(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas COMPORTAMENTO

A jornada � individual, a caminhada n�o: quem vive s� revela como lida com o isolamento social

Viver sozinho tem suas del�cias e dores. No momento da quarentena, elas continuam presentes, mas intensificadas pela trag�dia em curso no mundo


postado em 12/04/2020 04:00 / atualizado em 13/04/2020 14:51


Para a analista de implantação de sistemas Andreza Fortunato Silva de Araújo, de 35 anos, até o ato de arrumar a casa e cozinhar tem sido uma terapia (foto: Arquivo Pessoal)
Para a analista de implanta��o de sistemas Andreza Fortunato Silva de Ara�jo, de 35 anos, at� o ato de arrumar a casa e cozinhar tem sido uma terapia (foto: Arquivo Pessoal)

Vivemos a ilus�o da autonomia total. � certo que a jornada � individual, mas ningu�m caminha sozinho ou � completamente independente. � inevit�vel: cada um de n�s depende de todos os outros. Ao mesmo tempo, para superar a dificuldade de morar sozinho e ter de seguir as regras do isolamento social por causa do risco de contamina��o da COVID-19, � necess�rio aprender a gostar de sua pr�pria companhia, al�m de ter amor-pr�prio, autoestima e criatividade. Assim, afastar� a solid�o, a ang�stia, a ansiedade, o medo, a inseguran�a, o p�nico, a depress�o, sentimentos (e doen�as) comuns numa pandemia, mas que precisam ser controlados. E, para isso, tem de contar com outras pessoas.
 
A advogada e estudante Izabelle Casseb de Vasconcellos conta que sempre foi uma pessoa caseira, por isso, achou que n�o sentiria tanto a quarentena: “Por�m, tinha uma rotina de sair para trabalhar, estudar e almo�ar fora nos fins de semana com a fam�lia. Tudo isso foi afetado e sinto falta dessa troca. Mas me adaptei e sigo me adaptando”. No entanto, ela teve de lidar com mais uma prova da vida: ficou doente, est� tratando de uma sinusite. “Como vem acompanhada de sintomas parecidos com os da COVID-19, estou bem ansiosa, especialmente por ficar sozinha. O apoio que tenho � todo a dist�ncia. Mas ajuda muito. Estou em isolamento, tamb�m, por recomenda��o m�dica. N�o posso sair mesmo.”
 
Emocionalmente, Izabelle diz que n�o tem como n�o estar preocupada com a situa��o toda. “Sim, estou com medo, mas tento n�o me apegar a ele. Sofro de ansiedade e j� tive algumas crises de p�nico esses dias, especialmente por ter ficado doente. Ent�o, estou trabalhando para aceitar que essa situa��o est� muito fora do meu controle.” Para ela, o que mais faz alta � a rotina: “Acho que por mais que o trabalho e estudos em casa estejam fluindo bem, me sinto mais produtiva quando posso sair para faz�-los. E sinto falta tamb�m de poder abra�ar as pessoas.”
 
J� Andreza Fortunato Silva de Ara�jo, de 35, analista de implanta��o de sistemas, mora sozinha h� um ano e meio. Uma mudan�a no escuro, sem planejar. Ela comprou um apartamento com o noivo, o relacionamento n�o deu certo, mas ela quis ficar com o im�vel. Pensou na liberdade e que j� era hora de deixar a casa dos pais, Zenite e Regina. Mergulhou no processo de viver s�: “Quanto entrei na minha casa, toda montada no meu estilo, senti-me completamente confort�- vel. Hoje, tenho at� dificuldade de ficar fora ou mesmo dormir na casa dos meus pais. Estar sozinha � da minha personalidade, nunca dependi do outro para viver bem. Sou mais quieta, desde crian�a. O fenomenal de morar s� � que me tornei uma boa companhia para mim, me traz paz”.

 

“Se em circunst�ncias normais muitos podem estar rodeados por outras pessoas e mesmo assim se sentir solit�rios, para quem vive sozinho, a ideia da solid�o precisa ser ainda mais emocionalmente trabalhada e combatida”

(foto: Arquivo Pessoal)
(foto: Arquivo Pessoal)

Camila Cury, 
psic�loga, presidente e fundadora 
da Escola da Intelig�ncia 
 
 
 
CANTAR E DAN�AR
 
Para Andreza, isolada desde 19 de mar�o, at� o ato de arrumar a casa e cozinhar tem sido uma terapia: “Gosto de meditar � noite, escolhi n�o ter TV, ent�o, minha casa � silenciosa. Ou�o muita m�sica, leio, vejo s�ries e filmes no notebook e sou privilegiada com uma vista linda, onde vejo o nascer do sol e da lua da minha janela. Ent�o, estou indo bem. Claro, ficar em casa o dia inteiro, �s vezes, d� um t�dio, mas logo trato de procurar algo para fazer, n�o me permito ter baixa emocional. Fa�o chamadas de v�deo para meus pais todos os dias, j� que no fim de semana sempre ia � casa deles”.
 
Andreza revela que tem depress�o, doen�a com que convive desde os 15 anos, mas n�o sabia nomear, at� que teve de pedir ajuda em 2019. Agora, faz terapia e tratamento psiqui�trico depois de muitos pedidos de socorro velados, j� que n�o conseguia expor ou mesmo entender o que sentia: “Estou bem, na quarentena tenho feito sess�es por telefone e precisado me reinventar para nada me abalar. Adoro correr; como n�o posso, gasto energia e me exercito arrumando a casa, dan�ando, adoro cantar, ent�o tenho gravado v�deos e postado no YouTube. Jamais faria isso numa condi��o normal, mas decidi fazer o que me deixa feliz. Gosto de escrever, uma forma de aliviar minha ang�stia e tristeza. � mais uma ocupa��o. S�o textos autobiogr�ficos e escrevo sempre ouvindo m�sica.”
 
Mas tem uma companhia que � fundamental para Andreza, Nathan, de 2 anos, sobrinho e afilhado, filho da irm� Alessandra, que basta se sentir estranha para correr e fazer uma chamada de v�deo para v�-lo: “Ao ouvir Dindinha tudo se transforma. Apesar de pequeno, ele � carinhoso, tem um olhar expressivo que cura tudo. Como ele faz diferen�a na minha vida e na de toda a fam�lia”. Cat�lica, Andreza revela que a ora��o tamb�m � uma companhia que conforta: “Independentemente da religi�o, acredito que o importante � a f� de cada um. O que me segura � estar conectada com Deus”.







Seja gestor das emo��es


Na contram�o do que � o existir para o ser humano, o isolamento social tem sido uma prova maior para quem vive s�. A psic�loga Camila Cury, presidente e fundadora da Escola da Intelig�ncia, lembra que, de maneira geral, todas as orienta��es para que uma pessoa tenha sa�de f�sica e emocional estimulam que ela saia de casa, que fa�a exerc�cios f�sicos e de relaxamento ao ar livre, que contemple a natureza e, em especial, que esteja em contato com pessoas que ama, mesmo quando vive sozinha por op��o ou necessidade.

Segundo ela, estamos vivendo a necessidade de estimular o contr�rio. As restri��es do isolamento extremo, em especial para quem est� habituado a uma rotina di�ria de atividades externas, associadas �s not�cias de um inimigo invis�vel e amea�ador, podem potencializar o medo, ansiedade, tristeza, depress�o desesperan�a, desmotiva��o etc., podendo, inclusive, potencializar rea��es como, por exemplo, aumento da press�o arterial, alergias e redu��o da efici�ncia do sistema imunol�gico. A aten��o deve ser redobrada.

Filha do psiquiatra Augusto Cury, escritor e autor da teoria da intelig�ncia multifocal, e p�s-graduada em an�lise do comportamento, Camila Cury alerta que a ideia da solid�o � pior que a pr�pria solid�o. “Se em circunst�ncias normais muitos podem estar rodeados por outras pessoas e mesmo assim se sentir solit�rios, para quem vive sozinho, a ideia da solid�o precisa ser ainda mais emocionalmente trabalhada e combatida. E, de maneira especial, neste momento. Estamos em isolamento f�sico, mas n�o deve ser analisado como isolamento total.”

Para Camila Cury, � essencial potencializar e usar a criatividade. Buscar reinventar o espa�o onde mora, fazendo caminhadas, exerc�cios f�sicos, relaxamento, no quintal ou c�modos da casa ou apartamento. Para os mais entusiastas, fazer v�deos, aprender algo novo, estimular os amigos a desafios virtuais, como criar e gravar coreografias etc... “Uma forma importante tamb�m de combater os efeitos do isolamento � ser solid�rio, compreendendo que muitos, mesmo desconhecidos, poder�o se sentir melhores apenas recebendo palavras de conforto.”

Camila Cury avisa que, tanto para quem mora sozinho, quanto para quem conhece algu�m que mora sozinho, � essencial formar uma rede de apoio virtual, e assistencial, que certamente ter� impacto emocional positivo. Temos v�rios exemplos de parentes, amigos, vizinhos e pessoas at� desconhecidas se mobilizando para dar apoio com compras para idosos ou pessoas do grupo de risco, por exemplo. A tecnologia, antes destacada como fator de isolamento para muitas pessoas e fam�lias, agora representa eficiente ferramenta de aproxima��o entre todos. Ela refor�a que, por meio de a��es simples de solidariedade e generosidade, da internet e das redes sociais, podemos, juntos, amenizar os efeitos da solid�o.

T�CNICAS DE CONTROLE 

Camila Cury enfatiza que � essencial aprender a gerenciar os pensamentos, porque o que se pensa incide sobre como os sentimos e as emo��es agem sobre o comportamento. Portanto, a chave � focar na qualidade do que pensamos. “Augusto Cury nos mostra que podemos aplicar duas importantes t�cnicas de gest�o da emo��o. A Mesa-redonda do Eu (que consiste em fazer um autodi�logo, n�o sobre nossos pensamentos, mas com nossos pensamentos, analisando a qualidade dos mesmos, pensar sobre o que pensamos) e o Duvidar, Criticar e Determinar (DCD) sobre nossos pensamentos, particularmente os invasivos e negativos, dando-lhes um choque de lucidez.”

Diante das not�cias e dessa situa��o, por exemplo, Camila Cury explica o valor de analisar e questionar: “Pensa: 'Me desesperar vai ajudar a resolver o problema ou vai me criar mais problemas?'. N�o posso decidir sobre os pensamentos que veem � minha mente, mas posso determinar o que desejo fazer com eles. Se n�s n�o dominamos nossos pensamentos, eles assumem as r�deas e o controle de nossas emo��es e comportamentos”.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)