
Que tal mudar o disco, o pen drive, o provedor de internet? Sente-se aqui, virtualmente, e venha participar de nossa roda de conversa. Vamos compartilhar coisas boas, contar piadas e casos, os piores micos, passagens da inf�ncia e relatos de viagem. A prop�sito, pe�o licen�a para revelar uma das experi�ncias mais transcendentes pelas quais j� passei na vida.
No �ltimo retiro xam�nico em Palenque, no M�xico, no qual tive a oportunidade de estar, m�s passado, nosso grupo de mulheres foi convidado a ter a um contato �ntimo com a natureza. Sa�mos do hotel por volta das 16h, no fuso hor�rio local, levadas a conhecer as famosas cachoeiras da regi�o. O sol j� estava baixo.
Durante o percurso nas vans, discut�amos sobre o motivo de sair atrasadas para o passeio, perto de anoitecer. Isso l� era hora de tomar banho em cachoeira? Parecia loucura das xam�s. A aventura estava s� come�ando. O caminho de terra era �ngreme. Foi preciso descer ladeira, saltar buracos, segurar em galhos de �rvores e cip�s. E depois, como far�amos para voltar no escuro?
Se voc� racionalizasse, perderia a concentra��o, correndo risco de trope�ar e cair. Mais � frente, seguiam as mentoras, que tudo enxergavam. Por fim, chegamos ao po�o da maior cachoeira do lugar. Nova insanidade. Hora de nadar. Tirar t�nis e shorts e, j� com as roupas de baixo, mergulhar na �gua verde-musgo.
Nem todas conseguiram, fosse por medo ou indecis�o. No meu caso, resolvi me entregar ao acaso. J� me preparava para pular de cabe�a, melhor forma de enfrentar o choque t�rmico das �guas geladas das cachoeiras. “Devagar, Sandra. Um passo de cada vez”, alertou a mentora, segurando-me pelo bra�o. Foi a primeira li��o do dia (ou da noite).
Freei o impulso. P� ante p�, entrei devagar na �gua. Surpresa: a temperatura estava morna, acolhedora. Senti mais confian�a. Segurando numa corda (havia uma corda), nadei em dire��o � queda d'�gua. Faltavam poucos metros, mas senti a correnteza me puxando. Era mais prudente retornar. Na volta, havia pedras escorregadias, com limo. Alguns lugares davam p�, outros n�o. Era preciso saber onde pisar. Segunda li��o.
No meio da travessia, novo encantamento. Quem parava um pouco para respirar, lembrava de olhar em volta. Boiando na �gua, soltando o corpo, dava para ver o manto estrelado acima de n�s. Perceber que, a todo tempo, a lua cheia iluminava o caminho. Independentemente de voc� ter ou n�o consci�ncia disso. Terceira li��o.

Havia mais pela frente. Cansada do esfor�o f�sico e espiritual, devido � abertura dos sentidos, era preciso ir embora. E d�-lhe identificar as roupas de cada uma, sapatos e mochilas, em meio � escurid�o. E fazer o caminho de volta. Era necess�rio andar em pares, uma ajudando � outra, cada uma no seu ritmo. N�o adiantava encurtar o passo. Se a colega trope�asse, voc� cairia junto. Resumindo – umas dependiam das outras. Quarta li��o.
Atingimos uma clareira, pr�xima ao estacionamento. Nada de correr para sentar no conforto da van. Vamos dar uma pausa, pediram as mentoras. Dar as m�os, formando um c�rculo. Com frio e fome, o comando parecia imprudente. Mais uma vez, foi preciso acreditar nas xam�s. Em terra firme, orientaram a erguer os olhos para o c�u. Enxergar as estrelas, os contornos da lua cheia. Ter consci�ncia do momento presente. Quinta li��o.
Foi uma parada r�pida, pedag�gica. Se voc� n�o prestar aten��o, a vida passa num piscar de olhos. Para que tanta correria? “Lembrem-se disso: voc� � a sua luz”, finalizou a xam�, sorrindo bondosamente, complacente, como fazemos com as crian�as pequenas. Sexta li��o.
S�tima li��o: somos apenas um ponto brilhante, insignificante diante da imensid�o do universo. somos respons�veis por iluminar as pessoas ao nosso redor. N�o devemos nos esquecer disso. Especialmente agora, nestes tempos dif�ceis.