fatores envolvidos mais nos confunde do que esclarece. Cada na��o com sua hist�ria, sua cultura, seus recursos, � quase sempre um caso �nico e sua experi�ncia n�o fornece receitas que se pode replicar sem grandes adapta��es.
As ci�ncias sociais de um modo geral, e a economia muito particularmente, com o avan�o das t�cnicas de computa��o e de constru��o de modelos matem�ticos, t�m exagerado sua capacidade de compreender a realidade e de mud�-la com base na raz�o e na ci�ncia. Apesar disso, os pol�ticos, hoje em dia geralmente muito pouco preparados, costumam depositar uma confian�a cega nos economistas e nos cientistas sociais para resolver os problemas concretos que t�m que enfrentar.
H� poucos dias deparei-me com uma advert�ncia de grande humildade num texto de dois ganhadores do pr�mio Nobel de Economia – Abhigit Banerjee e Esther Duflo: "Os economistas, n�s pr�prios inclu�dos, gastam suas carreiras inteiras estudando o desenvolvimento e a pobreza, mas a verdade desconfort�vel � que ainda n�o se tem uma boa compreens�o de por que algumas economias crescem e outras n�o. N�o existe uma f�rmula clara para o crescimento econ�mico."
O fato de o crescimento econ�mico ser um fen�meno complexo, cuja compreens�o requer muito mais do que os recursos intelectuais de que disp�em os economistas e outros profissionais das ci�ncias sociais, n�o significa que n�o possa haver pol�ticas para o crescimento ou que estas n�o possam ter base na raz�o.
A economia tende a tratar as diferentes na��es como entidades abstratas, �s quais se aplicam as mesmas leis. A forma��o hist�rica e cultural imprimem nas sociedades marcas fortes e duradouras que influem nos resultados e nos efeitos das pol�ticas.
Num livro editado recentemente, cujo t�tulo em portugu�s seria A hora dos economistas, o jornalista econ�mico americano Binyamin Appelbaum mostrou, com base em particular na experi�ncia dos Estados Unidos, mas com incurs�es em outras partes do mundo, com destaque para o Chile, nosso vizinho, que a preval�ncia absoluta dos economistas na dire��o das diversas economias, a partir de 1970, provocou muito mais problemas do que benef�cios, concluindo que as sociedades humanas n�o podem ser objeto de experimenta��es te�ricas com graves efeitos na vida real das pessoas. As teorias ao final se mostram incompletas ou mesmo equivocadas, mas suas consequ�ncias perduram.
At� recentemente entre os economistas predominavam professores universit�rios ou servidores da burocracia do Estado, gente com uma vis�o mais aberta da vida econ�mica. Nos �ltimos tempos, a maioria tem vindo do mercado financeiro, que � o destino principal do pessoal com mais talento e ambi��o. O universo do mercado financeiro � muito diferente da economia real e da vida social. Ali o que predomina � o esfor�o m�ximo para antecipar os pre�os dos ativos financeiros e a busca pelo m�ximo ganho, que � a marca distintiva de status. Neste mundo � indiferente se a economia cresce ou n�o, se h� desigualdade ou pobreza. O importante para o Estado � criar condi��es favor�veis para os agentes e investidores. Equilibrio e estabilidade s�o as palavras sagradas.
O crescimento econ�mico e a luta contra a desigualdade s�o quase sempre processos desestabilizadores, e nem sempre ocorrem num ambiente muito ordenado. Mas se quisermos nos tornar realmente uma na��o, no verdadeiro sentido da palavra, crescimento e diminui��o da desigualdade t�m que ser nossos objetivos, nossa utopia verdadeiramente humana.
Para isso, n�o se dispensa o cuidado com as contas do governo, mas os destinat�rios das pol�ticas p�blicas t�m que ser os brasileiros que est�o na base da pir�mide social e n�o os s�bios da Avenida Faria Lima.