
O universo anda inventando pegadinhas para me deixar mais leve na pandemia. Mostrando que � preciso manter a calma. Logo chegar� a vez na fila da vacina. Eu pensava sobre isso ap�s conversar com uma amiga ao celular. Do outro lado da linha, ela parecia bem aflita. Falava rapidamente, trope�ando nas palavras, sem pausa para respirar. Conduzia a conversa, ao mesmo tempo em que lavava vasilhas, atendia ao chamado do filho e listava compromissos de trabalho.
Fiquei sem f�lego por ela e senti necessidade de tomar um ar na janela. Funcionou. O c�u estava bem azul e o sol brilhava, como sempre. Deu um certo al�vio.
Ap�s inspirar fundo, percebi algo que nunca havia notado antes, morando na mesma casa h� dez anos. Meu quarto de dormir tem uma janela lateral, de onde vejo uma grade, uma igreja e um muro branco.
Vi um voo p�ssaro. Era um velho sinal. “Voc� n�o quer acreditar, mas isso � t�o normal...”, me peguei cantando a m�sica de L� Borges e Fernando Brant. Fiquei rindo sozinha, sem entender como nunca havia percebido a materializa��o da can��o na minha frente, ou melhor dizendo, na lateral de casa.
A vida continuou contando piadas, cutucando e fazendo cosquinhas. Insistia em me deixar alegre.
Outro dia, senti uma dorzinha no bra�o. Devia ser um desses machucados que nascem por gera��o espont�nea, sem origem determinada, esbarrando aqui e ali. Seria uma picada de pernilongo? Um arranh�o? Veio o clique. Eu estava com dor de cotovelo. � s�rio.
Me peguei rindo sozinha, pensando de onde viria essa express�o. Passei pela floricultura do bairro com a inten��o de levar um buqu� de sempre-vivas. � curioso. Por que as sempre-vivas levam esse nome se est�o mortas?
Fico esperando um novo gracejo da natureza. N�o demorou. Ele veio quando perdi o controle, literalmente.
Sumiu o aparelhinho de abrir o port�o da garagem, bem na hora de sair. Fiquei desorientada, procurando por todo lado. Na bolsa, debaixo do banco, no porta-luvas. Nada. Parei de procurar, respirei fundo e relaxei. Entreguei para Deus.
Ent�o eu o encontrei no compartimento da porta, no lado do motorista, abaixo da janela lateral, desta vez a do carro.
Achei gra�a. Muitas vezes, � preciso sair do controle para a gente se encontrar. “Quer um conselho? Solte”, disse uma entrevistada do canal do YouTube Ch� Com Leveza.
Na �poca, a sugest�o dela n�o fez sentido algum. Mas, por falta de op��o, me liberei das amarras. E encontrei o meu caminho.
Voltando ao tempo presente, abri o port�o, soltei o freio e segui.
Aproveitei o embalo para fazer a terapia do riso.
Recebi a orienta��o de rir 10 minutos ao dia. � impressionante como muda o nosso estado de humor e os problemas diminuem de tamanho. Em lugar do choro do vitimismo, voc� se obriga a dar gargalhadas que podem ser falsas, sem motivo, mas enganam o c�rebro. Ele compreende que voc� est� feliz e libera endorfina. Da� voc� fica feliz.
Segui dirigindo �s gargalhadas. Ao chegar no consult�rio da dentista, dei de cara com a placa: “Sorria voc� est� sendo filmado”.
A vida est� me ajudando a cumprir a cota de alegria. A ser mais feliz a cada dia.