Bailarinos do Corpo ensaiam

Bailarinos do Corpo ensaiam na sede da companhia, no Bairro Mangabeiras, em Belo Horizonte

Leandro Couri/EM/D.A Press

Quando os bailarinos do Grupo Corpo pisam no palco, convocam para algo maior. Convidam o espectador a trocar o banal pela transcend�ncia. At� os mais c�ticos chegam ao final das apresenta��es com a certeza de que seres humanos podem ser deuses. No 39º espet�culo da companhia mineira, a conex�o com o divino se faz de maneira expl�cita. Do encontro com o trio Met� Met� nasceu Gira, que estreia em 4 de agosto, em S�o Paulo, e chega a Belo Horizonte em 2 de setembro.

O Corpo imergiu nas tradi��es africanas, que se materializam em encontros em que n�o podem faltar tambor, dan�a, comida e festa. Um dos momentos para religar o humano e o divino, a gira – como se denominam o espa�o e o momento em que as entidades descem para que homens e mulheres se elevem – � uma das principais celebra��es da umbanda. Quem chega ao terreiro aprende que a dan�a � um dos caminhos que levam � transcend�ncia. A partir dela, n�o s� encontramos os orix�s, como nos tornamos parte deles. Com muito respeito, o grupo nos convida a conhecer a riqueza do universo da cultura afro-brasileira.

Se nessa cultura a premissa � o respeito aos mais velhos, a voz de Elza Soares, que canta em dois momentos da trilha, � autoriza��o para seguir, sem medo do que vem pela frente. As composi��es do paulistano Met� Met�, cujo nome em iorub� significa “tr�s ao mesmo tempo”, apresentam Exu, mostrando o quanto ele � energia da cria��o, mensageiro entre c�u e Terra – de certa forma, o senhor do caos no que ele tem de potente e inovador. N�o poderia ser diferente, pois cabe a Exu reger a sexualidade e fazer a media��o entre seres humanos e orix�s.

Grupo Corpo e Met� Met� apresentam forte interpreta��o de Exu, desfazendo quaisquer mal-entendidos que possam associ�-lo ao negativo, a for�as diab�licas. Ju�ara Mar�al (voz), Thiago Fran�a (sax) e Kilo Dinucci (guitarra) trazem sonoridade marcada por instrumentos de sopro, sem deixar de lado as percuss�es que tanto caracterizam os cultos africanos.

Bailarina Dayanne Amaral

Dayanne Amaral: 'Foi o meu primeiro contato com a umbanda. Vi que a Maria Padilha tinha um pouco de mim, uma sensualidade forte. Depois que terminar a turn�, pretendo voltar para agradecer'

Leandro Couri/EM/D.A Press

Os bailarinos mostram que Exu � belo e faceiro – os movimentos d�o pistas das gestualidades dos terreiros, sem ser �bvios. “N�o quer�amos trazer o terreiro para o palco. Ele existe no espa�o dele”, afirma a bailarina Yasmin Almeida, de 24 anos, cinco deles dedicados ao grupo. � dela um dos solos mais emocionantes, incorporando toda a dualidade de Exu. “A gente empresta o corpo para a entidade trabalhar. Voc� � parte dela e ela � parte de voc�”, diz. Yasmin frequenta o candombl� desde os 13 anos, mas nem todos os bailarinos (s�o 21 em cena) tinham familiaridade com esse universo. Para compor o espet�culo, muitos deles foram a espa�os de umbanda, como a Casa do Divino Esp�rito Santo, conduzida pelo pai de santo Marcelo de Oliveira, em BH.

“No solo, apresento uma energia mais masculina. A montagem se torna mais especial quando voc� tem envolvimento direto, quando voc� dan�a sobre o que acredita, o que te rege e te faz andar para a frente”, completa Yasmin.

O core�grafo Rodrigo Pederneiras se aproximou dos terreiros devido ao espet�culo. “Conversei com o Tranca-Ruas, que ficou feliz ao saber que ser� homenageado”, revela, lembrando que h� muita ignor�ncia em rela��o aos cultos afro-brasileiros. Tranca-Ruas, Maria Padilha, Preto Velho e Pombagira s�o algumas das entidades a que o novo espet�culo se refere.

Maria Padilha “Foi o meu primeiro contato com a umbanda. Vi que a Maria Padilha tinha um pouco de mim, uma sensualidade forte. Depois que terminar a turn�, pretendo voltar para agradecer”, diz a bailarina Dayanne Amaral, de 25, respons�vel por um dos solos.

Paulo Pederneiras preparou surpresas como o “n�o cen�rio”, concebido como uma instala��o. Diferentemente de outros espet�culos, em que entre um n�mero e outro os bailarinos v�o para as coxias, desta vez eles ficam todo o tempo no palco. Para demarcar a sa�da de cena haver� um v�u. Os bailarinos estar�o perfilados em cadeiras. Cada um receber� ilumina��o t�nue.

Nos figurinos, Freusa Zechmeister prop�e linguagem n�o demarcada por g�neros: bailarinos e bailarinas aparecem de torso nu e com saias brancas de tecido cru. “A saia � um permissor para que a coreografia possa acontecer. Vi o branco no terreiro e me encantei”, conclui a figurinista.

 



GIRA
Espet�culo do Grupo Corpo. De 4 a 13 de agosto, no Teatro Alfa, em S�o Paulo. De 23 a 27 de agosto, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. De 2 a 6 de setembro, no Pal�cio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro de BH). S�bado, segunda, ter�a e quarta, �s 20h30; domingo �s 19h. Ingressos: R$ 90 (inteira) e R$ 45 (meia-entrada).

 

*Na turn� de Gira, ser� exibido tamb�m o espet�culo Bach (1996), com coreografia de Rodrio Pederneiras e m�sica de Marco Ant�nio Guimar�es (sobre a obra de J.S.Bach)