Estado de Minas 90ANOS

Conhe�a o segredo da escola municipal n�mero 1 do Ideb em BH

A Escola Municipal Padre Marzano Matias, no Bairro Rio Branco, em Venda Nova, � a melhor da capital no �ndice de Desenvolvimento da Educa��o B�sica


postado em 18/10/2018 06:00 / atualizado em 18/10/2018 14:22

Júlio Cezar Matos Pereira, diretor da escola de Venda Nova campeã do Ideb em Belo Horizonte: fórmula do sucesso contempla disciplina e responsabilidade (foto: Beto Novaes/EM/DA Press)
J�lio Cezar Matos Pereira, diretor da escola de Venda Nova campe� do Ideb em Belo Horizonte: f�rmula do sucesso contempla disciplina e responsabilidade (foto: Beto Novaes/EM/DA Press)


Quando se caminha pelo terreno da educa��o, nota-se com facilidade que problemas existem, e aos montes. Mas � fato que, se nas �ltimas nove d�cadas surgiram desafios no ensino, muita coisa tamb�m evoluiu. E a escola mudou. Principalmente o perfil de quem entra. De uma era em que o la�o no cabelo das meninas era sin�nimo de poder e dinheiro em sala de aula para uma �poca na qual o acesso � educa��o � quase universal. De quando praticamente s� os filhos da elite tinham a oportunidade de se tornar “doutores” para o presente, em que pelo menos 50% dos estudantes de escolas p�blicas, entre eles negros e pobres, t�m direito garantido de entrar na universidade. Em meio a avan�os e retrocessos, foi preciso medir a quantas anda o ensino, tra�ar metas e buscar melhorias. Nas �ltimas tr�s d�cadas, avalia��es foram criadas pelo governo federal para ser aplicadas em col�gios e universidades e mensurar n�o s� o n�vel de aprendizado, mas tamb�m verificar a estrutura pedag�gica e f�sica das institui��es. Os �ltimos n�meros mostram que, se de um lado a democratiza��o � real, por outro est� posto um longo caminho de aperfei�oamento da qualidade.

Diversas siglas, que se traduzem em n�meros, t�m uma finalidade comum: avaliar o ensino e aprendizado nas salas de aula Brasil afora e o tamanho dos desafios no setor. Algumas s�o bem espec�ficas e medem os n�veis de alfabetiza��o, leitura, escrita e matem�tica. Outras d�o o panorama geral, fazendo um verdadeiro censo da educa��o b�sica e superior, sem contar a mais popular delas, o Exame Nacional do Ensino M�dio. Criado em 1998 para avaliar o n�vel dos concluintes do ensino b�sico, cresceu e tomou propor��o tal que, hoje, sua nota � condi��o e passaporte para garantir uma cadeira na universidade.

Desde a implanta��o do Sistema Nacional de Avalia��o da Educa��o B�sica (Saeb), em 1990, o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais An�sio Teixeira (Inep), bra�o do Minist�rio da Educa��o (MEC), produz indicadores sobre o sistema educacional brasileiro. A cria��o da Prova Brasil, em 2005, e do Ideb, dois anos depois, tamb�m se transformaram em marcos do diagn�stico do ensino no pa�s. J� a Provinha Brasil visa a investigar as habilidades desenvolvidas pelas crian�as matriculadas no 2º ano do ensino fundamental das escolas p�blicas brasileiras. Composta pelos testes de l�ngua portuguesa e de matem�tica, permite aos professores e gestores obter mais informa��es que auxiliem o monitoramento e a avalia��o dos processos de desenvolvimento da alfabetiza��o e do letramento inicial e das habilidades iniciais em matem�tica.

O �ltimo Saeb revelou uma cat�strofe na educa��o b�sica e mostrou n�meros absolutamente preocupantes. Divulgado no fim de agosto �ltimo, mostrou que � �nfima a porcentagem de alunos do 5º e do 9º anos do n�vel fundamental com conhecimento adequado em portugu�s e matem�tica. Pior ainda � a situa��o do 3º ano do ensino m�dio, s�rie na qual sete em cada 10 jovens n�o conseguiram sequer aprender o b�sico. Minas Gerais e Belo Horizonte acompanham a derrocada nacional, com n�meros ruins de uma ponta � outra. No limbo est� o 9º ano, que anuncia o fracasso do ensino m�dio e, por isso, merece aten��o especial.

"Trabalhamos com o objetivo de melhorar n�o s� a nota, mas melhorar a educa��o. O aluno n�o tem a op��o de vir brincar ou n�o fazer atividades"

Aliny Francisca Pereira, coordenadora-geral da Escola Municipal Padre Marzano Matias

  

Na sequ�ncia, o �ndice de Desenvolvimento da Educa��o B�sica (Ideb) reafirmou o mal cr�nico que acomete a educa��o brasileira. O Ideb do ensino m�dio avan�ou apenas 0,1 ponto percentual em 2017. Apesar do crescimento observado, o pa�s est� distante da meta projetada: de 3,7, em 2015, atingiu 3,8 em 2017 – pouco, diante do objetivo de 4,7. Em Minas, a evolu��o foi de 3,7 em 2015 para 3,9 no ano passado.

O Ideb � uma iniciativa do Inep, com o objetivo de avaliar o sistema educacional brasileiro a partir da combina��o entre o desempenho dos estudantes no Saeb e a taxa de aprova��o na educa��o b�sica. Tem uma escala que vai de zero a 10 e � feito a cada dois anos. A cada edi��o, uma meta � estabelecida.

A avalia��o do ensino mais recente, divulgada m�s passado, � o Censo da Educa��o Superior 2017. Ele revela que o n�mero de ingressos em cursos de gradua��o a dist�ncia tem crescido substancialmente nos �ltimos anos, aumentando sua participa��o no total de calouros de 15,4% em 2007 para 33,3% em 2017. Com mais de 6,2 milh�es de alunos, a rede privada tem tr�s em cada quatro estudantes da gradua��o e participa��o acima de 75% na fatia da educa��o superior. 

A professora Rosimary Prado com turma do 5º ano: alunos participam de concursos e exposições e recebem prêmios por desempenho (foto: Beto Novaes/EM/DA Press)
A professora Rosimary Prado com turma do 5� ano: alunos participam de concursos e exposi��es e recebem pr�mios por desempenho (foto: Beto Novaes/EM/DA Press)


Diagn�stico para definir o rem�dio

Sinalizar a gestores, escolas e redes habilidades e objetivos que precisam ser melhorados. Para o diretor do Interdisciplinaridade e Evid�ncias no Debate Educacional (Iede), Ernesto Martins Faria, a import�ncia das avalia��es no setor de ensino n�o tem discuss�o. O erro, segundo ele, foi ter avan�ado nessas avalia��es antes de se fixar um curr�culo nacional. “O n�mero de escolas com bom desempenho subiu muito depois que o Saeb (Sistema Nacional de Avalia��o da Educa��o B�sica) passou a ser censit�rio, em 2005, o que aumentou o olhar para as institui��es de ensino e trouxe um acompanhamento maior. Outro ponto positivo � que as avalia��es federais acabam gerando dados para as escolas fazerem as suas pr�prias avalia��es”, afirma. 


E se � verdade que os n�meros permitem procurar melhorar cada vez mais, tem gente tirando a li��o de letra. Em Belo Horizonte, a Escola Municipal Padre Marzano Matias, no Bairro Rio Branco, em Venda Nova, � a melhor da capital, segundo o �ndice de Desenvolvimento da Educa��o B�sica (Ideb). E o feito tem dose dupla: tanto nos anos iniciais quanto nos anos finais do fundamental. Enquanto o �ndice da rede municipal de BH ficou em 6,3 nos anos iniciais, o da escola foi de 7,6, superando em 0,4 ponto a meta fixada para a institui��o. Nos anos finais, BH nem alcan�ou a meta (5,1), ficando com 4,9. J� o col�gio teve nota 6,2, novamente acima da proje��o (6,1).

O segredo passa pela disciplina e a responsabilidade, garante o diretor, J�lio C�zar Matos Pereira. Aulas diferenciadas em determinadas disciplinas e a��es acolhedoras, para realmente integrar os alunos deficientes, salas de aula e laborat�rio equipados e programas de incentivo n�o s� a quem tem as melhores notas, mas �queles que precisam se recuperar s�o marcas registradas da escola, que tem lista de espera chegando a at� 40 nomes em algumas s�ries.

Recupera��o paralela e refor�o d�o oportunidade a quem est� com a nota abaixo do desejado. Nos programas de enturma��o, o aluno vai, momentaneamente, para uma nova turma formada por crian�as com as mesmas dificuldades, at� elas serem sanadas. Premia��o de alunos destaque reconhece o trabalho de quem se esfor�ou e tentou melhorar. Concurso de poesias, campeonato de fatos, feira de ci�ncias, exposi��o de jogos matem�ticos criados pelos pr�prios alunos e escola integrada ligada � programa��o convencional do col�gio fazem a diferen�a, segundo os educadores.

Edição de 31 de agosto de 1998 destacou a cobertura ao primeiro exame de avaliação do ensino médio
Edi��o de 31 de agosto de 1998 destacou a cobertura ao primeiro exame de avalia��o do ensino m�dio
A participa��o � maci�a nas olimp�adas e competi��es promovidas pelos governos federal, estadual ou municipal, como as de matem�tica, portugu�s e astronomia. E todo ano tem medalha, garante a coordenadora-geral, Aliny Francisca Pereira. “Trabalhamos com o objetivo de melhorar n�o s� a nota, que � apenas um n�mero, mas melhorar a educa��o”, diz.

A linha de trabalho dos professores cobra de todos responsabilidade, respeito e envolvimento dos alunos e das fam�lias com a educa��o. Se algo n�o vai bem, pais e respons�veis s�o intimados a comparecer ao col�gio, nem que para isso se tenha que acionar o Conselho Tutelar. Os resultados s�o bons n�o apenas no Ideb. No Programa de Avalia��o da Alfabetiza��o (Proalfa), a escola tamb�m foi o destaque da capital.

Nas turmas do fundamental 2, os alunos � que mudam de sala, permitindo aos professores terem salas ambientadas e valorizadas com material docente e pelos trabalhos dos estudantes. “A nossa l�gica de trabalho e o incentivo � frequ�ncia permeiam todas as s�ries. As iniciais s�o mais f�ceis, porque h� o professor de refer�ncia. Temos um olhar mais atento ao 9º ano, no qual insistimos, trazemos de volta o menino quando ele n�o vem. Damos import�ncia � educa��o. O aluno n�o tem op��o de vir brincar, de deixar as atividades sem fazer. Eles devem entender que isso � importante para eles”, ressalta Aliny. O fato de muitos professores estarem no quadro desde a funda��o da escola, em 2000, permite dar sequ�ncia � linha pedag�gica. “� a identidade da escola. Quem vem entra nesse ritmo e, assim, mantemos a qualidade”, avisa J�lio C�zar.

A estudante Maria Eduarda Santos, de 9 anos, aluna do 4º ano do fundamental, diz que adora estar na Padre Marzano. Aluna-modelo, ela n�o dispensa a biblioteca nem uma boa leitura. “O que eu mais gosto � de estudar”, conta. O colega Samuel Lira, de 10, da mesma s�rie, tamb�m leva a s�rio as atividades e se encanta com as aulas de matem�tica. “No ano passado fui para a semifinal do campeonato de fatos e, este ano, espero ser campe�o”, planeja, orgulhoso.


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