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Jogo da vida

Ela nunca mataria de prop�sito uma criaturinha da natureza. Poderia, no entanto, alegar leg�tima defesa contra o ataque de pragas


26/07/2020 04:00 - atualizado 23/07/2020 15:35




Os dois irm�os jogavam v�lei no quintal de casa. No meio da partida, o mais novo deles avista uma fileira de formigas invadindo o campo. Desconhecem o perigo iminente. Seguem na labuta, cumprindo a tarefa de carregar folhas com 10 vezes o seu tamanho. Ao v�-las em situa��o de risco, a crian�a interrompe o jogo. "Altas!", pede tempo, sinalizando com o indicador e o dedo m�dio cruzados.

O adolescente vem ver o que est� acontecendo. Com seus t�nis maiores que o mundo, pisoteia sem querer uma parte do grupamento das valentes oper�rias. Ao presenciar a cena, o pequeno d� uma bronca:

– Seu exterminador de formigas!, protesta ele, diante do irm�o atordoado, sem entender direito o que est� se passando.

Fato semelhante ocorreu durante retiro espiritual xam�nico no M�xico, em fevereiro passado, anterior ao estouro da pandemia.

Logo ao acordar, antes de tomar o caf� da manh�, as participantes do evento internacional s�o convidadas a praticar 10 minutos de corrida nas imedia��es do hotel.

Uma delas vai na frente. Indica o caminho e diz palavras de incentivo, traduzidas para o russo, espanhol e ingl�s. De repente, ouve-se o comando mandando frear. Stop! Pare! Det�ngase!

A interrup��o se deve a um alinhamento de formigas mexicanas, imenso. Conectadas � natureza, as candidatas a xam�s esperam passar a boiada, mas a fila de formigas � infinita.

O jeito � saltar las hermanas (as irm�s). Uma das guias permanece vigilante, impedindo outras corredoras sonolentas de cometerem um formiguic�dio.

Com a imagina��o inversa ao tamanho desses obst�culos naturais, vou refletindo sobre o caso, enquanto acompanho o restante do grupo de ginastas apressadas. A fome serve de estimulante para despertar o corpo antes de rumar para a pr�tica de ioga e finalmente, ter acesso ao lanche t�pico da regi�o, com direito a nachos, salsa (molho de pimenta) e feij�es pretos.

Na tentativa de distrair o est�mago, os pensamentos disparam na frente, incans�veis. Afinal, qual seria a pena por pisar em formigas? Como desviar delas todo o tempo? Se foi um ato inconsciente, devido a um problema de vis�o, existe culpa?

Como lidar com o zumbido de pernilongos noite adentro ou com a apari��o de uma cucaracha (barata) no seu quarto?  N�o, ela nunca mataria de prop�sito uma criaturinha da natureza, Poderia, no entanto, alegar leg�tima defesa contra o ataque de pragas como marimbondos, vespas ou a atual nuvem de gafanhotos.

Em meio ao enxame de pensamentos, vem � lembran�a o ensinamento de uma das pessoas mais serenas j� entrevistadas no canal do YouTube Ch� Com Leveza. Numa de suas aulas, o professor de ioga leva os alunos para uma medita��o ao ar livre, no gramado cont�guo � escola.

Convida-os a sentar em posi��o de medita��o, fechar os olhos e respirar fundo, tr�s vezes. Nesse estado da consci�ncia, induz a turma a se aprofundar nos detalhes da natureza.

Notar, por exemplo, que o peso do seu corpo est� sendo suportado pela relva, que, por sua vez, repousa sobre o tapete de terra marrom. Na camada de baixo, vivem centenas de milhares de vidas, desde minhocas, carac�is e formigas a manifesta��es microsc�picas, invis�veis a olho nu.

Certamente era outra a inten��o do mestre, mas a aluna irriquieta, no caso eu, calculei ter esbarrado numa multid�o de seres vivos at� a chegada ao jardim. Melhor mudar de assunto, rebobinar pensamentos, voltar ao in�cio de tudo.

Na abertura do texto, havia um impasse entre o ca�ula, inconformado com a morte das formigas; e o mais velho, prestes a ser condenado por crime culposo, sem inten��o de assassinar as inimigas da partida de v�lei. Quanto a mim, fui intimada a ocupar a desconfort�vel posi��o de ju�za do tribunal familiar, sob protestos. Preferiria continuar lendo meu livro, mas venceu a lei dos mais fortes.

O julgamento foi r�pido. O dilema j� havia sido solucionado, antes mesmo da apresenta��o dos argumentos de parte a parte. Na verdade, os meninos mudaram de lugar os chinelos (que marcavam as linhas do campo), preservando, assim, o direito de ir e vir do restante das formigas.

O pimpolho foi consolado pelo irm�o com um abra�o carinhoso. O pequeno ainda tentou protestar em rela��o aos cad�veres das formigas espalhados pelo ch�o, mas o advers�rio n�o deu linha. Em vez disso, deu bola ao jogo em andamento, simulando um saque matador (por precau��o, talvez fosse melhor eliminar esse adjetivo). Vidas que seguem.

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