
Nos pa�ses democr�ticos as elei��es s�o o momento culminante da vida pol�tica. S�o um tempo de disputa e de competi��o, mas principalmente uma celebra��o da liberdade e da ordem. Quando este momento se converte num estado de apreens�o e de incerteza � porque algo corrosivo est� ocorrendo no interior da sociedade.
Elei��es s�o indispens�veis �s na��es civilizadas, necessariamente compostas por grupos com opini�es diferentes e com igual direito de chegar ao poder. Como disse o pensador franc�s Ernest Renan; "uma na��o � um plebiscito cotidiano", no qual os cidad�os reafirmam diariamente sua vontade de constituir uma "unidade de destino", como completa M�rio Vargas Llosa.
O velho Arist�teles j� ensinava h� mais de dois mil anos que "uma cidade � composta de diferentes tipos de homens; pessoas semelhantes n�o podem dar exist�ncia a uma cidade." Conviver num mundo de diferentes n�o � portanto, uma livre escolha de nossa parte, mas uma exig�ncia da pr�pria natureza da vida humana, que abomina a homogeneidade e s� se desenvolve na diversidade.
Uma sociedade que se segrega em grupos de iguais, que s� � solid�ria com os seus e que rejeita e agride os que pensam ou s�o diferentes, est� deixando de ser humana e regredindo � nossa mais long�nqua pr� hist�ria. Isto n�o corresponde absolutamente aos nossos instintos primordiais. Se a competi��o tivesse sempre abafado a coopera��o a humanidade ainda estaria vivendo nas cavernas. Se n�o quisermos voltar ou estacionar no tempo, teremos que encontrar os meios de pacificar todos os brasileiros e desfazer os tra�os tribais que conspiram com a necessidade de aceitarmos "unidade de destino", �nico caminho para aspirarmos um futuro melhor para todos n�s.
O Brasil n�o est� condenado nem pela natureza, nem pela hist�ria, a ser um pa�s irrelevante, atrasado e injusto. A verdade, no entanto, � que h� mais de quarenta anos deixamos de crescer com regularidade e de diminuir a dist�ncia que nos separa dos pa�ses desenvolvidos. N�o era isto que todos esperavam de n�s, pois se mantiv�ssemos o ritmo m�dio de crescimento que experimentamos em todo o s�culo XX at� os anos 1980, estar�amos hoje com o n�vel de renda pr�ximo ao da Espanha e de Portugal. O enigma que cerca esta mudan�a de trajet�ria s� pode ser decifrado pelos erros da pol�tica, j� que nenhum desastre de qualquer natureza se abateu sobre n�s.
O fracasso na economia come�ou com a heran�a que nos legou o regime militar e prosseguiu com a Constitui��o que sacralizou os privil�gios da alta burocracia do Estado, manteve um sistema pol�tico sem representatividade e proclamou direitos para todos, mas os assegurou efetivamente para muito poucos. A hist�ria desde ent�o � uma hist�ria de Governos sem maioria pr�pria, tentando mudar a Constitui��o para poder governar. O resultado tem sido quase sempre uma sucess�o de crises, aus�ncia de crescimento, corrup��o e a frustra��o das grandes maiorias sociais. A� est�o as sementes da falta de esperan�a, da raiva e do medo, as verdadeiras fontes deste novo Brasil tribal.
Estamos num ponto em que as elei��es n�o v�o, por si s�, pacificar o pa�s e torn�-lo de novo uma na��o. Resta esperar que nossos erros tenham chegado ao limite e que um evento imprevisto e regenerador nos permita voltar a ser uma na��o.