(none) || (none)

Continue lendo os seus conte�dos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e seguran�a do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/m�s. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas VITALidade

Juventude � elogio?

O que devemos � evitar a tenta��o de valorizarmos demais a juventude, deixando para o envelhecimento apenas adjetivos ruins


05/12/2022 06:00 - atualizado 01/12/2022 17:03

Jovens tiram foto de quadro com imagem de homem velho
� preciso mudar o foco no processo de envelhecimento: o corpo n�o precisa estar jovem, sem rugas ou marcas para ser bonito, pois bonita mesmo � a alma de quem soube envelhecer mantendo-se atualizado, antenado e sempre aberto ao novo (foto: PxHere)
O desejo pela juventude eterna n�o � uma novidade do s�culo XXI, se olharmos para a hist�ria da humanidade o veremos desde tempos imemoriais. Os gregos associavam o envelhecimento ao castigo, algo parecido ao que fez o Cristianismo, ao dizer que no Para�so �ramos imortais, portanto, n�o envelhec�amos, e que, ap�s desobedecermos a Deus, sofremos como castigo o envelhecimento e a morte.
 
Na literatura s�o fartos os exemplos de personagens que trocaram a pr�pria gest�o da vida em nome da juventude. Oscar Wilde nos deu um dos mais belos exemplos pelo desejo de juventude eterna – e o mal que isto pode acarretar – em seu brilhante livro O Retrato de Dorian Gray. Durante toda a narrativa o personagem � atormentado por seus fantasmas, o que o leva a atitudes ruins, todavia, seu decl�nio moral nunca pode ser visto em sua pr�pria face, j� que ele nunca envelhecia.

Frequentemente vemos pessoas se sentirem profundamente envaidecidas quando outras, ao fazerem uma observa��o sobre sua apar�ncia, se referem ao fato delas n�o parecerem ter a idade que tem, como se juventude fosse um elogio e, consequentemente, as rugas fossem algo para se esconder.

Em tempos de etarismo, que � o preconceito que os mais velhos sofrem em raz�o de sua idade, nunca � demais lembrar que envelhecer � parte da exist�ncia e n�o devemos associar o envelhecimento a algo que deva ser mitigado ou disfar�ado, tudo em nome da infantil ideia de juventude eterna.

Quanto mais demoramos para assumir nosso inafast�vel processo de envelhecimento, pior pode se tornar nossa maturidade. Se eu acredito que a beleza est� na juventude e que estar jovem � um elogio, quando as inegoci�veis rugas aparecerem eu certamente n�o terei meios internos para lidar com elas. Ao inv�s de marcas cunhadas pelo tempo, que representam tamb�m nossa evolu��o, vamos passar a velhice correndo atr�s da juventude e tentando mitigar os efeitos inexor�veis do tempo.

N�o queremos dizer que procedimentos est�ticos devem ser evitados, nem estamos incentivando uma vida sem os cuidados de beleza, ao contr�rio, cada ser humano deve ser livre para escolher entre se submeter ou n�o a procedimentos est�ticos e n�o h� mal algum nisto. O problema � quando tais procedimentos s�o usados como meios de mascarar nosso horror ao fato de estarmos envelhecendo. 

O que devemos � evitar a tenta��o de valorizarmos demais a juventude, deixando para o envelhecimento apenas adjetivos ruins. � preciso mudar o foco no processo de envelhecimento: o corpo n�o precisa estar jovem, sem rugas ou marcas para ser bonito, pois bonita mesmo � a alma de quem soube envelhecer mantendo-se atualizado, antenado e sempre aberto ao novo. 

Hebe era a deusa da beleza dos gregos. Filha de Zeus e Hera, tinha por finalidade servir aos deuses do Olimpo a ambrosia, alimento divino que, quando dado os mortais, os fazia sentir-se como se imortais fossem. Estudiosos a consideram uma deusa menor, j� que sua fun��o era apenas a de servi�al dos deuses. 

A juventude, assim como a deusa, deve servir ao ser humano apenas em seus aspectos menores, nunca al�ada � categoria de valor supremo, que deve ser perseguido a qualquer custo. Para os gregos cada um de n�s tem uma fun��o espec�fica no mundo e, para n�o atrapalhar a harmonia do cosmos, devemos atuar de modo a encontrar nossos talentos e, com isto, fazer nossa parte na constru��o do todo: e ser jovem a qualquer pre�o est� longe de definir nossa posi��o na ordem das coisas.

Para os gregos, a beleza e a juventude, relacionadas ao frescor e ao vigor da vida, deveriam estar a servi�o do divino – e n�o do sujeito que as tem. A verdadeira beleza que a juventude oferece � a beleza de cora��o, a pureza de prop�sitos, a capacidade de sempre acreditar e come�ar novamente. A maior tarefa de um jovem grego era tornar-se um ser humano obra de arte e ele sabia que a juventude deveria ser vista como auxiliar, nunca como protagonista, pois compreendida que toda beleza se traveste de feiura quando n�o reflete a beleza do cora��o de seu possuidor. 

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)