(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas COMPORTAMENTO

Hobby: fa�a por puro prazer

Escolha um hobby para chamar de seu. Ele proporcionar� n�o s� distra��o, alegria ou divers�o, � um instrumento de cuidado com a sa�de mental


13/02/2022 04:00 - atualizado 14/02/2022 12:02

Edna Fátima Aquino Perpétuo Rapini na sala de casa com seus trabalhos manuais
Edna Perp�tuo Rapini aprendeu os primeiros pontos de bordado quando crian�a, mas s� com a aposentadora conquistou tempo para se dedicar ao hobby (foto: Ramon Lisboa/Em/d.a press)
  Hobby desperta um encantamento, n�o �? Quem descobre o prazer de uma atividade passatempo que o preenche, descobre na verdade mais prazer pela vida. N�o � sobre ganhar dinheiro, transformar em neg�cio. � sobre satisfa��o, felicidade, distra��o, lazer, relaxamento, desligar do mundo ao redor e sonhar acordado.
 
Desde 2020, quando o mundo passou a ser atormentado pela pandemia da COVID-19, e em sua fase mais grave as pessoas foram obrigadas a se isolar socialmente, o hobby ganhou ainda mais espa�o como instrumento para cuidar da sa�de mental e buscar o bem-estar em meio �s transforma��es do dia a dia pelas quais todos passam.

As vacinas chegaram, o medo arrefeceu, a �micron assusta e o surgimento de novas cepas � um fantasma constante. Por isso, o hobby que muitos descobriram no momento mais cr�tico da pandemia segue como companhia nesta fase menos ca�tica . Seja o bordado, a pintura, a tecelagem, a costura, o livro, as quitandas, o desenho... S�o in�meras as possibilidades que jamais se despedem e d�o qualidade ao tempo.
 

O bordado n�o � s� um passatempo, ele me acalma, n�o me deixa pensar em nada ruim, n�o h� espa�o na mente para besteiras, nem para falar mal dos outros. Eu me desligo e entro no meu mundo colorido

Edna F�tima Aquino Perp�tuo Rapini, de 57 anos, administradora de empresa aposentada

Edna F�tima Aquino Perp�tuo Rapini, de 57 anos, administradora de empresa, banc�ria, que se aposentou em 2019, imaginava viver o novo ciclo da vida de uma forma e veio a pandemia.

“Sempre gostei de trabalhos manuais. Mas com filho, casa, pais idosos, trabalho, n�o tinha tempo, s� desejo e vontade. Quando crian�a, nas f�rias, na casa da tia e didinha Maria, como era muito levada, para me aquietar ela me dava linha e agulha, j� que bordava e fazia croch�. Aprendi os primeiros pontos, cresci, veio a vida, o trabalho, a miss�o de ganhar dinheiro, o estudo e meu sonho ficou adormecido. Com a pandemia e a aposentadoria, decidi coloc�-lo em pr�tica.”
  
Cortar panos, segurar a agulha com delicadeza, mergulhar no mundo das linhas, esse tem sido o universo de Edna: “O sonho despertado, sem eu saber, l� com 9, 10 anos � agora minha companhia. Dizem que ao aprender um ponto, voc� faz mil. � o que tenho feito. Quando estou bordando, �s vezes, o marido pergunta algo e nem escuto, n�o respondo, estou contando os pontos. O bordado n�o � s� um passatempo, ele me acalma, n�o me deixa pensar em nada ruim, n�o h� espa�o na mente para besteiras, nem para falar mal dos ou- tros. Eu me desligo e entro no meu mundo colorido”.
 
Edna destaca que, al�m dela, o hobby da m�e Elza, de 81, � a cozinha, onde a distra��o e o prazer est�o nas quitandas, doces, canjica, mingau... “Ela adora cozinhar e oferecer �s pessoas.” Feliz do seu pai, Juvenal, de 89, degustador das guloseimas. “Eu tamb�m sou boa para comer, n�o sou chegada na cozinha.” J� o irm�o, ela conta que tamb�m descobriu um hobby nesta pandemia: “O Eust�quio � professor de matem�tica, al�m de me estimular com o meu hobby – todo lugar em que vai me traz uma linha, passou a fazer p� de moleque e cocada, que virou o seu passatempo. Passou at� a aceitar encomenda e criou um nome: ‘Doce Perp�tuo’”.

BELEZA, COLORIDO E T�CNICA DO PATCHWORK


Bancária aposentada há dois anos, Kátia Ribeiro
K�tia Ribeiro (foto: T�lio Santos/em/d.a press)
J� a t�cnica de unir recortes de tecidos diferentes de forma harm�nica � a paix�o de K�tia Ribeiro, de 57, contadora e banc�ria aposentada h� dois anos. O patchwork � o atual projeto de vida em tempos mais tranquilos, depois de lidar por anos com a efervesc�ncia do mercado financeiro. A rotina de antes s� permitia as caminhadas ecol�gicas para desestressar, seja pela Pico da Bandeira, Serra da Canastra e Serra do Cip�, quando tamb�m nasceu a paix�o pela fotografia da natureza.
 
Mas, desde 2020, a pandemia freou esses seus prazeres. “A caminhada agora � curta, sem tanta companhia; a fotografia, que meu irm�o diz que ‘parece uma pintura’, aguarda uma vida com mais liberdade sem esta pandemia e as viagens, que tamb�m adoro, para montar meus �lbuns impressos, onde escrevo uma legenda para todas as fotos. Esses hobbies est�o em ritmo de espera. Mas logo ap�s a sa�da do banco, comecei a fazer cursos de costura, comprei uma m�quina, me encantei com o patchwork. Sempre sonhei em costurar roupa de cama, colchas, almofadas, acho muito bonito e, agora, n�o consigo parar”, diz.
 

O patchwork � uma companhia, consigo ficar tranquila dentro de casa fazendo o que gosto. Digo que, depois de anos com a carga pesada do trabalho dentro de uma institui��o financeira, o patchwork � meu bilhete premiado. S� penso em costurar

K�tia Ribeiro, de 57 anos, banc�ria aposentada h� dois anos

Depois de cursos de matem�tica financeira e tudo mais que pensar de especializa��o na �rea, K�tia lembra da rea��o espantada do ex-chefe quando soube da sua nova ocupa��o.

“A primeira pe�a que fiz mandei foto para ele, que mora em S�o Paulo. E saiba que patchwork � matem�tica pura, tudo � calculado, como encaixar cada bloco, combina��o de cores, � muito legal. E tudo come�ou com a indica��o de um ateli� por uma amiga, e n�o largo mais. Tenho aula uma vez por semana, � presencial, com todos os cuidados, apenas tr�s pessoas mais a professora, e amo cada descoberta. � minha terapia.”
 
Ela destaca que esse � um encontro gostoso, em que elas brincam, conversam. “Ficamos triste porque perdemos uma amiga querida para a COVID-19, ela e o marido, mas temos de seguir. Sou ligada no 220 volts e o patchwork tem v�rias t�cnicas de costura, n�o � repetitivo, um aprendizado constante, o que p�e minha mente em funcionamento e me desacelera ao mesmo tempo.”

K�tia conta que costura o dia todo, n�o consegue ficar parada. Al�m do patchwork, faz tric�, sapatinhos e roupinhas para crian�as carentes: “Fico dentro de casa fazendo uma coisa e outra, sempre invento algo. E me tornei enlouquecida por panos, e tenho grande ci�mes deles. Tamb�m passei a fazer bolsas, dou de presente depois de postar no meu Instagram com minha marca (@krpatchwork); estou at� vendendo. O patchwork � uma companhia, consigo ficar tranquila dentro de casa fazendo o que gosto. Digo que, depois de anos com a carga pesada do trabalho dentro de uma institui��o financeira, o patchwork � meu bilhete premiado”.

ANTROPOLOGIA E ARQUEOLOGIA

Thales Viana, professor de psicologia
Thales Vianna Coutinho, psic�logo cl�nico e professor de psicologia da Est�cio BH, avisa que o hobby tem uma fun��o terap�utica, mas n�o significa que seja uma terapia, que � algo estruturado, espec�fico e com demonstra��o de efic�cia comprovada (foto: Arquivo Pessoal)
Thales Vianna Coutinho, psic�logo cl�nico e professor de psicologia da Est�cio BH, explica que a antropologia, a arqueologia e a hist�ria demonstram que os homens da caverna, apesar de suas caracter�sticas peculiares, n�o eram necessariamente diferentes de n�s. Ent�o, mesmo n�o conhecendo nenhum estudo que tenha investigado o fen�meno do hobby entre os antigos, � poss�vel inferir que eles tinham tamb�m.
 
“H�, sim, v�rias pesquisas sobre a produ��o art�stica de- les. Resta saber, por�m, se essa produ��o era profissional (havia alguma forma de escambo) ou se era por lazer mesmo, o que caracteriza mais o hobby em si. O hobby tem um papel fundamental na vida das pessoas, inclusive para a sa�de mental. Afinal, nada mais � do que uma atividade feita por prazer, sem necessariamente visar ao lucro. A pessoa at� pode vender, mas, a princ�pio, n�o � o objetivo final. A ideia de fazer algo pelo pr�prio prazer � gratificante e relaxante, o que reverbera numa melhor qualidade de vida.”
 
O psic�logo assegura que o hobby pode ser considerado um investimento experiencial, em que a pessoa investe seus recursos (tempo, e at� mesmo dinheiro) em algo que render� uma experi�ncia positiva. Segundo ele, j� est� bem estabelecido na literatura cient�fica que investir em “experi�ncias” � uma das melhores maneiras de converter gasto (tempo e dinheiro) em felicidade aut�ntica. Al�m disso, obviamente, tamb�m � uma maneira de extravasar o estresse. N�o substitui a psicoterapia, mas ajuda.
 
Thales Vianna explica que o hobby pode ter uma fun��o terap�utica, mas n�o significa que seja uma terapia. Terapia � algo estruturado, espec�fico e com uma demonstra��o de efic�cia comprovada. Algo como “fun��o terap�utica” � tudo aquilo que sabemos que faz bem, mas por meio de evid�ncias aned�ticas (relatos das pessoas), n�o necessariamente experimentais (pesquisa cient�fica).

O hobby entra nessa categoria. Ele � bom, promove a socializa��o, alivia o estresse, ajuda a passar o tempo, estimula a felicidade, mas n�o � a mesma coisa que uma psicoterapia. Ou seja, ele pode fazer voc� ficar mais desinibido, mas n�o tem propriedade para livrar o indiv�duo da depress�o ou da ansiedade.

Para o psic�logo, outro ganho do hobby � que ele contribui com a sa�de mental no sentido de se sentir criativo, se estimular, se sentir desafiado, com vontade de mudan�a, de buscar algo novo e aprender, at� porque o hobby � sempre algo que se escolhe fazer sem compromisso.



receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)