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Estado de Minas PANDEMIA

�rf�os da COVID-19: luto das crian�as vai muito al�m das estat�sticas

Quase 600 crian�as de at� 6 anos perderam um dos pais para a COVID-19, em Minas; 19 pais morreram antes do nascimento dos filhos


16/10/2021 08:26 - atualizado 16/10/2021 10:34

Matheus, Benjamin e Andressa em um dos aniversários do menino
Maressa tenta manter viva a mem�ria de Matheus para o filho Benjamin, de 4 anos (foto: �lbum de fam�lia )
H� cinco meses, a decora��o da casa da jornalista Maressa Souza, de 39 anos, est� diferente. Desde a morte do marido, em maio deste ano, ela espalhou fotos dele pela casa em Juiz de Fora, na Zona da mata mineira, e trouxe seus instrumentos musicais para a sala. A estrat�gia � para que seu filho, Benjamin, de 4 anos, mantenha viva a mem�ria do pai. 

V�tima da COVID-19 aos 38 anos, Matheus Raimundo de Sousa era fisioterapeuta, m�sico e um pai presente. Benjamin � uma das 579 crian�as mineiras, com at� 6 anos de idade, que ficaram �rf�s de pai ou m�e por causa da pandemia do coronav�rus.  

Em Minas Gerais, de mar�o de 2020 a setembro deste ano, os n�meros obtidos pela Associa��o Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil) mostram que 19 pais faleceram antes do nascimento de seus filhos, n�mero que parece inexpressivo em termos de estat�stica, mas infinito na dor de quem viveu essa realidade. E pior: seis crian�as perderam o pai e a m�e em decorr�ncia do coronav�rus nesses seis meses. 

Os dados foram levantados com base no cruzamento entre os CPFs dos pais nos registros de nascimentos e de �bitos feitos nos 1.463 Cart�rios de Registro Civil do Estado desde 2015, ano em que as unidades passaram a emitir o documento diretamente nas certid�es de nascimento das crian�as rec�m-nascidas no territ�rio estadual.

“Diante de dados t�o relevantes proporcionados pelo portal da transpar�ncia do registro civil, o poder p�blico poder� trabalhar com iniciativas de apoio e prote��o �s crian�as brasileiras �rf�s”, afirma Genilson Gomes, presidente do Sindicato dos Oficiais de Registro Civil das Pessoas Naturais do Estado de Minas Gerais (Recivil), ao destacar que, ter conhecimento dessas informa��es, apesar de lastim�veis, � necess�rio.

Ao tratar da estat�stica nacional, os n�meros s�o ainda mais expressivos. No mesmo per�odo, ao menos 12.211 crian�as, com at� 6 anos, perderam pelo menos um dos pais para a COVID-19. 

De acordo com a pesquisa, 25,6% das crian�as n�o tinham completado um ano. J� 18,2% tinham 1 ano; 18,2%, 2 anos; 14,5%, 3 anos; 11,4%, 4 anos; 7,8% tinham 5 anos; e 2,5%, 6 anos. S�o Paulo, Goi�s, Rio de Janeiro, Cear� e Paran� foram os estados que mais registraram �bitos de pais com filhos nesta faixa et�ria.  

Onde est� meu pai? 


A viv�ncia do luto � um momento sens�vel independentemente da idade. No entanto, para crian�as de at� 5 anos o processo � ainda mais delicado. “At� os 5 anos a crian�a n�o entende que a morte � algo definitivo”, explica Luciana Rocha, psic�loga especialista em luto. 

De acordo com a especialista, somente a partir dos 6 anos que a crian�a entende que eles n�o v�o retornar. “Por isso � importante que se respeite caso a crian�a pergunte mais de uma vez onde est� o pai ou a m�e e que o adulto explique quantas vezes for necess�rio”, enfatiza. 

No caso de Benjamin, que perdeu o pai em maio, psic�logos est�o auxiliando no processo de luto. “Tenho convic��o de que o Benjamin sofreu e est� sofrendo muito com a aus�ncia do pai”, comenta a m�e. Maressa conta que o filho � autista e que j� contava com o apoio de especialistas h� alguns anos.

“A gente foi contando algumas historinhas para fazer entender que ele n�o encontraria mais com pai dele”, completa. 

O pequeno Benjamin ainda chora ao pegar as fotos do pai e, segundo a m�e, a fam�lia ainda n�o conseguiu explicar para ele o contexto da morte. “O momento � de acolhimento e, de alguma maneira, estamos tentando trazer a presen�a do Matheus”, conta. 

A atitude da fam�lia de Benjamin, de acordo com a especialista, � o ideal para o momento. Para Luciana, � importante que a crian�a registre mem�rias sobre o pai ou m�e que partiu e que seja escutada. “� importante n�o desconsiderar que a crian�a faz parte daquele meio que, com a morte, foi alterado subitamente e repentinamente.” 

O processo de luto infantil � sofrido como qualquer outro. “A crian�a precisa ser escutada e, neste momento, buscar apoio � muito importante, e as fam�lias n�o devem ter vergonha disso”, conclui a psic�loga. 

Mem�ria e inf�ncia 


Os traumas sofridos na inf�ncia ficam registrados na mente da crian�a at� os 8 anos de idade, explica a psiquiatra infantil Jaqueline Bifano. A perda de mem�ria tamb�m n�o � incomum nessa faixa et�ria e � essa, justamente, uma das maiores preocupa��es dos pais ou respons�veis: que a crian�a se esque�a do pai ou m�e. 

“Por orienta��o dos especialistas, todas as fotos ainda est�o em casa e pretendo falar muito sobre o pai dele, lidar com isso de uma maneira que traga boas mem�rias para o Benjamin”, fala Maressa. 

A psiquiatra enfatiza que a manuten��o da mem�ria, a partir de coment�rios e lembran�as f�sicas � essencial. “A perda de mem�ria pode, de fato, acontecer. O importante � manter viva de alguma forma a imagem daquele pai ou m�e”, orienta.

Os n�meros


Os dados de nascimentos, casamentos e �bitos est�o dispon�veis no Portal da Transpar�ncia do Registro Civil (https://transparencia.registrocivil.org.br/inicio), base de dados abastecida em tempo real pelos atos registrados nos Cart�rios de Registro Civil do pa�s, administrada pela Arpen-Brasil, cruzados com os dados hist�ricos do estudo Estat�sticas do Registro Civil, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), com base nos dados dos pr�prios cart�rios brasileiros.
 
*Estagi�ria sob supervis�o da editora-assistente Vera Schmitz 
 


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