
A economia brasileira n�o cresce h� dez anos e em 2021 a renda dos brasileiros � menor que a de 2011. Neste mesmo per�odo, a maioria dos pa�ses, avan�ados ou em desenvolvimento, cresceu positivamente, ampliando ainda mais a dist�ncia que nos separa deles. O fracasso da economia brasileira � um mist�rio ainda mal compreendido, dado o tamanho de nossa popula��o e a abund�ncia de nossos recursos naturais. Uma coisa � certa: temos errado demais em mat�ria de pol�ticas econ�micas. Somos v�timas de falhas puramente humanas.
No passado, duas restri��es impediam o pa�s de crescer livremente, ap�s alguns anos de progresso. A primeira era uma infla��o alta e descontrolada, que desorganizava a vida das empresas e dos governos. A outra era uma cr�nica incapacidade de exportar, para dispor de reservas cambiais que pagassem as importa��es e os financiamentos internacionais. Hoje, estas duas restri��es est�o resolvidas. A infla��o, que em 1985 foi de 242% ao ano e que em 1993, logo antes do Plano Real, alcan�ou inacredit�veis 2.477% anuais, hoje oscila em torno da meta de 3,75% ano. Quanto � situa��o cambial, o Brasil registra sucessivos super�vits comerciais, gra�as ao agroneg�cio e � minera��o e acumula reservas cambiais equivalentes a 25% do PIB, cerca de US$ 350 bilh�es.
Mesmo sem restri��es a economia n�o cresce e ultimamente estamos nos empobrecendo. Num pa�s rico e com popula��o pobre o primeiro objetivo da pol�tica econ�mica do governo s� poderia ser o crescimento r�pido e duradouro, que � o �nico caminho para combater de verdade a pobreza. No entanto, cada vez mais este objetivo desapareceu da agenda dos governos e neste momento as autoridades econ�micas professam a cren�a, ou talvez a supersti��o, de que o crescimento � quest�o para a iniciativa privada e n�o para o Estado.
O Brasil, e com ele quase todos os pa�ses, sofreu severamente os efeitos econ�micos da pandemia. O ano de 2020 foi terr�vel para todas as economias mas, todas elas, inclusive o Brasil, usaram largamente o gasto p�blico para mitigar seus piores efeitos. Ao final, as recess�es ficaram abaixo do previsto e a maioria est� se recuperando rapidamente. O Brasil n�o fugiu muito a regra e est� vivendo uma recupera��o moderada, embora a ociosidade dos parques produtivos ainda esteja alta e o desemprego est� em seu mais alto n�vel hist�rico.
Mal o pior passou as autoridades econ�micas j� est�o se apressando para fechar o cerco � economia, seja por meio de um retorno �s restri��es fiscais, seja pelo aumento dos juros b�sicos para combater uma alta espor�dica de pre�os. N�o existe press�o de demanda agregada com desemprego acima de 14% e capacidade ociosa na maioria dos setores. Mesmo assim, para atender as ruidosas reclama��es do mercado financeiro, o Banco Central vem elevando a taxa b�sica de juros e promete continuar a agir no mesmo sentido nos pr�ximos meses, sinalizando para uma taxa de 6,5% no final. N�o consigo deixar de pensar que a alta de juros tornou-se uma esp�cie de cloroquina, uma medica��o "off label" para curar um problema para o qual n�o tem efic�cia.
Esta alta de juros n�o ter� qualquer efeito em rela��o � alta de pre�os que est� ocorrendo mas, em compensa��o, vai aumentar a conta de juros que o governo paga por sua d�vida. Se chegar mesmo aos 6,5%, o custo para o Tesouro ser� superior a R$ 250 bilh�es, dinheiro que vai direto para o bolso de uma minoria de brasileiros.
O Congresso, em p�ssima hora, concedeu autonomia ao Banco Central. Autonomia em rela��o a quem? Ao governo, que sempre respeitou sua independ�ncia. Apenas para torn�-lo mais dependente do mercado financeiro e dos seus economistas, que ocupam sozinhos os espa�os da grande m�dia e que exercem uma influ�ncia desproporcional sobre as autoridades econ�micas. Se eles estivessem sempre certos n�o haveria problema mas, atr�s de sua sabedoria escondem-se uma ci�ncia duvidosa e interesses muito vis�veis. E acima de tudo uma grande indiferen�a pelo destino da maioria da popula��o.
