
(Por Juraciara Cardoso)
Dona Alma � uma mulher de 73 – quase 74 anos –, de se admirar: faz gin�stica localizada, logo em seguida, dan�a; e, por fim, ainda vai para a aula de ioga para relaxar, e tudo em um �nico dia! Como se n�o bastasse, ainda cuida do pai, da fam�lia e do comando de um lar. Quando questionada a raz�o de tanta vitalidade, ela apenas sorri um sorriso doce e nos conta que � porque ela e toda a sua fam�lia sempre foram “doidinhos”.
Dona Alma �, literalmente, a alma da aula de gin�stica localizada: enquanto toda a turma j� est� desfalecida de tanto cansa�o, l� est� ela a nos fitar com seus olhinhos meigos, quase infantis, nos mostrando o caminho que devemos seguir se quisermos ser pelo menos parecidos com ela. Ela n�o se recusa a fazer nenhum movimento, nunca reclama e est� sempre pronta para mais uma s�rie.
Mas o espet�culo verdadeiro � ver Dona Alma dan�ar logo ap�s a aula de gin�stica! Seus movimentos, n�o t�o r�pidos como os de outrora, buscam os passos do professor a todo instante. Ela n�o se desconcentra um minuto sequer e em seus rodopios nos faz sonhar em ser um dia como ela. Com seu bailado, Dona Alma nos mostra for�a, coragem, esperan�a, inspira��o e muita alegria de viver.
E para relaxar, depois da maratona, Dona Alma ainda faz ioga. A turma � sempre cheia e s�o poucas as pessoas que conseguem se movimentar como ela. Coloca as m�os na ponta dos p�s, gira, se desdobra e nos deixa tontos com sua mobilidade e conhecimento dos limites do seu corpo. O bal� que seu corpo faz nas aulas e o sempre presente quase-sorriso no rosto s�o indescrit�veis, s� mesmo vendo para entender.
Dona Alma inspira, mas tamb�m instiga: qual ser� o segredo desta mulher incr�vel?
Claro que n�o temos a resposta, pois Dona Alma � algu�m que encontramos duas vezes na semana na academia e s� sabemos dela o pouco que narramos acima, mas podemos tentar encontrar pelo menos algumas raz�es para tanta vitalidade e para tanto amor � vida.
Uma possibilidade que nos parece plaus�vel � que Dona Alma n�o sente vergonha de ser quem �, da idade que tem ou do seu corpo! Ela n�o se importa em fazer todos os exerc�cios impecavelmente, ela apenas os faz respeitando os limites do seu corpo. Quando vai dan�ar ela se diverte acima de tudo e n�o se preocupa com o que os outros est�o achando de sua performance como dan�arina – apesar de ser incr�vel! E quando se estica na aula de ioga ela est� apenas preocupada com o bem-estar do seu corpo e do seu esp�rito. Ela n�o est� ali para e nem por ningu�m, ela est� por ela, por um compromisso de amor que assumiu consigo mesma.
� tamb�m poss�vel que Dona Alma seja algu�m que est� em paz com as escolhas que fez durante a vida e isso d� a ela esse ar t�o jovial, de modo que sua velhice representa o resultado de uma vida feliz.
Mas a possibilidade que nos parece mais real � aquela que Dona Alma mesma nos contou sobre ser “doidinha”. Na vida somos convidados a sermos racionais e colocar a raz�o acima das nossas emo��es. Mas ser� esta mesmo a melhor forma de se viver? Ser� que n�o devemos deixar de ser t�o racionais e nos tornarmos um pouco “doidinhos” como Dona Alma?
Com toda certeza Dona Alma n�o tem problemas mentais. A “doidice” de Dona Alma � aquela que a liberta dos grilh�es que ainda nos acorrentam e tanto nos atormentam. Ela certamente se importa mais com o seu pr�prio bem-estar, com a alegria da conviv�ncia, com a beleza de estar viva do que com futilidades. Ela n�o est� mais preocupada com o que pensam sobre ela, pois se tornou p�ssaro e voa sobre n�s com suas lindas penas coloridas: plena de sua beleza e de sua singularidade.
Em vez de aceitarmos o convite do mundo para nos tornarmos cada vez mais racionais, sejamos todos “doidinhos” como Dona Alma, quem sabe assim aos 73 – quase 74 – n�o possamos ser pelo menos um pouquinho parecidos com esta mulher inspiradora!