
Tomando de empr�stimo uma autodefini��o do grande pensador franc�s Raymond Aron, cuja vida e cujas id�ias de resist�ncia continuam inspiradoras, eu tenho sido um "expectador engajado" da vida pol�tica brasileira, seja sofrendo de longe suas vicissitudes, seja participando, mesmo que marginalmente, de alguns momentos definidores. J� presenciei momentos de vazio pol�tico, nos quais o destino de nosso pa�s parecia esfumar-se sem dire��o, assisti a horas de desordem e de insensatez e, como n�o poderia deixar de ser, vivi tamb�m �pocas de regenera��o e de esperan�a. Por isto assisto com inquieta��o o momento atual, que me parece de grande indefini��o e de aus�ncia de rumo estrat�gico.
Desde o fim do governo Dilma o pa�s deixou de piorar. Negar o desastre econ�mico que estava se formando naquele tempo � um triste exemplo de at� que ponto a opini�o pol�tica pode desfigurar a mente humana, que evoluiu para conhecer e para compreender. � tamb�m fora de qualquer d�vida que os conturbados anos do governo Temer foram de regenera��o, seja no plano das contas p�blicas, seja no controle da infla��o, na grande redu��o dos juros b�sicos e at� no funcionamento da Petrobras.
O atual governo Bolsonaro manteve a mesma dire��o na economia, acrescentando uma reforma da Previd�ncia bastante ampla, que melhora muito as perspectivas futuras do pa�s. No plano das inten��es temos pela frente uma s�rie de medidas que, se efetivamente ocorrerem, v�o permitir que o pa�s retorne para uma trajet�ria de crescimento. No entanto, h� nuvens no horizonte, pois o balan�o das conveni�ncias eleitorais come�a a pesar ainda muito cedo nas decis�es do governo.
O Brasil encontra-se ainda em estado de convalescen�a, inspirando cuidados. � preciso, mesmo que por um tempo limitado, que a maioria da sociedade se esque�a da luta pol�tica, da obsess�o por competir, vencer e prevalecer. E quem tem que dar o primeiro exemplo � o pr�prio governo. Governos deveriam existir para governar e n�o apenas para vencer as pr�ximas elei��es. Sinto no ar uma esp�cie de paralisia pol�tica e pode perfeitamente ocorrer que a coopera��o governo-Congresso, que t�o bem funcionou no primeiro ano, deixe de existir.
Uma outra quest�o que merece discuss�o � a crescente presen�a de militares da ativa, em posi��es que at� o regime militar reservou para pol�ticos civis. O atual governo mant�m uma opini�o de que o os anos de governo militar foram de �xito inquestion�vel e que a transi��o para os governos constitucionais e civis trouxe mais problemas para o pa�s. Est� n�o � a completa verdade hist�rica, qualquer que seja o ponto de vista ideol�gico.
� verdade que nos seus primeiros anos o regime militar promoveu uma grande moderniza��o institucional da economia brasileira, praticamente assentando os fundamentos que funcionam at� hoje. Os resultados econ�micos vieram rapidamente, tal o efeito que a racionalidade exerce sobre o Estado. Abriu-se um novo ciclo virtuoso e o crescimento da economia durou de 1966 at� meados dos anos 70. O que n�o se pode omitir � que esta tarefa foi confiada a especialistas civis como Roberto Campos, Oct�vio Bulh�es e Delfim Neto.
Conclu�do o saneamento da economia e devolvida a ordem � vida social, a volta da normalidade foi desnecessariamente lenta. No plano econ�mico o poder absoluto levou a erros absolutos, quando o governo Geisel imp�s � economia uma marcha for�ada, da qual resultou a volta da infla��o e a insolv�ncia externa.
No cap�tulo final, foi imposta ao pa�s uma longa agonia de seis anos, com o mandato do presidente Figueiredo se arrastando sem apoio da sociedade e sem capacidade de enfrentar os problemas econ�micos, que chegariam ao auge justamente na passagem para o governo civil. A verdade hist�rica � que o governo militar nos salvou, no come�o, de um desastre, mas nos legou, ao final, um novo desastre. � preciso voltar aos fatos para n�o se deixar iludir pelo mito.
Pensar que a sociedade e as institui��es civis s�o um problema � um mau sinal para nosso futuro.