
Eles dominaram a Terra por mais de 160 milh�es de anos, at� ser varridos do planeta h� cerca de 66 milh�es de anos. At� hoje despertando fasc�nio e curiosidade, os dinossauros protagonizam um debate ainda n�o resolvido: o que, afinal, causou a extin��o de um grupo composto por milhares de esp�cies e que ocupou o globo por tanto tempo.? Em estudo publicado na revista Science, pesquisadores sustentam que o evento foi resultado de uma conjun��o de fatores: a queda de um meteoro no Mar do Caribe e a atividade das chamadas Armadilhas Deccan, um dep�sito de vulc�es a meio mundo dali, onde hoje � a �ndia.
Contudo, ao contr�rio do que j� se sugeriu, o trabalho da Universidade de Berkeley, na Calif�rnia, sugere que n�o foram as fortes erup��es de lava que mataram a megafauna pr�-hist�rica. A atividade dos vulc�es, um resultado de superterremotos deflagrados pelo impacto do meteoro, de fato levou � maior destrui��o em massa de que se tem not�cia, destacam os pesquisadores, mas n�o da forma que se imagina. O sistema de data��o utilizado pelos cientistas indicou que, no �pice desse fen�meno, a extin��o j� havia ocorrido. Diferentemente, eles sustentam que o fim da era dos dinossauros est� atrelado �s mudan�as clim�ticas causadas pela emiss�o de gases produzidos no magma subterr�neo, o que independe da eje��o de lava.
As teorias do impacto e da atividade vulc�nica onde hoje � a �ndia v�m sendo propostas h� tempos. Mas, segundo os pesquisadores que publicaram na revista Science, sem o n�vel de precis�o que t�cnicas modernas de data��o agora permitiram fazer. “Mais que lan�ar luz sobre o passado, o estudo nos informa como s�o as respostas da biosfera a mudan�as ambientais dram�ticas e pode ajudar a validar as hip�teses sobre as prov�veis consequ�ncias das mudan�as antropog�nicas que vivenciamos hoje”, observa Seth Burgess, pesquisador do US Geological Survey, que n�o participou do trabalho.
As teorias do impacto de um asteroide ou cometa e do vulcanismo surgiram nas d�cadas de 1980 e 1990, com as descobertas, respectivamente, de n�veis elevados de ir�dio nas camadas de transi��o entre os per�odos Cret�ceo e Paleogeno, indicando a eje��o e o choque de minerais, e de uma cratera de impacto na pen�nsula de Yacut�n, no M�xico. “Apesar dessas evid�ncias, a hip�tese foi alvo de algum ceticismo porque muitos eventos de extin��o, incluindo o da transi��o Cret�ceo/Paleogeno, coincidem com a erup��o de volumes enormes de rocha vulc�nica na crosta terrestre”, continua Burgess.
No estudo da Universidade de Berkeley, os cientistas apresentam uma cronologia dos eventos que coincide com a megaextin��o do fim do per�odo Cret�ceo, o chamado limite K-Pg. A sequ�ncia de vulcanismos de um milh�o de anos cuspiu lava por dist�ncias de pelo menos 500 quil�metros pelo continente indiano, criando os chamados basaltos de inunda��o das Armadilhas Deccan, que, em alguns lugares, t�m quase dois quil�metros de espessura. “Eu diria, com grande confian�a, que as erup��es ocorreram entre 50 mil anos e 30 mil anos depois do impacto, o que significa que os eventos estavam sincronizados dentro de uma margem de erro”, diz Paul Renne, professor na Universidade de Berkeley e autor s�nior do estudo. “Essa � uma valida��o importante da hip�tese de que o impacto de um asteroide ou de um cometa foi seguido por violentas erup��es.”
CHOQUE T�RMICO As novas data��es tamb�m confirmam estimativas anteriores de que os fluxos de lava continuaram por cerca de 1 milh�o de anos, mas trazem uma surpresa: tr�s quartos da lava irromperam ap�s o impacto. Estudos anteriores sugeriram que cerca de 80% do material eclodiu antes do choque. Se esse segundo cen�rio fosse verdadeiro, os gases emitidos durante as erup��es poderiam ter sido a causa do aquecimento global nos �ltimos 400 mil anos do Cret�ceo, quando as temperaturas aumentaram em m�dia 8ºC.
Durante esse per�odo de aquecimento, as esp�cies teriam evolu�do de acordo com as novas condi��es de calor, apenas para serem pegas de surpresa pelo resfriamento global causado pelo impacto ou pelo vulcanismo. Erup��es vulc�nicas produzem muitos gases, como di�xido de carbono e metano, conhecidos por aquecer o planeta. Contudo, outras subst�ncias, como aeross�is sulf�ricos, provocam o efeito contr�rio. O impacto do asteroide pode ter enviado grandes quantidades de poeira para a atmosfera, bloqueando a luz solar e esfriando o globo.
“O frio teria sido um choque do qual a maioria das criaturas nunca teria se recuperado, desaparecendo inteiramente do registro f�ssil: literalmente, uma extin��o em massa”, diz a primeira autora do estudo, Courtney Sprain, pesquisadora de p�s-doutorado da Universidade de Liverpool. “Mas se a maioria das lavas das Armadilhas Deccan surgiram ap�s o impacto, esse cen�rio precisa ser repensado. Isso muda nossa perspectiva sobre o papel delas na extin��o do K-Pg. Ou as erup��es em Deccan n�o desempenharam um papel — o que achamos improv�vel — ou muitos gases que modificam o clima irromperam durante o per�odo de menor volume das erup��es”, diz.
A hip�tese de que gases vulc�nicos que alteram o clima vazam das c�maras de magma subterr�neas com frequ�ncia, e n�o apenas durante as erup��es, � apoiada por evid�ncias de vulc�es atuais, como o Etna, na It�lia, e o Popocatepetl, no M�xico, disseram os pesquisadores. O magma fervente abaixo da superf�cie � conhecido por transmitir gases para a atmosfera, mesmo sem a ocorr�ncia de erup��es. “Estamos sugerindo que � muito prov�vel que muitos dos gases originados dos sistemas de magma precedam as erup��es; eles n�o est�o necessariamente correlacionados com as erup��es”, diz Sprain. No caso da extin��o do K-Pg, os primeiros sinais de mudan�as clim�ticas significativas ocorreram antes do pico do vulcanismo.
Palavra de especialista/Paul Renne - professor na Universidade de Berkeley
Saber crucial
“A extin��o em massa do Cret�ceo � um dos eventos mais conhecidos da hist�ria da Terra. Ela provoca a imagina��o do p�blico como nenhum outro, em parte porque envolveu o fim de uma megafauna particularmente fascinante, os dinossauros, e em parte porque for�a a humanidade a pensar sobre a pr�pria mortalidade. Estamos enfrentando agora o que vem sendo chamado de ‘sexta extin��o em massa’, o que tem sido causado por nossas a��es. Entender eventos de extin��o do passado – suas causas e uma eventual recupera��o do clima e da vida – � crucial, portanto, quando tentamos pensar sobre os muitos resultados poss�veis da nossa atual trajet�ria em dire��o a mudan�as clim�ticas desastrosas, � destrui��o do ecossistema e � poss�vel extin��o em massa.”