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Estado de Minas

Mudan�a de h�bitos com rela��o � bebida

Projeto visa estimular jovens entre 18 e 24 anos, que respondem por 66% do consumo nocivo, a refletir e a buscar equil�brio e maturidade


postado em 08/09/2019 04:00 / atualizado em 06/09/2019 19:43


Carol Romano, líder de estratégia da Maker Brands, instiga o participante a descobrir dentro dele elementos para fazer escolhas mais saudáveis(foto: Maker Brands/Divulgação)
Carol Romano, l�der de estrat�gia da Maker Brands, instiga o participante a descobrir dentro dele elementos para fazer escolhas mais saud�veis (foto: Maker Brands/Divulga��o)


 
 
"Se n�o for pra causar, nem saio de casa." Era assim que Mayara Cristine Carvalho, de 23 anos, coordenadora de uma escola de vela em S�o Paulo, levava a vida em rela��o ao seu comportamento com o �lcool. A jovem come�ou a beber aos 16 anos, em festas de fam�lia, mas, segundo ela, era tudo sempre muito controlado. “Depois que completei 18, foi o descontrole total, e a� comecei a ir pra baladas open bar e beber em excesso nas festas de fam�lia, mas sempre com o objetivo de causar", relembra.

A coordenadora descontava toda a sua vida na bebida. Se estava contente, cabisbaixa, relaxada ou sem assunto com os amigos, a bebida era a melhor companhia. “Era porque estava muito feliz, ou porque estava muito triste, ou porque invent�vamos alguma brincadeira, j� que n�o t�nhamos tanto assunto, e a�, pra n�o ficar sem fazer nada, eu bebia”, conta Mayara. Essa situa��o j� a colocou em risco v�rias vezes. Ela lembra que j� chegou a se envolver em brigas, foi parar em hospital e se machucou depois de cair na rua. “Outra coisa ruim tamb�m � a forma como meu corpo respondia. Tive problemas s�rios no f�gado por conta da bebida e de h�bitos ruins, inclusive, tive que passar por um processo bem pesado de tratamento”, salienta.

Mayara passou por muitas experi�ncias e confessa que eram reflexos dos momentos de extremos, al�m do medo de n�o ser aceita ou por ansiedade. Durante esses processos, o �lcool sempre foi sua v�lvula de escape, seja em suas rela��es afetivas seja em seu trabalho. “A bebida me ajudava e me dava confian�a para expor os meus sentimentos, mesmo que ruins, s� com a bebida”, lembra

A jovem percebeu que deveria mudar radicalmente seus h�bitos. Afinal, aquilo estava prejudicando sua vida. Um desses gatilhos para a mudan�a foi a participa��o no projeto WeLab, experi�ncia proposta pelo grupo Heineken. “No WeLab, descobri o sentido de muitas coisas na minha vida. Aprendi a equilibrar e a expor os meus sentimentos. E mesmo que n�o esteja tudo bem, hoje sei quais s�o os meus limites e, assim, controlo melhor a minha rela��o com o �lcool”, ressalta.

PROJETO 

A viv�ncia de Mayara foi apenas um piloto, de um projeto ainda em testes. A experi�ncia do WeLab foi concebida a partir de estrat�gias mais sustent�veis do grupo cervejeiro. O objetivo � estimular reflex�es e di�logos para ressignificar a rela��o do jovem com a bebida. “Foi um processo de cocria��o com os pr�prios jovens. Percebemos que eles n�o est�o a fim de falar sobre �lcool apenas, � muito mais amplo. Tentamos construir uma verdadeira experi�ncia, desenvolvendo habilidades socioemocionais e para a vida empreendedora. O assunto do �lcool veio naturalmente”, pondera Ornella Vilardo, gerente de Sustentabilidade do Grupo Heineken no Brasil.

A metodologia criada � focada em promover habilidades socioemocionais e empreendedoras, como contou Vilardo, por meio desse autoconhecimento colaborativo entre os envolvidos. “Afinal, o equil�brio do consumo vem de uma vida equilibrada”, aponta a gerente. A abordagem em rela��o ao �lcool � dividida em cinco grandes temas: exercitando a liberdade, autenticidade e autocontrole diante das press�es coletivas (peer pressure), desmistifica��o de falsas cren�as sobre o �lcool, percep��o dos exageros, e ado��o de novos h�bitos com rela��o � bebida. Al�m disso, compreender como os jovens se enxergavam no in�cio da experi�ncia e o que mudou.

A l�der de Estrat�gia da Maker Brands, Carol Romano, diz que, para acertar o ponteiro do equil�brio do consumo de �lcool, foi preciso desenvolver, entre os jovens, algumas habilidades para a vida, por meio de din�micas e rodas de conversa. “Toda essa percep��o de mudan�a de vis�o de mundo se deu muito com base na confian�a proporcionada pelas rodas de conversas e da conviv�ncia adquirida. Formaram uma esp�cie de rede de apoio entre eles”, conta.


Ornella Vilardo, gerente de sustentabilidade do Grupo Heineken no Brasil, diz que os jovens são convidados a fazer projetos para exercitar suas potencialidades, talentos e propósito(foto: Maker Brands/Divulgação)
Ornella Vilardo, gerente de sustentabilidade do Grupo Heineken no Brasil, diz que os jovens s�o convidados a fazer projetos para exercitar suas potencialidades, talentos e prop�sito (foto: Maker Brands/Divulga��o)

 

MUDAN�AS 

Segundo a l�der de estrat�gia, a fase da juventude e adolesc�ncia � um momento de muitas escolhas. “� um per�odo de instabilidade e transforma��es f�sicas e ps�quicas, est�o passando por transi��es estruturais. E um dos insights desse projeto foi ampliar os recursos internos e externos do pr�prio jovem, para ele se conhecer melhor. Um momento de apoio e de olhar para si, para entender que h� elementos dentro dele para fazer escolhas mais saud�veis”, ressalta Carol Romano. Ela destaca que muito dessa reflex�o perpassa em torno do livre-arb�trio. “Ressignificar o que � liberdade, inclusive a de n�o beber, e perceber que voc� est� sendo nocivo com o uso da bebida. Entender que � poss�vel divertir, sem exagerar”, frisa.

Depois de um in�cio focado em descobertas pessoais, os jovens s�o convidados a fazer projetos para exercitar suas potencialidades, talentos e prop�sito. “Abordamos temas como negritude, a constru��o da masculinidade na adolesc�ncia, autoconhecimento para jovens, motiva��es e gatilhos para o engajamento em trabalhos volunt�rios e novas abordagens para uma educa��o mais din�mica”, explica Ornella Vilardo.

Mayara Carvalho avalia que tomou consci�ncia de que, para ficar feliz, n�o era preciso uma festa open bar.“Passei a sair muito mais do que antes, com a diferen�a de que, atualmente, me divirto muito mais. Ap�s um m�s de WeLab, n�o exagerei nenhuma vez em nada. Costumo dizer que ficou tudo mais leve, tanto o riso quanto a l�grima. Hoje, n�o sei mais fingir meus sentimentos”, pontua. A pr�xima fase do WeLab by Heineken reunir� jovens de comunidades vulner�veis no Rio de Janeiro.


Personagem 
da not�cia

Maria Gabriela
de 21 anos, participante do WeLab by Heineken

Di�logo necess�rio

A primeira vez que provei bebida alco�lica foi com 13/14 anos e estava com os meus amigos, que eram mais velhos que eu – 16/22 anos. Nessa fase, em que era mais nova, sempre acabava bebendo um pouco mais para me sentir inclusa entre meus amigos. Hoje em dia tenho mais consci�ncia e, depois de participar do WeLab, me sinto muito mais segura e com autoestima para tomar as minhas decis�es, inclusive, hoje me encaixo muito melhor. O WeLab me mostrou que falar de bebida vai muito al�m de alcoolismo e que, nem sempre, os jovens fazem o uso nocivo da bebida apenas pela divers�o, muito pelo contr�rio, muitos jovens acabam fazendo o uso da bebida para sanar ou esconder problemas pessoais. Dentro da minha casa, o di�logo sobre �lcool � bem transparente, os meus pais sempre conversaram comigo e me alertaram sobre os pontos negativos do consumo em excesso do �lcool. O projeto me trouxe autoconhecimento e me reconstru�. Cuidei da minha autoestima e seguran�a e n�o preciso mais fazer o uso da bebida alco�lica para me sentir inclusa e mais liberta.



Quatro perguntas para...
Alessandra Diehl, psiquiatra e vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead) (foto: Editora Roca/Divulgação)
Alessandra Diehl, psiquiatra e vice-presidente da Associa��o Brasileira de Estudos do �lcool e outras Drogas (Abead) (foto: Editora Roca/Divulga��o)

Alessandra Diehl 
Psiquiatra e vice-presidente da Associa��o Brasileira de Estudos do �lcool e outras Drogas (Abead)


1) A adolesc�ncia e a juventude s�o momentos em que as pessoas buscam incansavelmente por novas experi�ncias. Afinal, a mentalidade do jovem durante a adolesc�ncia ainda est� em forma��o. Quais os riscos desses impulsos? Como o �lcool pode influenciar nas escolhas e vidas futuras?
Sem d�vida, a adolesc�ncia � um per�odo crucial da vida, em que escolhas, pertencimento, forma��o de identidade e atitudes v�o influenciar positiva ou negativamente no futuro pr�ximo. O consumo de bebidas alco�licas nesta fase pode levar a uma diversidade de vulnerabilidades, como a viol�ncia, a vitimiza��o, atividade sexual desprotegida, preju�zo acad�mico, evas�o escolar, envolvimento em gangues, brigas, pr�tica de bullying, gravidez precoce e n�o desejada, abortamento, risco de infec��es sexualmente transmiss�veis, trauma de acidentes relacionados ao consumo de �lcool. Todas essas consequ�ncias tendem a gerar problemas importantes do ponto de vista de sa�de p�blica (com alto custo para toda a sociedade) e tamb�m em n�vel individual, com repercuss�es que podem ser para a vida toda e, algumas delas, irrevers�veis.

2) Muitos adolescentes afirmam que come�aram a beber por influ�ncia de amigos ou pelos c�rculos familiares. Por que os jovens bebem? O que pode ocasionar esse comportamento? � uma atitude 'natural', por causa da socializa��o?
Jovens bebem por v�rios motivos, mas principalmente por modelos parentais permissivos e por imita��o. Nossa sociedade tem tamb�m constantemente "vendido" ou "se vendido" para a ideia geral de que beber � parte da nossa cultura e que cerveja n�o � propriamente bebida alco�lica, com a falsa ideia e no��o de que cerveja � menos perigosa que outras bebidas. Propagandas de cerveja com �cones do esporte e da m�sica ou da TV para a juventude facilmente colaboram para essa banaliza��o da cerveja e propaga��o de que � 'natural beber para se socializar'. No entanto, � poss�vel ser feliz e socializar sem necessariamente beber. Os pais precisam se posicionar diante desse tema e se apropriar dessa educa��o, que come�a, certamente, dentro de casa.

3) O �lcool � uma droga socialmente aceita. Qual a sua percep��o sobre o porqu� de os jovens estarem bebendo cada vez mais cedo? 
Por uma s�rie de raz�es, entre elas a falta de pol�ticas p�blicas eficazes que possam, de fato, proteg�-los do in�cio de uso em fases cruciais da vida, em que o c�rebro adolescente ainda est� se desenvolvendo e as sintonias finas neuronais ainda em organiza��o, as quais s�o fundamentais nessa fase e impactar�o sobremaneira no aprendizado, no comportamento, na afetividade, por exemplo, desses jovens. J� temos leis que regulamentam a compra de bebidas alco�licas por menores no Brasil. No entanto, algumas pesquisas mostram que o jovem brasileiro consegue facilmente comprar bebidas alco�licas sem que o vendedor nem sequer pe�a algum documento ou se constranja de praticar tal crime. � necess�rio ampliar a��es de preven��o prim�ria em escolas e comunidades, assim como maior fiscaliza��o e execu��o das boas leis que j� existem. Al�m disso, por ser uma droga l�cita e uma ind�stria do �lcool �vida por novos consumidores fi�is, tamb�m existe uma grande banaliza��o do consumo, que seja por meio de propagandas de cerveja que vendem que beber deixa voc� mais sensual, muito mais alegre ou feliz, mais bonito, mais garanh�o, com mais amigos e outros mitos. Quer seja por meio da banaliza��o dos chamados "open bar", em que a ideia vendida � de que voc� paga pouco e pode beber muito. Isso tudo � muito atrativo para o jovem, o qual claramente � manipulado para pertencer a essa sociedade que bebe e, se voc� n�o bebe, parece que n�o pertence a ela.

4) H� algum estudo que mostre esse panorama?
O estudo “The Monitoring The Future 2019” mostra que o �lcool tem sido amplamente utilizado por jovens nos EUA, por um longo per�odo de tempo. As propor��es de alunos da 8ª, 10ª e da 12ª s�ries, que relataram beber �lcool no per�odo de 30 dias anterior � pesquisa, foram 8%, 19% e 30%, respectivamente. Aqui, os autores se concentraram em epis�dios pesados ou "compuls�o" por beber, que chamamos de " binge" (definido como tomar cinco ou mais bebidas seguidas) em uma ou mais ocasi�es nas duas semanas anteriores), porque o consumo pesado de �lcool � motivo de grande preocupa��o da sa�de p�blica.


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