
“En la vida hay que hacer tres cosas: tener un hijo, plantar un �rbol y escribir un libro.” Em rela��o a essa frase, atribu�da ao poeta cubano modernista Jos� Mart�, cumpri dois ter�os das coisas essenciais que se h� de fazer na vida. Tive dois filhos e escrevi um livro. Falta, agora, cultivar a �rvore. Eu me dei conta disso quando o meu ca�ula resolveu plantar um p� de feij�o no quintal. Quis repetir, por vontade pr�pria, a velha experi�ncia pedida nas escolas.
Gostei da ideia. Ta� uma atividade interessante para propor �s crian�as nessas f�rias inesperadas, que vieram para interromper o calend�rio virtual das aulas, ops, o calend�rio de aulas virtuais. Se continuar assim, 2020 entrar� para a hist�ria como sendo o ano escolar que n�o terminou.
Voltemos �s �rvores. Meu filho inventou de ter o pr�prio feijoeiro. Preparou uma cama com chuma�os de algod�o e deitou nela tr�s sementes. Derramou um pouco de �gua e colocou os gr�os para tomar sol. Conclu�da a miss�o, foi jogar videogame com os amigos.
Meia hora depois, volta o pequeno. “Ser� que o meu feij�o j� nasceu, mam�e?” Devo ter feito exatamente essa pergunta � minha m�e, tr�s d�cadas atr�s. Sorrindo por dentro, reproduzi o carinho de m�e, explicando a necessidade de ter paci�ncia, de esperar o tempo certo das coisas, de ter f�.
E assim foi feito. Ele molhava todos os dias, colocava no sol, tirava do sol, corria os olhos no vaso de cer�mica. Mas nada de novo acontecia. Bastou o menino se cansar de mimar o feij�ozinho, reduzir as expectativas, soltar as r�deas, entregar para Deus. Da�, o desapego abriu terreno para desabrochar a surpresa.
“Brotou, mam�e!”, gritou ele, todo feliz, alguns dias depois. � uma gra�a ver o caule saindo do interior da semente, ganhando vida em plena pandemia, imune ao fim da quarentena, indiferente ao confinamento social.
Mesmo com a abertura, o p� de feij�o n�o sairia correndo de casa. Permaneceria ali plantado, at� segunda ordem, at� pegar um pezinho.
Trocadilhos intrusos (e infames) brotavam da cabe�a da m�e, enquanto ela varria o quintal, regulava o hor�rio do almo�o, lembrava de n�o se esquecer de dependurar as roupas no varal. Era preciso concluir as tarefas urgentemente e arranjar jeito de escrever este texto sobre Bernardo e o p� de feij�o.
Como no conto de fadas, o feij�ozinho seguiria crescendo, crescendo at� alcan�ar as nuvens, �s vezes trombando com terr�veis gigantes. Lutando as pr�prias batalhas.
Antes de se perder novamente em pensamentos, surgiu a d�vida seminal, capaz de abalar a tr�ade da felicidade citada no primeiro par�grafo da cr�nica: plantar �rvore, escrever livro, ter filhos. Afinal de contas, cultivar um p� de feij�o equivaleria a plantar uma �rvore?
Infelizmente, n�o, de acordo com as leis da bot�nica. Ao contr�rio das f�bulas, a muda de feij�o n�o ultrapassa a altura de 50 cent�metros. N�o chega aos p�s (� o �ltimo trocadilho, prometo) do abacateiro, das mangueiras ou do p� de laranja-lima de Jos� Mauro de Vasconcelos, num dos t�tulos mais ternos que j� li.
Na d�vida, eu e meu filho ficamos devendo a �rvore da vida. Logo que der, podemos fazer feito o governo tailand�s, que orientou os cidad�os a n�o desperdi�arem as sementes das frutas. Em vez de jog�-las no lixo, voc� deve reservar esses tesouros, porta-joias naturais, mensageiras da abund�ncia.
� recomend�vel lav�-las, deixar secar ao sol, armazenar em um saco de papel e deixar dentro do carro. Ao sair da garagem, assim que for poss�vel, voc� deve atirar as ‘bombas caseiras de sementes’ em terrenos vagos, canteiros, matas. Foi assim que o governo da Tail�ndia reflorestou o pa�s.
Vamos ajudar a plantar v�rias �rvores, ideias e filhos conscientes. Semear o verde para colher esperan�a. Dias melhores j� est�o vindo. Basta ter paci�ncia.