No question�rio utilizado pelos pesquisadores, os autores usaram o termo maconha para se referir a qualquer tipo de cannabis sativa
O estudo foi feito com 811 pessoas entre 18 e 85 anos. A maior parte da amostra foi composta por mulheres brancas com ensino superior. Os participantes preencheram um question�rio sobre satisfa��o, desempenho e a maneira como usam a planta antes do sexo.
Especialistas ouvidos pela Folha de S.Paulo, por�m, desaconselham o uso com o objetivo de melhorar rela��es sexuais. De acordo com eles, h� alternativas mais eficientes como terapia. O uso recreativo n�o ser liberado no pa�s tamb�m � motivo de alerta, pois n�o h� seguran�a em plantas vendidas em rotas de tr�fico.
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No question�rio utilizado pelos pesquisadores, os autores usaram o termo maconha para se referir a qualquer tipo de cannabis sativa. A t�cnica utilizada para encontrar os participantes foi a chamada "bola de neve", na qual os integrantes convidam novos respondentes em sua rede de contatos.
O estudo "The influence of cannabis on sexual functioning and satisfaction" (A influencia da cannabis no funcionamento e na satisfa��o sexual, em portugu�s), foi publicado em janeiro no Journal of Cannabis Research.
Mais de 70% relataram aumento de desejo sexual e intensidade do orgasmo ap�s consumir a maconha antes da pr�tica sexual. A maioria estava em rela��o monog�mica, e 25% da amostra era LGBTQIA+. Os participantes relataram que a subst�ncia melhorou sentidos como toque e paladar, al�m de aumentar a satisfa��o durante a masturba��o.
Al�m desses benef�cios, as mulheres citaram o aumento da chance de terem orgasmos m�ltiplos na rela��o. Por causa dos resultados, os estudiosos sugerem que essa pode ser uma alternativa para tratar a desigualdade de orgasmo, termo criado pela psic�loga e terapeuta sexual Laurie Mintz no livro "Becoming Cliterate".
Segundo literatura apontada no estudo, 90% dos homens afirmam chegar usualmente ao orgasmo nas rela��es sexuais, enquanto menos de 50% das mulheres vivem a experi�ncia regularmente. O n�mero de mulheres que sempre chega ao orgasmo � de 6%.
"Os resultados desse estudo sugerem que a cannabis pode potencialmente fechar a lacuna de desigualdade de orgasmo", afirmam os estudiosos, que apontam que mulheres com vaginismo ou com pouco desejo podem aproveitar os benef�cios.
Com vontade de relaxar, a consultora de vendas Alexandra Francisco, 26, que n�o participou do estudo, quis experimentar como seria usar maconha antes de ter rela��es sexuais. Segundo Francisco, a experi�ncia a ajudou a se conhecer melhor e intensificou seus sentidos.
"Quando usava, ficava mais � vontade com o meu corpo. Consegui entender onde era e qual era o movimento que me deixava mais
confort�vel", diz. Ela tamb�m afirma que o uso da planta facilitou e intensificou o orgasmo, al�m de tornar as preliminares mais prazerosas.
A psic�loga e arte-educadora Marcelle Louzada, 41, que tamb�m n�o fez parte do trabalho, diz que o uso da cannabis antes do sexo proporciona uma experi�ncia sexual mais fluida e relaxada. "Ainda � um tabu enorme para n�s, mulheres, gozarmos e falarmos do nosso gozo, desejarmos mais do que sermos desejadas. A maconha facilita o gozo de si", afirma.
Em abril de 2021, ela fundou com outras mulheres o coletivo de m�es antiproibicionistas "Segurando as Pontas, cujo foco � maternidade, p�s-parto e o consumo de cannabis. Segundo Louzada, as m�es que participam do grupo citam com frequ�ncia o poder terap�utico da masturba��o e da maconha.
De acordo com Carolina Ambrogini, sex�loga e ginecologista na Unifesp (Universidade Federal de S�o Paulo), o efeito positivo da maconha na sexualidade se d� em decorr�ncia no THC, subst�ncia psicoativa da maconha, que � respons�vel pelo relaxamento.
"Ele tem realmente a propriedade de melhorar os sentidos, como paladar e toque", diz.
Para ela, que coordena o Projeto Afrodite, ambulat�rio de sexualidade feminina do Departamento de Ginecologia da Unifesp, h� alternativas mais adequadas para melhorar a rela��o sexual, como a terapia.
"A melhor forma � entender a sua pr�pria sexualidade, compreender como voc� tem orgasmo e do que gosta. A terapia sexual melhora a vida de forma global e ajuda a quebrar tabus", afirma.
Ambrogini diz que o uso da cannabis pode ser paliativo e trazer riscos ao consumidor, j� que, como a maconha para fins recreativos n�o � legalizada no Brasil, h� pouca seguran�a sobre que subst�ncias se pode de fato encontrar na droga comercializada. Ela tamb�m cita os riscos do uso, como depend�ncia, problemas respirat�rios e o desencadeamento de crises em pacientes com dist�rbios mentais.
O urologista e terapeuta sexual Celso Marzano, que � membro titular da SLAIS (Sociedade Latinoamericana para o Estudo da Impot�ncia e Sexualidade), indica que estudos menos subjetivos sobre a tem�tica podem ajudar a compreender melhor o efeito da cannabis. No caso dos homens, h� pesquisas que citam que a subst�ncia pode ter efeito prejudicial, dificultando a ere��o, por exemplo.
"Eu orientaria o paciente a deixar a maconha de lado e, no consult�rio m�dico, partir para drogas cujos resultado e a��o j� conhecemos profundamente", afirma o m�dico.
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