Depress�o p�s-parto: por um novo amanh�

Gravidez, recusa, pedido de aborto, depress�o, tentativa de suic�dio, cl�nica psiqui�trica e, enfim, o recome�o. Em poucas palavras, essa � a experi�ncia de vida que Leisliene Pabliane Silva teve nos �ltimos anos.

E a secret�ria-executiva, agora escritora, de 36 anos, traz � tona nas p�ginas de seu primeiro livro “Por um novo amanh�: recome�ando da maneira certa”, que em breve ser� lan�ado pela Editora Gets�mani, relatos e lembran�as desse passado que a fez sofrer, mas que, agora, a tornou a melhor amiga de sua filha e, tamb�m, uma mensageira.

“Quero deixar um recado em cada palavra escrita. Quero passar uma mensagem. Quero que as pessoas, e n�o s� a mulher, mas tamb�m o homem, saibam entender os sintomas da depress�o.

Isso porque � bem dif�cil e muitas pessoas n�o conseguem enxergar a depress�o, acabando por pensar que � uma coisa, quando na verdade se trata de outra. E quero tamb�m deixar um legado para que as pessoas n�o se sintam sozinhas e entendam que essa � uma doen�a s�ria, que pode levar � morte.”

Nos cap�tulos da obra, Leisliene traz � tona sua pr�pria viv�ncia, desde o momento em que descobriu a gravidez e ouviu do pai da pequena que carregava em seu ventre um pedido de aborto, passando pelo �pice do sofrimento quando se entregou � depress�o e estava decidida a tirar a pr�pria vida, at� o momento em que, finalmente, p�de ter a sua filha perto de si novamente. “Minha gesta��o n�o foi programada e eu estava no fim da faculdade, tanto que no dia da festa de formatura eu estava gr�vida e n�o sabia”, conta.

“E eu n�o tinha estrutura, porque o pai da minha filha n�o estava comigo, n�o acompanhou a gravidez e n�o acompanha at� hoje. Ent�o, houve essa rejei��o dele, me pedindo at� para abortar, ele j� havia dito que n�o ia assumir. Fiquei muito chateada. Tinha tamb�m um hist�rico na fam�lia de depress�o e perdido pessoas pr�ximas recentemente. Meu pai, por exemplo, n�o me assumiu tamb�m. E a minha situa��o era complicada para aceitar, apesar de minha m�e, meus familiares e amigos terem aceitado, porque eu s� pensava: ‘E agora, como eu vou fazer sozinha sem o pai da minha filha e ele rejeitando?’.”

Foi um per�odo dif�cil, segundo a escritora. E muito porque ela tinha o sonho de formar uma fam�lia e proporcionar � filha tudo o que ela n�o tinha tido. “N�o consegui nem dar conforto para ela”, conta. Leisliene, ent�o, passou a rejeitar a filha, sendo diagnosticada com um quadro de depress�o p�s-parto.

Com a depress�o instalada, e ap�s algumas tentativas de autoexterm�nio, Leisliene precisou ser internada em um hospital psiqui�trico. “Tive dificuldades, e ficava com medo do que iam dizer sobre mim, mas eu precisava desse momento. Minha m�e ficou cuidando da minha filha. A experi�ncia � bem diferente do que todos pensam, n�o h� tortura. H� momentos de surto, � comum, e eu tive os meus tamb�m. Mas tamb�m fiz amizades.”

“Fiquei muito tempo por l�, e sa� achando que estava curada. Mas a verdade � que ainda n�o estava. A princ�pio, precisei morar com a minha m�e para acompanhar a vida da minha filha e conseguir me readaptar � vida e �s atividades normais. Agora, a minha filha � a minha companheira. N�s somos muito amigas, e ela � o meu porto seguro.”

Foi nos corredores e quartos da cl�nica psiqui�trica, h� cerca de 10 anos, que Leisliene adquiriu apre�o pela escrita. Na �poca, ela escrevia cartas para os entes queridos que estavam fora das depend�ncias do hospital. Mas percebeu que as palavras podiam ter ainda mais poder e mudar vidas. “Quero ser mensageira para que as pessoas entendam a import�ncia de falar sobre essa doen�a, tanto que o livro conta a minha experi�ncia, traz estat�sticas, especialistas e relatos de outas pessoas tamb�m.”

Com aux�lio psiqui�trico, psicol�gico e de amigos e familiares, nos �ltimos anos conseguiu, enfim, se dedicar como queria ao relato de uma vida, que come�a com uma carta de suic�dio. “Nos �ltimos dois anos, estive mais centrada, com o tratamento fazendo mais efeito e a minha filha, j� crescida, morando comigo. Tive mais uma experi�ncia que �, depois de todo o tormento de n�o poder ficar com a minha filha, por orienta��o m�dica – ela ficava com a minha m�e –, at� ter esse momento com ela, finalmente.”

Ela relata todo um per�odo de adequa��o, de ter sua casa, a filha junto e voltar a trabalhar. Ent�o, comprou um computador e come�ou a escrever o livro. “E n�o � somente a minha hist�ria. Quem est� do nosso lado tamb�m passa por um processo de adequa��o e faz parte dela.”

 

 

 

*Estagi�ria sob supervis�o da editora Teresa Caram