'A educa��o brasileira precisa passar por uma grande reforma'

 

"A educa��o brasileira precisa passar por uma grande reforma. O cen�rio � desolador e, para mudar, h� tr�s fatores decisivos: implanta��o do Plano Nacional de Educa��o, revitaliza��o da figura do professor e retomada do investimento em ci�ncia e tecnologia.

O Plano Nacional de Educa��o � de 2014 e prev� o investimento de 10% do PIB na �rea at� 2024. Ele enumera as 20 metas decisivas para conquistar uma educa��o de qualidade nos diversos n�veis. Deveria ser implementado no espa�o de alguns anos; no entanto, na pr�tica, o PNE est� esquecido.

Nenhuma das metas foi cumprida e n�o existe sequer um plano de a��o com previs�o de recursos, cronograma ou responsabilidades. Tamb�m n�o h� articula��o entre munic�pios e estados para que as iniciativas sejam integradas e as reformas n�o se tornem uma “colcha de retalhos”.

O segundo fator � um item que, embora esteja contemplado de certo modo no PNE, merece um olhar espec�fico e mais abrangente. � a revitaliza��o da figura do professor. Remunera��o? Sim, mas � preciso muito mais do que isso. H� no pa�s uma desvaloriza��o moral da figura do professor, manifestada pelo pr�prio descaso e desprezo de estudantes e suas fam�lias.

A essa quest�o se somam outros problemas, como a falta de infraestrutura das escolas, divis�o da carga hor�ria do educador entre in�meras institui��es e dezenas de turmas, defici�ncias na forma��o inicial e falta de recursos para aperfei�oamento profissional. O resultado s�o professores frustrados e decepcionados, que buscam outras carreiras. E o que mais preocupa: � cada vez menor o n�mero de jovens que querem atuar no magist�rio.

"O pa�s � cada vez mais associado a commodities e menos � tecnologia. Se seguirmos por esse caminho, o Brasil se converter� em um grande celeiro, que vive s� dos frutos de uma economia prim�ria e depende dos demais para o resto"

Andrea Ramal, educadora, escritora, consultora em educa��o e doutora em educa��o pela PUC-Rio

Por fim, n�o podemos nos esquecer do investimento na �rea acad�mica, em pesquisa e inova��o. O Brasil vem sofrendo com cortes dr�sticos em ci�ncia e tecnologia, penando com a evas�o de talentos e a deteriora��o das universidades p�blicas – e, com elas, de seus projetos de pesquisa, o que estanca a evolu��o das ideias e da ci�ncia.

O pa�s � cada vez mais associado a commodities e menos � tecnologia. Se seguirmos por esse caminho, o Brasil se converter� em um grande celeiro, que vive s� dos frutos de uma economia prim�ria e depende dos demais para o resto. N�o temos ind�strias, n�o temos desenvolvimento de tecnologias em �reas decisivas. Esse cen�rio, associado � falta de ensino b�sico de qualidade, deixa os brasileiros sem perspectivas, num mundo altamente competitivo e em cont�nua evolu��o.

Em educa��o n�o h� passe de m�gica. Os benef�cios obtidos a partir de investimentos, incentivos e implanta��o de pol�ticas efetivas demoram a aparecer. Como todos sabem, mesmo se come��ssemos a mudar agora, seriam necess�rias d�cadas para alcan�ar o t�o esperado salto de qualidade, que vai influenciar no n�vel de desenvolvimento do pa�s. Algo que as sociedades de na��es asi�ticas, como Coreia, China e Cingapura, j� entenderam h� tempo."

Andrea Ramal, educadora, escritora, consultora em educa��o e doutora em educa��o pela PUC-Rio