
Na luta para alcan�ar o poder, os pol�ticos costumam deixar de fora as quest�es morais e os princ�pios que d�o o fundamento da civiliza��o humana. A competi��o pol�tica entre indiv�duos ou na��es est� sempre expondo os piores instintos dos homens. � um espet�culo apenas para quem perdeu toda a sensibilidade. Tudo isso acontece de forma ampliada quando a pol�tica se transforma em guerra, que � a sua forma extrema e sem disfarces.
At� quando a R�ssia iniciou a invas�o da Ucr�nia, minhas preocupa��es estavam voltadas inteiramente para a futilidade e o vazio do debate p�blico no Brasil, al�m da pobreza das op��es eleitorais que se anunciam.
O Brasil parece perseverar no triste destino de ser no mundo o �nico pa�s que � pobre apesar de rico, ou mais claramente, um pa�s que tem tudo, mas sua popula��o n�o tem nada. Vivendo no Brasil e tendo um m�nimo de compaix�o e de sentimento, � imposs�vel n�o sentir tristeza e indigna��o.
Ap�s a agress�o, injusta e desigual, de um dos tr�s maiores ex�rcitos do mundo a um pa�s muito menor, praticamente desarmado e ainda procurando se construir, num tipo de guerra de conquista territorial que todos pensavam havia sido sepultado junto com os restos de Hitler e de Stalin, n�o h� como n�o multiplicar a nossa dor e mudar o nosso olhar.
O cen�rio de destrui��o de casas, ruas, estradas, o inc�ndio das cidades, a fuga de dois milh�es de mulheres, crian�as e idosos, deixando para tr�s toda a sua vida e mais a morte de civis inocentes, tudo isso pela vontade de um tirano, � demais para caber no cora��o de uma pessoa, mesmo longe do palco das atrocidades.
Ningu�m pode estar alheio ao que se passa na Ucr�nia, principalmente nenhum ser humano digno desta condi��o pode deixar de estar ao lado dos ucranianos que est�o sendo mortos, feridos ou desterrados.
N�o h� ideologia, conveni�ncia material ou raz�o pol�tica que possam justificar qualquer outra posi��o, seja de apoio ou de neutralidade. Temos o dever de ser tolerantes com quem afirma ideias pol�ticas diferentes, mas como seres dotados de consci�ncia n�o podemos tolerar a condescend�ncia com a morte e o sofrimento humanos.
Popula��es de todo o mundo levantaram-se em solidariedade aos ucranianos, pressionando seus Estados a reagir de forma in�dita � agress�o militar. As san��es j� impostas t�m o poder de aniquilar a economia russa e o modo de vida da sua popula��o.
S�o uma rea��o proporcional e mais prudente do que o enfrentamento militar, diante da incerteza sobre as condi��es mentais do l�der russo e do alcance de suas fantasias. O esfacelamento da economia pode levar a R�ssia a promover mudan�as pol�ticas que tornem o pa�s menos perigoso para a humanidade.
O que acrescenta mais amargura ao nosso esp�rito � o papel do Brasil nisso tudo. Estamos vivendo como se nada estivesse acontecendo. Uma pesquisa indica que mais da metade dos brasileiros prefere que o pa�s se mantenha neutro, numa demonstra��o de que estamos perdendo a distin��o entre o bem e o mal e a empatia com o sofrimento dos outros.
A pol�tica oficial do governo � de condescend�ncia e toler�ncia. Apesar de votar pela condena��o na ONU, criticou os termos da delibera��o e tem afirmado que as san��es deveriam ser previamente aprovadas pela ONU, como se o direito de veto da R�ssia o permitisse.
Condena o apoio militar � resist�ncia da Ucr�nia, o que � pedir que o pa�s se renda sem condi��es. Por fim, mostra preocupa��o com a poss�vel desestabiliza��o do governo russo em raz�o das san��es econ�micas, como se esta n�o fosse a �nica solu��o poss�vel para o conflito.
Na outra trincheira, as esquerdas hist�ricas e seu candidato vital�cio preferem condenar os Estados Unidos e a Europa pela origem do conflito, por supostamente amea�arem a seguran�a da R�ssia, a grande R�ssia de Putin, democr�tica e socialista, modelo para a prosperidade e a justi�a para os povos da terra. At� para os termos da pol�tica � cinismo demais.
Se, al�m de pobres, estivermos tamb�m perdendo o senso moral, estamos chegando perto do fim de nossa Hist�ria.
