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Estado de Minas REPORTAGEM DE CAPA

Bailarinos e bailarinas concordam que a dan�a traz uma sensa��o de pertencimento

Praticantes dizem que dan�a do ventre melhora o equil�brio, al�m de aflorar a delicadeza e a feminilidade


postado em 20/10/2019 06:00 / atualizado em 20/10/2019 09:16

O professor Henry Netto, de 42, se orgulha de ter sido o primeiro bailarino de dança do ventre do Brasil (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
O professor Henry Netto, de 42, se orgulha de ter sido o primeiro bailarino de dan�a do ventre do Brasil (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)

Fabiana Temer Janas, de 46 anos, tem problemas de vis�o desde quando nasceu. Ela conta que sempre apreciou a cultura �rabe e � adepta da dan�a do ventre h� tr�s anos. Muito mais que ser uma pr�tica de que gosta, diz que melhora o equil�brio, que, no caso do deficiente visual, � prejudicado, al�m de aflorar a delicadeza e a feminilidade. “A dan�a do ventre auxilia na melhora da consci�ncia corporal. Muita gente me fala que n�o vou conseguir fazer as coisas, e sabia que n�o ia ser f�cil. Mas consigo, e essa � uma sensa��o muito boa.”

Fabiana pratica a dan�a do ventre sob a orienta��o de Juliana Aparecida Zambrini. Aos 46 anos, a cabeleireira inclui na rotina com seu sal�o de beleza as aulas de dan�a, al�m da participa��o volunt�ria em projeto social ligado ao bem-estar da mulher como um todo. “� uma maneira de Fabiana se sentir inclu�da. A dan�a � um encontro consigo mesmo. Para mim, � um momento em que posso ser eu mesma e esquecer o mundo l� fora. � uma express�o da minha ess�ncia”, diz Juliana.

“Adoro dan�ar, me arrumar, me preparar pra dan�ar. Fico bem mais vaidosa. Faz-me movimentar”, conta a garota Nicole Ferreira, de 14, que usa cadeira de rodas por causa do quadro mais conhecido como ossos de vidro, uma fragilidade �ssea. Ela conta que, em certo ponto da vida, se viu parada, sem sair de casa, o que lhe fez mal. “Agora tenho alegria, satisfa��o, sou confiante. N�o considero minhas limita��es, me sinto livre e o que mais gosto � de ¯dan�ar. Basta ter vontade”, diz ela, que � empenhada na dan�a do ventre com mais afinco desde 2017. “Quando ela come�ou a entender a dan�a, logo se apaixonou. Hoje, faz apresenta��es”, diz a m�e, Katia Ferreira.

“A dan�a do ventre � o ar que respiro”, afirma Henry Netto, que, aos 42, se orgulha de ser o primeiro bailarino de dan�a do ventre do Brasil. De crian�a, j� era afeito � dan�a. Com 7 anos, entrou para o bal� cl�ssico e, aos 9, iniciou o jazz. A dan�a do ventre ocorreu aos 16 e, com 19, se tornou tamb�m professor. Ele se lembra do preconceito no princ�pio. Foi a partir de apresenta��es em uma taberna em Belo Horizonte que teve contato com a dan�a do ventre. Conheceu bailarinas e, pedindo que lhe ensinassem, logo teve uma resposta negativa. Resolveu ir ao Rio de Janeiro e encontrou uma libanesa que n�o se recusou a inici�-lo na dan�a do ventre. Eram os idos de 1992. Hoje, com a discrimina��o superada, � conhecido no pa�s e mundo afora. “No come�o, fui apedrejado pelas bailarinas, que achavam que essa era uma exclusividade feminina. Agora, participo de festivais, fa�o show e espet�culos, dou cursos”, diz ele, que, totalmente voltado � dan�a do ventre, assiste cada vez mais a homens dedicados � atividade.
 
Hana dança há 26 anos e diz que a qualidade de vida é indiscutível (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Hana dan�a h� 26 anos e diz que a qualidade de vida � indiscut�vel (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
 
Para a administradora de empresas Hana Souhair, a dan�a do ventre ajuda na liberta��o de inseguran�as, para ultrapassar padr�es que a sociedade estabelece e que colocam a mulher, na maioria das vezes, em uma posi��o apenas de esposa, m�e e profissional, deixando � merc� sua por��o mais feminina. “Vemos que somos donas do nosso corpo. A dan�a do ventre trabalha a sensualidade, sem a conota��o sexual. Tem a for�a de trazer de volta o lado mulher que se perde com a rotina t�o corrida. � uma quest�o de amor-pr�prio”, diz. Hana tem 40 anos e faz dan�a do ventre h� 26. � uma das alunas formadas com Henry Netto e � fascinada com a dan�a. “Foi paix�o � primeira vista. Procurei-a para ter condicionamento f�sico, mas tamb�m qualidade de vida, fazendo algo que me desse prazer.”

A cabeleireira Edv�nia Maria da Silva, de 36 anos, � apaixonada pela dan�a do ventre, que come�ou a praticar em abril, com o professor Cesar Elias, que tamb�m ensina outros ritmos . Al�m das vantagens naturais de uma atividade f�sica, para ela � uma maneira de se movimentar e encontrar bem-estar em algo que faz por prazer. Depois de experimentar momentos de estresse e crises de ansiedade, devidos ao ac�mulo de demandas nos estudos e no trabalho, procurou dedicar um tempo para si. “Elevou minha autoestima e percebi resultados no corpo tamb�m. Al�m da socializa��o, das novas amizades.”

ELO CULTURAL 

Para a libanesa Brigitte Bacha, a dan�a do ventre � um reencontro com sua identidade. A fam�lia veio para o Brasil, para viver em Belo Horizonte, fugindo da guerra no L�bano, em 1980, quando ela tinha 16. Brigitte fala sobre as adversidades experimentadas durante essa transi��o. “Foi um rompimento radical, um recome�o”, recorda-se. Aos poucos, vieram novos v�nculos de amizade, e a tristeza e a dor se amenizaram.

“Desde minha inf�ncia, nutria um amor pela dan�a. Minhas tias me ensinaram a dan�ar em casa, brinc�vamos dan�ando, na escola tinha as festas. Quando mudamos para o Brasil, esses momentos adormece- ram.” Com o tempo, os novos amigos se mostravam curiosos sobre suas origens e sua cultura e, com a dan�a do ventre, esse elo se viu novamente fortalecido. Brigitte come�ou a se aprofundar nessa fun��o.
 
A cabeleireira Edvânia Maria da Silva, de 36 anos, encontrou na dança uma forma de aliviar o estresse e melhorar a qualidade de vida(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
A cabeleireira Edv�nia Maria da Silva, de 36 anos, encontrou na dan�a uma forma de aliviar o estresse e melhorar a qualidade de vida (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
 
“Ainda era insegura e sem did�tica, mas tinha algo que pouqu�ssimas professoras daqui, � �poca, tinham. Eu conhecia a l�ngua, as m�sicas, sabia cantar e dan�ar de forma intuitiva. Mesmo assim, procurei fazer cursos. A dan�a se tornou vital para mim nesse per�odo. Mantive o elo com a minha cultura, com a minha identidade.” Em 1996, Brigitte inaugurou o pr�prio est�dio de dan�a do ventre e dan�as folcl�ricas �rabes em BH. Hoje, tem uma extensa atua��o na �rea e desenvolve trabalho com jovens em trajet�ria de rua para, por meio da dan�a, oferecer a eles novas perspectivas de vida.

Atualmente, cerca de 40% das praticantes no Brasil t�m entre 25 e 34 anos, e 35% entre 35 e 44 anos. Mas � um equ�voco pensar que a dan�a do ventre � procurada s� por mulheres jovens. Uma das novas amigas que Brigitte encontrou no Brasil � Dayse Faria, a primeira bailarina de dan�a do ventre de Belo Horizonte, precursora da dan�a oriental no estado.  

Foi em uma ida a S�o Paulo que Dayse conheceu a dan�a do ventre, naquele tempo ainda estigmatizada. De l� para c�, � muita hist�ria. Abriu sua academia, onde muitos representantes importantes da dan�a hoje se formaram, se apresenta pelos quatro cantos do mundo e ministra cursos na �rea. “� uma dan�a cheia de magia, de repente ocorrem coisas lindas. Dan�ar � liberdade da alma, do esp�rito. A pessoa se descobre, deixa fluir o que sente.” Em setembro, Dayse foi agraciada com o trof�u cultural Empres�rio Francisco Luiz Capel�o, entregue pelo jornalista Rog�rio Zola Santiago, junto a Maria Vit�ria Campos Ferreira Capel�o, reconhecida como M�e da Dan�a em Minas Gerais. “Fico feliz, n�o pela vaidade, mas por aqui ser um espa�o onde recebo todos de bra�os abertos, como uma m�e.”
 
Hist�rias de supera��o e autoconhecimento  
Cesar Elias, professor de vários ritmos e de karatê, diz que a dança do ventre faz a mulher conhecer seu verdadeiro poder(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Cesar Elias, professor de v�rios ritmos e de karat�, diz que a dan�a do ventre faz a mulher conhecer seu verdadeiro poder (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Cesar Elias brinca que n�o optou pela dan�a do ventre – diz que a dan�a simplesmente aconteceu em sua vida. Professor de karat�, sapateado argentino, dan�as ga�chas e jazz, foi por acaso que algumas alunas lhe pediram para ensinar a dan�a do ventre, at� ent�o algo novo pra ele. Procurou aprender a desenvolver o estilo, ingressou na academia de Dayse Faria, refer�ncia em Minas Gerais, e, com o tempo, tudo foi caminhando naturalmente. Ele frisa que n�o � bailarino, n�o se apresenta – � professor e core�grafo. E recebe o carinho de suas alunas, que s�o in�meras – algumas, inclusive, se formaram e foram para fora do Brasil em busca de crescimento por meio da dan�a. “Nunca poderia imaginar reunir a for�a do karat� e a delicadeza da dan�a do ventre. Parece n�o ter nada a ver. � muito bom perceber como uma menina que n�o est� bem, aos poucos come�a a mudar. A dan�a do ventre faz a mulher conhecer seu verdadeiro poder”, pontua. Entre suas alunas, Kelly e Cinthia contam um pouco sobre suas experi�ncias com a dan�a do ventre.

Kelly só retomou a alegria de viver depois que começou a dançar (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Kelly s� retomou a alegria de viver depois que come�ou a dan�ar (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)

Kelly Cristina Costa, de 44 anos, tem uma hist�ria de supera��o. Enfrentou dois aneurismas, um derrame, um per�odo em coma, afundamento do olho esquerdo (o que afetou a vis�o) e perda de uma parte da cabe�a, problemas de mem�ria, convuls�es, al�m de quadros de depress�o, complexo de inferioridade e pensamentos sobre morrer. Teve chatea��es tamb�m por causa do div�rcio. Uma coisa foi se sucedendo � outra e ela passou por seis cirurgias. Hoje, � aposentada por invalidez. “Sempre fui ansiosa, agitada, queria abra�ar o mundo. Mas, �s vezes, a gente enfrenta muita coisa ao mesmo tempo. Comecei a tomar antidepressivos, a ficar pouco soci�vel, sem �nimo”, lembra. Por sugest�o de uma amiga, procurou a dan�a do ventre, que pratica desde agosto, e diz que � um sonho realizado – foi voltando a ser o que era. “Sempre fui brincalhona. A dan�a me d� for�a, � no dia da aula que dou gargalhadas. � uma b�n��o, levanta o astral. Recuperei a vontade de me cuidar de novo, voltei a me amar.”

Cinthia Valene hoje dá aulas em projeto social em Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de BH(foto: Arquivo pessoal)
Cinthia Valene hoje d� aulas em projeto social em Pedro Leopoldo, na Regi�o Metropolitana de BH (foto: Arquivo pessoal)

Desde pequena ela adora dan�ar. Costumava amarrar panos, como saias, e dan�ava sozinha, em movimentos que surgiam naturalmente, vindos de onde n�o sabe explicar. Come�ou com a dan�a do ventre h� 20 anos, depois que viu bailarinos em uma praia no Rio de Janeiro. Hoje, a faxineira Cinthia Valene Moreira, de 36, tamb�m d� aulas de dan�a do ventre em Pedro Leopoldo, na Grande BH. Para ela, que j� superou maus bocados (como a perda de um irm�o e problemas com o filho mais velho, por exemplo), � uma inspira��o que vem da alma. “Quando dan�o, me entrego. A dan�a me leva para lugares que nem sei, para outra dimens�o. A dan�a me resgata, me acalma, reencontro a minha natureza. Quando estou deprimida, � o que preenche meu vazio”, afirma. Hoje, ela ministra aulas dentro de um projeto social em Pedro Leopoldo. “Procuro mostrar para os alunos que, independentemente do corpo, todos podem dan�ar”, salienta.

Adriana Cristina Galdino Covas, de 49, � core�grafa de dan�a do ventre, pr�tica � qual se dedica h� 4 anos. H� pouco tempo, come�ou a ensinar alunos com s�ndrome de Down. “Trabalha todo o corpo, alonga, faz bem para a mem�ria, para a coordena��o motora, o sentir da m�sica e at� no desenvolvimento de novas habilidades, como tocar instrumentos. Os alunos ficam muito felizes, s�o comprometidos”, salienta.

A cabeleireira Edvânia Maria da Silva, de 36 anos, encontrou na dança uma forma de aliviar o estresse e melhorar a qualidade de vida (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
A cabeleireira Edv�nia Maria da Silva, de 36 anos, encontrou na dan�a uma forma de aliviar o estresse e melhorar a qualidade de vida (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)

A cabeleireira Edv�nia Maria da Silva, de 36 anos, � apaixonada pela dan�a do ventre, que come�ou a praticar em abril, com o professor Cesar Elias, que tamb�m ensina outros ritmos . Al�m das vantagens naturais de uma atividade f�sica, para ela � uma maneira de se movimentar e encontrar bem-estar em algo que faz por prazer. Depois de experimentar momentos de estresse e crises de ansiedade, devidos ao ac�mulo de demandas nos estudos e no trabalho, procurou dedicar um tempo para si. “Elevou minha autoestima e percebi resultados no corpo tamb�m. Al�m da socializa��o, das novas amizades.”

SOCIALIZA��O 

Isabella Manoel de Assis, de 27, � uma de suas alunas e dan�a h� cinco anos. A partir do momento em que ficou adulta, come�ou a ficar sozinha, sem amigos, e a m�e, Maristela Manoel, a percebeu depressiva. A primeira sugest�o para a filha come�ar a fazer dan�a do ventre foi descartada pela pr�pria Isabella, que n�o aceitou. Por�m, a identifica��o com instrumentos de percuss�o a fez reconsiderar. Foi apresentada ao derbake – tambor �rabe usado na dan�a do ventre –, se entusiasmou e, aos poucos, tamb�m foi tomando gosto pela dan�a.

“Ela � cardiopata e a dan�a lhe faz muito bem. Ajuda muito na sua sa�de. Sem falar que sua vida socialmelhorou completamente”, comemora Maristela. Hoje, Isabella se apresenta e recebe convites para shows. “Gosto de dan�ar, gosto das m�sicas. At� grito de alegria quando estou dan�ando. E conheci novas pessoas”, diz a jovem.

Pesquisadora de dan�as do feminino, professora, core�grafa e bailarina de dan�a do ventre, Shalimar Mattar esclarece que no momento em que a mulher passa a se conhecer, ela se torna mais segura, em um trabalho inclusive de abertura dos chacras. “A dan�a engloba a parte f�sica e a energ�tica tamb�m, o mental e o emocional”, conta. Com diferentes elementos (acess�rios, v�us, espadas e velas, entre outros), a bailarina consegue expressar e interpretar cada estilo de dan�a. “Cada elemento materializa o que aquela dan�a simboliza. � uma dan�a extremamente rica, e existem muitos modos de ser desenvolvida”, ensina.
 
Shalimar Mattar é professora, coreógrafa e bailarina de dança do ventre há mais de 25 anos(foto: Jay Fotografia/Divulgação)
Shalimar Mattar � professora, core�grafa e bailarina de dan�a do ventre h� mais de 25 anos (foto: Jay Fotografia/Divulga��o)

A bailarina chama a aten��o para o fato de muitas mulheres terem receio de demonstrar sua feminilidade, como se isso fosse um sinal de fraqueza. A dan�a do ventre desmistifica tudo isso. “A mulher pode ser forte e feminina. Come�a a exteriorizar tudo o que guarda por dentro. E por que tamb�m n�o a sensualidade? Embora a dan�a do ventre carregue essa carga de sedu��o, o que seduz, na realidade, � a confian�a. � diferente de erotismo”, compara. “Com a dan�a do ventre voc� reafirma sua vis�o do mundo. � uma arte muito antiga e acentua todas essas sensa��es. Coloca voc� em harmonia, tanto no corpo f�sico quanto no et�reo”, acrescenta.




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