
O manejo natural da banana torna o fruto uma das culturas mais f�cil de ser adaptada para o sistema org�nico. De acordo com Ana L�cia Borges, pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecu�ria (Embrapa) Mandioca e Fruticultura, aproximadamente, dois ter�os de toda a massa da bananeira retorna para o solo, restituindo quase 70% dos nutrientes que produz, n�o sendo necess�rio colocar tanto adubo. E isso vem do encontro com os m�todos org�nicos, que exigem t�cnicas ambientalmente sustent�veis e a n�o utiliza��o de agrot�xicos ou adubos qu�micos sol�veis.
Insumos como fertilizantes, corretivos e inoculantes s� podem ser usados se permitidos em Instru��o Normativa do Minist�rio da Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento (Mapa). No mercado existem produtos certificados. Os nutrientes podem ser supridos por meio de fontes org�nicas (adubo verde, esterco animal, torta vegetal ou cinza) ou minerais naturais (calc�rio, fosfato natural e p� de rocha), al�m de sua mistura. Quando o produtor aproveita res�duos da sua propriedade, al�m de reduzir custos com transporte, ele tamb�m utiliza coberturas vegetais apropriadas para o ecossistema da regi�o.
“A agricultura org�nica � mais adequada e vi�vel ao pequeno agricultor, porque ele pode usar tudo da sua �rea. Se ele tem um animal, at� mesmo uma galinha, pode usar o esterco, fazer o composto e colocar na bananeira”, explica Ana L�cia. Segundo a pesquisadora, outros res�duos que podem ser usados no composto s�o baga�o de laranja ou de cana-de-a��car, cinzas de madeira, polpa de sisal, raspa de mandioca, torta de algod�o, cacau ou mamona.
A pesquisadora da Embrapa explica que, no sistema org�nico, como o nutriente n�o est� prontamente dispon�vel (o composto org�nico demora cerca de tr�s meses para liberar os nutrientes), o fruto acaba crescendo menos. Por�m, essa libera��o mais lenta traz uma vantagem: crescendo devagar, o fruto concentra sua do�ura, fica com tamanho adequado, em torno de 90g a 100g, e mais saboroso.
Como a cultura org�nica n�o permite o uso de agrot�xico, o Minist�rio da Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento recomenda a utiliza��o de material adaptado �s condi��es locais e tolerantes a pragas e doen�as. “N�o existem variedades de bananeira desenvolvidas especificamente para plantio em sistemas org�nicos de produ��o, mas as variedades utilizadas para o sistema convencional v�m sendo cultivadas com sucesso, adotando-se as pr�ticas recomendadas para o sistema org�nico. A Embrapa tem uma s�rie de variedades resistentes, que permitem o cultivo sem a utiliza��o de agrot�xicos”, esclarece Ana L�cia.
De acordo com a pesquisadora, o monitoramento deve ser constante, e, quando uma praga � identificada, precisa ser retirada antes que se alastre. Para ela, a melhor alternativa para o controle � a utiliza��o de estrat�gias de manejo integrado de pragas (MIP), que consiste em buscar o equil�brio nas plantas por meio da identifica��o das pragas e seus inimigos naturais.
Para a conserva��o do solo, na fase de forma��o do bananal, Jos� Eg�dio Flori, pesquisador da Embrapa Semi�rido, indica alternar o plantio de leguminosas e n�o leguminosas nas entrelinhas do bananal. “As plantas utilizadas como adubo verde devem ter crescimento inicial r�pido, para abafar as plantas espont�neas e produzir grande quantidade de massa verde”, explica o pesquisador, que recomenda deixar as plantas cortadas sobre a terra. Esse material org�nico se decomp�e, liberando nitrog�nio (principalmente as leguminosas) e outros nutrientes. Para aumentar sua renda, o produtor pode consorciar a bananeira com uma cultura que ele pode vender.
SAUD�VEL De acordo com Ernani Teixeira Campos J�nior, gerente da Fito Produtos Org�nicos, esse tipo de produto � procurado por quem busca uma alimenta��o mais saud�vel. “Muitas m�es usam a banana org�nica para fazer papinha para seus beb�s. A venda tem crescido. Quem experimenta, dificilmente volta para a convencional. Geralmente, ela � mais cara que a convencional, mas, no per�odo de safra, j� ocorreu de ficar at� mais barata”, conta Ernani.
Nas g�ndolas do sacol�o Hortisul do Bairro Sion, a banana org�nica divide espa�o com as convencionais. Segundo Isac Fonseca, gerente da loja, quem conhece o produto nas degusta��es, n�o deixa mais de comprar. “O gosto � muito diferenciado, bem mais doce e molhadinho. O pre�o da embalagem com seis unidades � de R$ 3,99. Quando a fam�lia � grande e � preciso levar maior quantidade, muitos acabam levando a convencional e pelo menos uma bandejinha da org�nica”, relata Isac. O gerente destaca que a bandeja de bananas org�nicas traz v�rias informa��es importantes, como o selo de certifica��o, o c�digo de rastreabilidade e o lacre, para evitar fralde.
Proced�ncia confi�vel

Foi em 2008 que Gilvan C�lio Paiva, de 58 anos, colheu a primeira safra de banana org�nica certificada, na fazenda que herdou do pai, Geraldo Paiva, no distrito de Ravena, em Sabar�, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte. Por�m, o plano de convers�o da cultura tradicional para a org�nica come�ou em 2006. No in�cio do processo de certifica��o, o local, conhecido como Rocinha, passou por auditoria, com a an�lise do solo e das bananas para ver se havia res�duos qu�micos.
Como a Rocinha ficou muito tempo sem produzir, sem adi��o de adubo qu�mico ou agrot�xico, o processo de certifica��o foi mais r�pido que o normal, n�o precisando fazer nenhuma interven��o. A partir da�, o produto passou a ter etiqueta de certificado de origem org�nica. De acordo com Gilvan, a fazenda recebe duas auditorias por ano, sendo que uma � feita de surpresa, para ver se todos os processos est�o corretos. “Eles conferem at� se os funcion�rios est�o registrados. Se n�o estiver tudo nos conformes, corro o risco de perder a certifica��o”, explica o produtor.
No per�odo da safra, Gilvan, que conta com a colabora��o de tr�s funcion�rios, colhe 1 tonelada de banana por semana na �rea plantada de 20 hectares. Por�m, quando come�a o frio, a produ��o cai cerca de 70%. Toda a produ��o � vendida em feirinhas org�nicas em Belo Horizonte – nos bairros Santa L�cia, Pampulha e Funcion�rios –, al�m de hortifr�tis e lojas especializadas em produtos org�nicos.
Criado nessa propriedade, ao explicar o manejo da cultura, Gilvan observa que a produ��o org�nica remete a t�cnicas usadas pelo pai, de quem aprendeu muito. No lugar de adubos qu�micos, ele usa esterco e compostagem. O produtor garante que n�o usa irriga��o nas bananeiras, obtendo umidade a partir do pr�prio corte do cacho mais alto, quando a planta murcha e libera �gua para o solo.
CUSTO Segundo Gilvan, a praga que existe na regi�o � o Moleque da Banana, besouro que coloca a larva no p� da bananeira. Para o seu controle, o produtor cria galinhas soltas, que, al�m de comer as larvas, revolvem e adubam a terra. Ele adverte quanto ao uso da “cama de frango” – mistura com fezes, urina, serragem, penas e restos de ra��o – na cultura org�nica, que, caso venha de uma outra propriedade, pode contaminar o solo. Por�m, se a “cama de frango” vier da mesma propriedade, pode ser usada sem problemas.
No processo de produ��o da banana org�nica n�o � usado nenhum produto para for�ar o amadurecimento do fruto, sendo necess�rios nove meses para a colheita. Segundo Gilvan, a fruta � um pouco menor que o convencional, mas seu paladar � completamente diferente. Como o processo n�o permite produzir o ano todo, a produ��o total � menor. Segundo o produtor, o custo da banana org�nica chega a ser cerca de 40% maior, reflexo do maior custo de produ��o.