
Nunca me acostumarei com o fato de que os problemas essenciais que afligem o pa�s passem longe das agendas da pol�tica brasileira. Do mesmo modo n�o me conformo com a passividade com que a sociedade reage a esta indiferen�a. Talvez isso seja fruto de uma cultura fatalista e complacente que acha que tudo � como deveria ser e que os homens n�o tem o poder de mudar o seu destino.
A pol�tica brasileira hoje funciona no modo de sobreviv�ncia. A grande maioria dos pol�ticos, estejam eles no Legislativo ou no governo, tem apenas um �nico grande desejo, o de manter suas posi��es no poder. Por isso procuram evitar qualquer grande tentativa de mudan�a, cujas consequ�ncias podem ser rupturas dif�ceis de prever com clareza. Governos e parlamentos usam todos os meios de que disp�em para promover mudan�as triviais e cosm�ticas, fingindo mudar apenas para que tudo fique essencialmente como est�.
A for�a deste desejo de conserva��o tem sido capaz de paralisar um gigante que � este nosso pa�s, t�o rico de toda a sorte de recursos e povoado por uma gente de muitas origens e, na sua maior parte, criativa, inteligente e trabalhadora. Nos �ltimos quarenta anos, ap�s nossa sociedade ter atingido um certo n�vel intermedi�rio de renda e de maturidade, o medo do crescimento e da transforma��o parece ter sufocado nossas energias.
O Brasil tem hoje uma das maiores taxas de desemprego no mundo, em torno de 14,2%. Este pr�prio dado oculta certas particularidades que o tornam mais grave. Do total da for�a de trabalho, al�m dos desempregados, que somam hoje mais de 14 milh�es, temos cerca de 10 milh�es que trabalham sem carteira assinada e 23 milh�es que trabalham por conta pr�pria, ambos os grupos privados de prote��o social.
Todos esses dados mostram como � prec�ria e vulner�vel a vida na maioria das fam�lias brasileiras. Algu�m poder� dizer que grande parte deste estado de coisas � devido � pandemia e �s medidas de isolamento social que foram adotadas para proteger as pessoas. Infelizmente o que � verdade para muitos pa�ses no mundo n�o � verdade para o Brasil, pois a situa��o cr�tica do nosso mercado de trabalho � estrutural e antecede o surgimento da COVID.
Em alguns pa�ses a pandemia provocou muito desemprego e pobreza. Nos Estados Unidos antes da COVID havia praticamente pleno emprego, com apenas 4% da popula��o desempregada. No auge da doen�a, o desemprego subiu para 15%. Passados os piores momentos a taxa de desempregados recuou para 6%. No conjunto dos pa�ses desenvolvidos a pandemia fez o desemprego saltar de 5%, em m�dia, para 9%, mas os �ndices agora j� est�o voltando � normalidade.
No Brasil a situa��o � muito diferente. Nossas taxas de desemprego e a precariedade do trabalho estavam elevadas h� muito tempo. J� em 2018 o desemprego estava em 12,8%. No auge da pandemia, em 2020, a taxa subiu para apenas 13,5% e agora, com a vida voltando aos poucos ao normal, subiu novamente para 14,2%. O alto desemprego no Brasil n�o � definitivamente o resultado das medidas sanit�rias adotadas por estados e munic�pios.
O desemprego no Brasil � uma condi��o estrutural provocada pelo baixo crescimento cr�nico de nossa economia. Nosso pa�s h� muito tempo mostra grande incapacidade de criar empregos porque n�o cresce e n�o investe em novas atividades produtivas.
N�o tenho d�vida de que este � nosso problema principal: empregar os brasileiros dispostos a trabalhar e criar condi��es para que o trabalho por conta pr�pria esteja protegido contra as incertezas da vida econ�mica. Por isto, nossas pol�ticas p�blicas precisam priorizar o crescimento acima de qualquer outro objetivo. E paralelamente assegurar boa educa��o para todos, com �nfase na forma��o t�cnica das pessoas para que elas atendam �s exig�ncias de um trabalho cada dia mais dependente de novas tecnologias.
Se o Estado brasileiro n�o for capaz de fazer isto, em breve todos os seus recursos ser�o pequenos apenas para conter as desordens e a raiva de uma popula��o que perdeu todas as suas esperan�as.
