
A palavra inglesa slam entrou para o vocabul�rio dos jovens das periferias brasileiras. O sentido original � bater, mas ela assumiu outros significados ao ser associada � poesia (poetry slam): espa�o de protagonismo, competi��o entre poetas, lugar de apresenta��o de dilemas do cotidiano das metr�poles, onde ressoam versos de protesto. O Slam Minas foi realizado s�bado (3), no Sesc Palladium, reunindo 16 competidores de todo o estado.
“Oxum, cante em mim/ Para que toda preta que ouvir saiba que estamos aqui/ Aqui/ Somos correnteza forte dessa mata”, entoou Gislaine Reis, de 25 anos. Os versos autorais garantiram � jovem vinda de Ibirit�, na Grande Belo Horizonte, o segundo lugar na disputa estadual. Em dezembro, ela vai representar Minas na competi��o nacional que ser� realizada em S�o Paulo. Quem vencer concorrer� � Copa do Mundo do Slam, em Paris, na Fran�a.
O primeiro lugar ficou com Pi�ta Sousa, do Slam Clube da Luta. “Foi incr�vel, uma experi�ncia transformadora. Foi a realiza��o de um sonho, a reafirma��o do meu potencial”, diz Pi�ta. Para a campe�, poesia significa “a for�a transformadora do pensamento, do comportamento e do futuro da juventude.”
Paralelamente � final do Slam Minas, foi realizada a final nacional do Slam Interescolar, com estudantes de Minas, S�o Paulo e Esp�rito Santo. As eliminat�rias mineiras ocorreram em 40 escolas, em S�o Paulo foram 50, e no Esp�rito Santo, 30. O vencedor foi �caro Renault.
COLETIVO Gislaine Reis come�ou a escrever poesia este ano, incentivada por amigos do coletivo Terra Firme (Fark e K-dabra) e do Slam Trincheira (Jo�o Victor e Leandro Zere). Ela conquistou a vaga para a disputa como representante do Slam das Manas. Na final, recitou quatro poemas autorais que falam do cotidiano a partir da perspectiva de mulher negra. Foram tr�s rodadas regulamentares e outra necess�ria para o desempate entre ela e Pi�ta.
“Minhas poesias tratam do que acontece na periferia. Falo da motiva��o da mulher negra de continuar na luta”, diz Gislaine. � uma forma de dizer coisas que n�o se permitem dizer no dia a dia, explica. “�s vezes, as pessoas n�o querem ouvir o que temos pra falar. A poesia marginal entra para cumprir esse papel: apresentar o grito que tentam silenciar.”
Os versos da mineira remetem ao feminismo negro, trazem elementos das religi�es de matriz africana e denunciam a opress�o sofrida por jovens nas periferias. Por�m, Gislaine n�o se limita a temas. Escreve sobre tudo, inclusive amor. “Sou professora de teatro. H� 10 anos estou nessa �rea. Por�m, a sensa��o de recitar � totalmente diferente. Na poesia, voc� tira todas as m�scaras. � como se estivesse nua, mostrando o seu verdadeiro eu”, afirma.
Idealizador do Clube da Luta, Rog�rio Coelho destaca que slams s�o espa�os da poesia marginal, por excel�ncia. “� a fala de quem est� � margem, nas periferias. Voz de den�ncia social, contra a exclus�o, contra o racismo, o fascismo, o machismo e a LGBTfobia. A voz da afirma��o da identidade de g�nero”, diz.
Na competi��o realizada em BH, o julgamento coube a cinco jurados escolhidos entre o p�blico. A plateia pode se manifestar quando n�o concorda com a nota do j�ri. “Quando o p�blico discorda, ele fala credo. As pessoas se movimentam e protestam, mas � um clima bom”, explica Coelho.
O Slam Clube da Luta � pioneiro em Minas. Criado em 2014, � coordenado por Rog�rio Coelho, do Coletivoz – Sarau de Periferia. Em 2015, Jo�o Paiva, do Bairro Olaria, na regi�o do Barreiro, representou o Clube da Luta na Cope du Monde de Po�si�, em Paris.
Al�m do campo art�stico, integrantes de slams assumem o papel de formadores de jovens, participando de congressos e palestras em faculdades e escolas.