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Estado de Minas MIST�RIO

A verdadeira raz�o pela qual as est�tuas do Egito t�m os narizes quebrados

A passagem de milhares de anos torna inevit�vel o desgaste de qualquer obra, mas por que h� tantas est�tuas cuja �nica parte que faltava era o nariz? Elas n�o s�o assim por acaso.


27/04/2021 09:42 - atualizado 27/04/2021 13:05


Pesquisa revelou que a ausência dos narizes, como nesta cabeça de uma estátua de um rei da Trigésima Dinastia (por volta de 370 aC), não era casual(foto: Getty Images)
Pesquisa revelou que a aus�ncia dos narizes, como nesta cabe�a de uma est�tua de um rei da Trig�sima Dinastia (por volta de 370 aC), n�o era casual (foto: Getty Images)

Por v�rias d�cadas, este foi um mist�rio n�o solucionado entre especialistas e entusiastas do Antigo Egito, uma das civiliza��es mais antigas e duradouras do mundo.

� primeira vista, parece algo esperado: a passagem de milhares de anos torna inevit�vel o desgaste de qualquer obra. Mas por que havia tantas est�tuas imaculadas em que a �nica parte que faltava era o nariz?

Talvez porque, afinal, se algo corre o risco de quebrar, � aquela parte proeminente, a mais exposta.

No entanto, se for assim, como explicar que obras de representa��o bidimensional geralmente apresentem os mesmos danos?

O assunto deu origem a suposi��es, incluindo uma hip�tese amarga que continua recorrente, embora tenha sido refutada: a de que teria sido uma tentativa dos colonialistas europeus de apagar as ra�zes africanas dos antigos eg�pcios.

No entanto, especialistas afirmam que essa teoria � infundada, entre outras raz�es porque os narizes n�o s�o a �nica evid�ncia f�sica dessas origens. E eles concordam que, apesar dos muitos horrores do imperialismo, este n�o seria um deles.

Ent�o, o que poderia ter acontecido?

Poderes divinos

A resposta mais confi�vel neste ponto se resume em uma palavra: iconoclastia (do grego Eikonoklasmos, que significa "quebra de imagens").

N�o estamos falando dos seguidores da corrente do s�culo 8 que rejeitaram o culto �s imagens sagradas, destru�ram-nas e perseguiram aqueles que as veneravam. Nesse caso, o termo � usado de forma mais ampla para se referir � cren�a social na import�ncia da destrui��o de �cones e outras imagens ou monumentos, muitas vezes por motivos religiosos ou pol�ticos.

E faz muito sentido quando voc� considera que, para os antigos eg�pcios, as est�tuas eram o ponto de contato entre os seres divinos e os terrenos.


Representações bidimensionais também apresentam o mesmo tipo de danos, como nesta, da 19ª Dinastia, por volta de 1200 a.C., em homenagem ao deus Ptah(foto: Getty Images)
Representa��es bidimensionais tamb�m apresentam o mesmo tipo de danos, como nesta, da 19� Dinastia, por volta de 1200 a.C., em homenagem ao deus Ptah (foto: Getty Images)

Os antigos eg�pcios acreditavam que as imagens poderiam abrigar poder sobrenatural, como explica Edward Bleiberg, o curador s�nior de arte eg�pcia, cl�ssica e do antigo Oriente M�dio do Museu do Brooklyn nos Estados Unidos.

Bleiberg explorou a quest�o motivado pelo fato de que a indaga��o mais comum dos visitantes do museu era "por que seus narizes est�o quebrados?". Ele explica que as palavras "escultura" e "escultor" enfatizam que as imagens est�o vivas.

A palavra "escultura" significa literalmente "algo criado para viver", enquanto um escultor � "algu�m que lhe d� vida".

Objetos que representavam a forma humana, em pedra, metal, madeira, argila ou mesmo cera, podiam ser ocupados por um deus ou um humano que faleceu e se tornou um ser divino, podendo assim atuar no mundo material.

Isto se conta sobre Hathor, a deusa do amor e da fertilidade, em uma inscri��o nas paredes do templo de Dendera, provavelmente constru�do pelo Fara� Pepy I (2310-2260 a.C):

"(…) Voa do c�u para entrar no Horizonte de sua Alma [isto �, seu templo] na Terra, voa em dire��o ao seu corpo, se une � sua forma."

Nesse caso, a deusa imbui uma figura tridimensional, mas no mesmo templo fala-se sobre como Os�ris (um dos deuses mais importantes do Egito Antigo) se funde com uma representa��o em relevo de si mesmo:

"Osiris... vem como um esp�rito ... Ele v� sua forma misteriosa representada em seu lugar, sua figura gravada na parede; entra em sua forma misteriosa, apoia-se em sua imagem."

Uma vez ocupadas, as imagens tinham poderes que podiam ser ativados por meio de rituais. E tamb�m podiam ser desativados por danos deliberados.

Mas por que fazer isso?

Os motivos eram muitos, desde raiva e ressentimento contra os inimigos que queriam ferir neste mundo e no pr�ximo, ao terror da vingan�a do defunto sentido pelos ladr�es de t�mulos, bem como o desejo de reescrever a hist�ria ou sonhos de mudar toda a cultura.


Tutancâmon com a coroa azul (sem nariz), século 14 aC. Tutancâmon reinou entre 1333 e 1323 a.C. e ele era um faraó da 18ª Dinastia do Antigo Egito(foto: Getty Images)
Tutanc�mon com a coroa azul (sem nariz), s�culo 14 aC. Tutanc�mon reinou entre 1333 e 1323 a.C. e ele era um fara� da 18� Dinastia do Antigo Egito (foto: Getty Images)

Quando o pai de Tutanc�mon, Akhenaton, que governou entre 1353-1336 a.C, quis que a religi�o eg�pcia girasse em torno de um deus, Aton, uma divindade solar, ele enfrentou um ser poderoso: o deus Amon.

Sua arma foi a destrui��o de imagens.

A situa��o foi revertida quando Akhenaton morreu e o povo eg�pcio retomou o culto tradicional: templos e monumentos em homenagem a Aton e o falecido Fara� foram, desta vez, os que enfrentaram a destrui��o.

Mas devemos lembrar que n�o eram apenas os deuses que podiam habitar as imagens, mas tamb�m os humanos que tinham morrido e, ap�s a longa e tortuosa jornada at� o Sal�o da Dupla Verdade, demonstrado sua dec�ncia no Julgamento da alma, convertendo-se em seres divinos.

Saber que seus ancestrais continuam a acompanh�-lo apesar da morte pode ser reconfortante... mas tamb�m preocupante, principalmente se voc� for algu�m poderoso e n�o quiser que o passado o ofusque.

E as lutas pelo poder costumam deixar cicatrizes.

Quando Tutem�s III, que governou de 1479 a 1425 a.C, quis ter certeza de que seu filho o sucederia, ele tentou apagar sua antecessora e madrasta Hatshepsut da hist�ria, destruindo a evid�ncia f�sica de sua exist�ncia. E ele quase conseguiu.

Preocupa��o constante

Esses exemplos podem dar a impress�o de que isso s� aconteceu em casos extremos, mas a destrui��o de representa��es de divindades ou humanos era t�o comum que, como documentou o egipt�logo Robert K. Ritner, era uma preocupa��o constante no Egito Antigo.


Estátua egípcia: imagem mostra que falta o nariz(foto: Getty Images)
Est�tua eg�pcia: imagem mostra que falta o nariz (foto: Getty Images)

Entre os v�rios textos que expressam essa preocupa��o est� um decreto real do Primeiro Per�odo Intermedi�rio (cerca de 2130-1980 a.C):

"Quem em toda esta terra fizer algo nocivo ou perverso �s suas est�tuas, lajes, capelas, carpintarias ou monumentos que se encontrem no recinto de algum templo, Minha Majestade n�o permitir� que sua propriedade ou a de seus pais permane�am com eles, ou se junte aos esp�ritos da necr�pole, ou permane�a entre os vivos."

Os ataques contra os t�mulos eram igualmente graves e temidos.

Um homem chamado Wersu de Coptos, que viveu durante a 18ª Dinastia (por volta de 1539-1295 a.C), registrou uma amea�a que dizia:

"Quanto a qualquer um que ataque meu cad�ver na necr�pole, e que tire minha est�tua de meu t�mulo, [o deus do sol] R� o odiar�. Ele n�o ter� �gua do altar de [deus] Os�ris, ele nunca passar� sua propriedade para seus filhos."

E o nariz?

As mutila��es tinham ent�o a inten��o de restringir o poder e isso poderia ser feito de diferentes maneiras.


Nem mesmo a bela Cleópatra (69 a.C-30 a.C) foi poupada(foto: Getty Images)
Nem mesmo a bela Cle�patra (69 a.C-30 a.C) foi poupada (foto: Getty Images)

Se voc� quisesse evitar que os humanos representados fizessem oferendas aos deuses, voc� poderia remover o bra�o que era comumente usado para tal tarefa: o esquerdo.

Se voc� quisesse que o deus n�o os ouvisse, voc� removia as orelhas da divindade.

Se sua inten��o era acabar com todas as possibilidades de comunica��o, separar a cabe�a do corpo era uma boa op��o.

Mas talvez o m�todo mais eficaz e r�pido de realizar seus desejos fosse remover o nariz.

"O nariz era a fonte do f�lego, o f�lego da vida; a maneira mais f�cil de matar o esp�rito interior era sufoc�-lo removendo o nariz", explica Bleiberg.

Alguns golpes de martelo e cinzel e o problema estava resolvido.

O paradoxo, afinal, � que essa compuls�o de destruir as imagens � a prova de como elas foram importantes para aquela grande civiliza��o.


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